Cinco perguntas para Jaqueline Sordi

Jornalista é idealizadora de projeto em parceria com a Agência Lupa

Jaqueline Sordi - Reprodução

1 - Quem é você, de onde vem e o que faz?

Sou uma jornalista e bióloga, praticante de yoga, bailarina, apaixonada por livros e viagens. Nascida em Porto Alegre, já passei temporadas em outros países, como Espanha, Austrália e Estados Unidos. Minha formação é resultado de uma ânsia inesgotável por conhecimento e se deu por diferentes caminhos. Trabalhei como repórter em grandes redes de comunicação, além de participar da produção de uma série de documentários sobre questões ambientais para o canal de TV californiano KCET. Atualmente, além de pesquisadora, sou idealizadora e jornalista responsável pelo Lupa na Ciência, um projeto da Agência Lupa em parceria com o Google News Initiative, que analisa artigos científicos sobre o novo coronavírus para explicar e ampliar o alcance desse tipo de informação ao público em geral. 

2 - Como e por que decidiu ser jornalista?

Não guardo muitas memórias da livraria de meu avô, a Cosmos, um local que se tornou referência para acadêmicos e intelectuais entre as décadas de 1960 e 1990, em Porto Alegre. Mas tenho viva a memória da biblioteca dele, onde eu, com poucos anos de vida, me equilibrava em um banquinho no topo de uma escada para alcançar os livros mais escondidos e empoeirados. Foi lá que encontrei a primeira edição de O Tempo e o Vento. Foi lá, também, que encontrei algo talvez ainda mais valioso: a paixão pelas palavras. Estas, que aos poucos descobri serem também agentes políticos, carregadas de sentidos por vezes múltiplos. Uma vez que o olhar se abre para as possibilidades que o universo das palavras oferece, retornar ao ponto de partida, ou estacionar no meio do caminho, se torna impossível. E foi mergulhada na percepção do dizer como território plural que venho desenvolvendo minha trajetória acadêmica e profissional como jornalista.  

3 - Quais foram seus objetivos com este novo desafio na Agência Lupa? E o que você tem observado ao longo dos últimos meses?

Acredito que compreender a ciência em sua complexidade é uma das chaves na busca por soluções para as principais crises globais. Foi com base nessa ideia que desde cedo busquei unir minhas duas áreas de conhecimento a fim de aproximar a ciência da população. Isso se tornou mais urgente a partir deste ano, com o novo coronavírus e com a desinformação e politização de temas científicos. Ao longo desses meses, percebi que existe uma grande dificuldade de a população entender como se dá o processo de produção científica, quais suas contribuições e limitações. Venho recebendo um retorno muito positivo deste projeto por parte de pessoas de todo o Brasil que reconhecem a importância de trabalhar essas questões com a seriedade e complexidade que merecem.

4- O que motivou você a trabalhar com comunicação ambiental e científica?

Como fiz as duas graduações concomitantemente, observei que existia um grande abismo entre a produção científica e sua divulgação para além do universo acadêmico. Pesquisadores são, desde cedo, incentivados a produzir artigos para publicar em revistas especializadas, o que enriquece seus currículos e o das instituições onde estudam. No entanto, esse tipo de publicação, por ser muito técnica, não alcança o público em geral. Jornalistas, por outro lado, são atropelados pelas rotinas de produção, e por isso acabam se afastando de temas complexos, que demandam tempo, reflexão e aprofundamento. Esse conjunto de circunstâncias prejudica a divulgação científica e afasta o público leigo dos conceitos básicos do fazer científico, dificultando a própria compreensão do que uma pesquisa científica significa e do seu papel na compreensão do mundo.  

5 - Quais são os seus planos para daqui a cinco anos?

Os últimos meses nos mostraram que fazer planos para o amanhã já é complicado, quem dirá para daqui a cinco anos. Pretendo manter alguns projetos de longo prazo que venho desenvolvendo já há alguns anos e que se referem a uma evolução intelectual e espiritual por meio da leitura, prática de yoga e aprofundamento nas relações com pessoas de diferentes áreas. Certamente, seguirei produzindo conteúdo, contando boas histórias (algumas nem tanto) e promovendo uma aproximação cada vez maior da ciência com a comunidade. Afinal, nunca podemos esquecer que as dimensões individual e coletiva da nossa existência são inseparáveis.

Essa entrevista foi realizada pelos alunos de Estágio I do curso de Jornalismo, do Centro Universitário Metodista IPA.

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