Diversidade e Comunicação: Bárbara Fabres e o liderar feminino
Gerente-executiva do Grupo RBS, ela conversou com Luan Pires
Bárbara Fabres é gerente-executiva de Comunicação do Grupo RBS e, mais do que isso, assume a vontade de fazer a diferença para o maior número de pessoas possível. Com uma trajetória múltipla, ela reflete sobre o papel da liderança feminina e como o mercado de Comunicação enxerga homens e mulheres principalmente em cargos de gestão.
Antes de mais nada, como é a sua trajetória no Grupo RBS?
Eu lidero toda a frente de Comunicação e Eventos da empresa. Trabalho há 15 anos, então, tenho uma boa trajetória nesse que é o principal grupo de Comunicação do Sul do País. É uma empresa e uma carreira muito dinâmica. Se transforma muito rápido, então atribuo muito meu longo tempo de casa à flexibilidade frente aos inúmeros desafios que só uma empresa diversa em todos os sentidos pode te exigir.
E como foi se tornar uma líder em uma empresa com tantas identidades diversas?
Senti uma pressão por ser mulher e muito jovem. Ainda mais em um ambiente que há 15 anos era muito mais masculino e contava com pessoas de idade mais avançada e, como toda cultura que precisa ser adaptada conforme o tempo e as necessidades, naquela época a horizontalidade era menor. Então, sim, foi uma série de desafios por ser jovem e mulher naquela época. Olhando mais para o contexto de diversidade de gênero ou mesmo de idade, o Grupo RBS se tornou mais igual, ou pautado na equidade, no sentido de abraçar as complexidades de cada um ao longo do tempo. E isso norteia muito o meu trabalho, também. Eu sei que não é o padrão, mas aqui na empresa temos um quadro funcional relativamente equilibrado entre homens e mulheres, o que traz outras camadas de diversidades e acaba construindo um ambiente diverso em todas as suas intersecções.
Pode contar mais como é importante ter essa diversidade entre homens e mulheres na empresa?
Eu me orgulho muito de olhar o nosso comitê executivo e ver que entre as principais lideranças da empresa há 60% de mulheres. O que hoje é difícil e também uma conquista inédita de certa forma. A nossa equipe de Marketing tem quase 80% de mulheres, então é maravilhoso e uma realização pessoal para quem se preocupa com camadas diversas interagindo e dando suas opiniões. Claro que mesmo em um grupo mais feminino, o que não falta são opiniões diferentes, e que bom! A gente cria dinâmicas e encontros para conciliar isso. Por outro lado, todo questionamento sempre deve ser levantado. Conversando com pessoas da área de Marketing e de Comunicação vemos que a maioria é composta por mulheres, como um padrão. Então, tem um viés inconsciente aí a ser acolhido nesse cálculo matemático que é a diversidade.
Por que você acha que isso acontece?
Acho que um pouco sobre a natureza dos cursos de formação que levam a profissão. Acho que há uma expectativa de expertise ditas "feminina" necessária para as áreas, mas isso acaba excluindo potenciais novos e até criando as mesmas fórmulas. Com certeza é um ponto de atenção. Essas características são femininas ou são formadas por mulheres porque é esperado isso delas? Dá muito debate isso e estamos em tempos de repensar essas coisas.
E sobre diferentes gerações interagindo?
No meu ambiente de trabalho tem bastante diversidade. Tem a Geração Z chegando no mercado com uma bagagem de Comunicação totalmente diferente do que estamos acostumados. E é bom porque uma geração tira a outra da zona de conforto. Funciona para os dois lados, mais velhos com mais novos e vice-versa. Os mais jovens tem muita criatividade e flexibilidade e até desapego com coisas que não fazem mais sentido para eles. Por outro lado, essas mesmas características em excesso podem fazer mal na trajetória. Então, acho que é um aprender com o outro a dosar e se equilibrar. Todo ambiente é um grande desafio, né? Para um gestor lidar com todas essas diferenças exige um certo posicionamento.
Muitas mulheres quando chegam a cargos de liderança e gestão acabam performando uma identidade masculina, né?
Sim, a mulher gestora é cobrada e vista de uma maneira que tem a ver com o que falamos lá sobre o que é esperado de acordo com idade e gênero, principalmente. Mas vou ser bem sincera, eu tenho a sorte de não perceber tanta diferença ou estereótipo nesse sentido. Mas, eu sei que existe. Não dá para negar que quando um gestor homem se posiciona isso é visto com um peso diferente do que se fosse uma mulher. Eu, por exemplo, tenho um perfil mais pragmático, mais prático, mas assertivo e objetivo, então até às vezes em comparação a homens eu, uma cobrança minha comigo mesma, me sinto um pouco mais diretiva.
E a importância da representatividade feminina como gestora?
Eu acho muito enriquecedor ver cada vez mais mulheres ocupando cargos de gestão e liderança. Tendo essa experiência e privilégio de gestora na empresa, sei que tenho a responsabilidade de impactar outras pessoas e ser inspiração. Isso é uma responsabilidade e uma alegria muito grande. Além disso, me sinto reenergizada nesse momento com uma responsabilidade ainda maior e muito mais atenta ao dia a dia e na forma de trabalhar para entregar o real desenvolvimento de pessoas.
O que é diversidade e inclusão para você?
É ser aliado a uma visão sem barreiras olhando para o interior de cada um para perceber sua mais pura identidade. Eu acho que é muito importante ainda mais no mundo de hoje, né? Acho que diversidade gera empresas melhores e sociedades melhores.
Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as semanas, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Bárbara Fabres, clique aqui..