Diversidade e Comunicação: Karen Garcia de Farias e o envelhecimento

Articulista do dia em Coletiva.net, comunicadora conversou com Luan Pires

Karen Garcia de Farias publicou artigo em Coletiva.net - Arquivo pessoal

Karen Garcia de Farias tem 56 anos e além de ser membro suplente do comitê do Selo Diversidade do Estado de São Paulo, embaixadora do Movimento Lab60+, criadora de conteúdo na área do envelhecimento, é uma pessoa com uma didática incrível e um jeito muito orgânico de olhar a vida.

Como despertou essa questão de olhar de forma específica para questões como envelhecimento e longevidade?

Por volta dos meus 40 anos, a minha mãe começou a ter problemas de saúde e nós, irmãos, começamos a cuidá-la. Ao final, descobrimos que ela estava com um câncer e isso me fez tomar consciência da questão da velhice. Eu pensava: "Minha mãe envelheceu e eu vou envelhecer!". E com isso outros diálogos internos surgiram: "Eu vou ser igual a minha mãe? Velhice é doença? É esse meu destino?" Então eu comecei a estudar a respeito do envelhecimento, da longevidade e a me conhecer. 

Então foi algo que começou cedo?

Na verdade, eu comecei tarde. Porque o interessante é que quando a gente fala de envelhecimento, a gente precisa entender que ele acontece durante toda a vida. Desde que a gente nasce. A questão é que vivemos numa sociedade que quer nos fazer acreditar que a juventude é interna e que o nosso ideal é manter essa juventude pro resto da vida. E isso não é realidade, afinal as pessoas envelhecem e está tudo certo com isso, é o curso da vida e cada uma passa por isso de acordo com sua história.

E a questão da diversidade pode entrar nesse ponto, correto?

Exato. Existe uma diversidade de velhices. Não existe um padrão, eu não posso comparar uma mulher negra que mora numa periferia e que trabalhou como faxineira a vida inteira comigo, mulher branca, classe média, que trabalhou no computador sempre. Quando a gente fala de velhice hoje em dia, estamos falando de uma velhice branca e de classe média. É uma velhice de elite. E isso está errado porque deixa de ver as diferentes aplicações da velhice e a diversidade das pessoas.

E sobre a representação da velhice na Comunicação?

Olha, eu, pessoa da Comunicação, sou frontalmente crítica a algumas convenções: por exemplo, quando falam sobre moda 60+. Quem é "60+" não quer ser posto em caixinha! Você já viu falar em moda 20+ ou 30+? Não existe. As pessoas se vestem de acordo com seus estilos e personalidades. 

Acho que isso fala muito dessa tendência que faz todo o sentido de parar de olhar as pessoas demograficamente, mas olhar de maneira comportamental. 

Com certeza, isso ajuda a quebrar paradigmas. E aí entra a questão do idadismo. Na medida que a gente se entende e aceita o envelhecimento, conseguimos evitar o autoidadismo. Inclusive, a educação para o envelhecimento é uma das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar o idadismo. É um fator social que atinge como a gente pensa e sente a respeito das outras pessoas e de nós mesmos em tudo que se refere a idade, não é só contra a pessoa idosa. Por que eu estou falando da importância de entender o envelhecimento em todas as idades na gente e nos outros? Porque impacta nossa percepção em muitas coisas. Se eu achar que todo velho é ranzinza, quando eu for velho, eu vou me achar ranzinza. Vou me condicionar ao papel que projetei ou projetaram de clichê de idade. 

E como combatemos o idadismo no mercado de Comunicação? Porta a dentro?

Eu acho que deve começar esse ensinamento desde a educação básica: instituir conteúdos sobre o envelhecimento. Quanto mais cedo a gente conversa sobre envelhecimento, mais a gente encara ele com naturalidade. A mesma coisa numa empresa. Precisamos falar sobre o assunto. Outra ação é criar a convivência e a troca entre diferentes gerações. Outra forma é criar políticas como programas de inclusão e ações internas das empresas, que venham de cima para baixo. Ainda acrescentaria olhar a transversalidade da pauta. O que eu quero dizer com isso é que o idadismo piora a situação de muitos grupos já minorizados. Uma mulher velha pode sofrer mais que um homem velho. A mulher negra e velha mais que a mulher branca e velha. O gay velho que precisa voltar pro armário na velhice para ser aceito pela família caso precise de cuidados... É algo com muitas camadas.

E o que é diversidade para ti?

Posso responder o que é inclusão? Porque inclusão, para mim, é uma palavra mais de ação, de prática, de colocar no mundo. Por isso que, para mim, inclusão é agir, é colocar o amor em ação.


Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as semanas, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Karen Garcia de Farias, clique aqui.

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