Cinco perguntas para Carlos André Moreira

Jornalista aposta em novo projeto, o canal no YouTube 'Admirável Mundo Livro'

Carlos André Moreira - Fernanda Nasário

1- Quem é você, de onde vem e o que faz?

Sou nascido em São Gabriel, no interior do Rio Grande do Sul. Tenho 46 anos, sou jornalista de formação e ofício, mas também atuo como escritor e tradutor. A maior parte da minha carreira profissional foi desenvolvida como jornalista de redação. Tenho mestrado em Letras e passei os últimos anos ligado à área de Cultura, tanto como repórter quanto como crítico literário. Recentemente, comecei a trabalhar como assessor de imprensa no Ministério Público do Trabalho da 4ª região.

2- O que te fez escolher o jornalismo?

Sempre tive interesse pelo mundo da palavra, mas eu diria que a minha inspiração fundamental foi mesmo a observação cotidiana de meu pai, Carlos Alberto Moreira, radialista em São Gabriel.

3- Como surgiu a ideia do canal no YouTube 'Admirável Mundo Livro' e quais as expectativas até o momento?

O canal surgiu como uma forma de continuar falando de livros e até mesmo resgatar a minha satisfação de fazer isso, uma vez que o espaço dedicado à literatura no Segundo Caderno da Zero Hora, onde eu trabalhava, vinha se reduzindo inapelavelmente pelos novos focos e direcionamentos que o jornal vem tomando. Também tinha curiosidade de me propor o desafio de falar de livros em vídeo, reunindo consistência, informação, humor e apresentando um olhar, se possível, mais aprofundado do que o que se convencionou chamar de 'booktubers' em atividade na plataforma. O primeiro mês de atividade do canal tem sido uma experiência interessante, uma vez que angariamos um público ainda pequeno, mas razoável para a proposta e para o tema. Assim como na mídia tradicional, nas grandes plataformas da rede, a literatura não costuma ser considerada prioridade ou encarada como um investimento que valha a pena, por produzir menos 'clicks' do que os emocionantes relatos sobre as habilidades de manobrista de Caetano Veloso ou o resumo minucioso dos diálogos entre Ana Maria Braga e o Louro José.

4- Você acredita que em alguns anos as pessoas optarão, ou já optam, em acessar uma leitura digital?

Uma pesquisa divulgada faz menos de um mês e encomendada pela Câmara Brasileira do Livro e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros constatou que, embora ainda claramente minoritário, o livro digital representa hoje 4% do mercado de livros no Brasil. Percentual minúsculo, mas que representa um claro crescimento se comparado ao 1,8% de 2016. O livro digital demorou a emplacar porque as próprias editoras demoraram a acordar para seu potencial e o acervo manteve-se reduzido durante um bom tempo - até hoje, muitas editoras não prepararam versões comerciais digitais de seus lançamentos, por exemplo. Hoje, já existem opções para que, em vez de comprar uma edição nova a cada ano em papel, leitores desse tipo de livro técnico baixem atualizações para livros digitais. O fato de que esse tipo de procedimento ainda não se tornou comum talvez tenha muito a ver com um certo conservadorismo do público, por enquanto. Fala-se na mística do "cheiro de papel", mas essas idiossincrasias de leitor mudam de uma geração para outra, e as novas já são habituadas a um mundo com menos papel. Por conveniência, preço e rapidez de acesso, é possível que o livro digital ganhe cada vez mais espaço. 

5- Quais são os seus planos para daqui a cinco anos?

Dado o clima de apocalipse político, intelectual e epidemiológico que estamos vivendo nos últimos anos, estar vivo, trabalhando e discutindo livros, para mim, já vai estar de bom tamanho.

Essa entrevista foi realizada pelos alunos de Estágio I do curso de Jornalismo, do Centro Universitário Metodista IPA. Texto: Mattheus Moraes.

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