Diversidade e Comunicação: Laura Glüer e o ensinar aprendendo
Jornalista, que assina artigo em Coletiva.net, conversou com Luan Pires nesta sexta-feira
Laura Glüer é jornalista formada pela Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) nos anos 90, especialista em Comunicação Organizacional e mestre e doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Entre outras coisas, ela é daquelas que entra no mar e deixa as águas a levarem. Mas, sabe para onde está indo e se prepara para o caminho. É com essa metáfora que ela dá o tom da entrevista, ao mesmo tempo em que ensina seus alunos, admite aprender muito com eles. A diversidade de estudantes fora de sua bolha mudou seu olhar para sempre e, agora, mais do que nunca, ela está comprometida em estourar todas as bolhas necessárias para termos um complexo mundo cada vez mais unido e atualizado.
Como você vê o cenário da diversidade e inclusão durante a sua vida pessoal e profissional?
Do ponto de vista teórico, o assunto veio mais latente nos últimos anos. Esse é o motivo pelo qual estou buscando estudar mais sobre esse tema. Mas, as coisas sempre chegaram de uma maneira bem orgânica na minha vida. Eu entrei no mercado de trabalho muito jovem, provavelmente passei por episódios de assédio, mas a gente naturalizava aquilo porque não se discutia o tema. Eu comecei a trabalhar nos anos 90, algumas coisas eram mais aceitas, mas já era uma mulher desbravando um ambiente que muitas vezes era masculino. Já a questão de outras formas de diversidade, eu comecei a perceber em sala de aula em que eu tinha alunos muito diferentes, com necessidades especiais e de diferentes orientações. Contextualizando, acho que o Prouni cumpriu um papel importante, já que quando comecei a dar aula foi bem no auge do programa e comecei a ter turmas cheias e diversas e isso começou a me mostrar de fato o que é a sociedade brasileira.
Foi um sair da bolha total?
Exato. Vi gente que não tinha acesso, que era a primeira pessoa da família a fazer faculdade. Isso tudo foi uma grande escola pra mim já que naquele momento eu estava começando a minha vida como docente? Mas, ter entrado nesse cenário me forçou a olhar o mundo de outra forma, a sair do meu quadradinho e perceber que havia muitas outras realidades. Me fez questionar o quanto eu tinha sido privilegiada, por ser branca, por ter estudado em um colégio particular, entrar em uma universidade federal? Mas, sabe, é mais do que acesso. Percebi o que é inclusão: é conseguir fazer com que todos os alunos tivessem as mesmas oportunidades já dentro do ambiente acadêmico. Não adianta só inserir o aluno e não considerar que ele precisa do dinheiro para o xerox. Esse tipo de situação foi a sala de aula que me fez perceber.
Quando você teve a oportunidade de ver esse cenário, você olhou pra trás e ressignificou alguma coisa?
Eu acho que principalmente o fato da minha situação privilegiada. Isso ressignificou o jeito de olhar toda a minha história e entender o meu compromisso em ajudar e aprender com esses alunos. Vi que poder ajudar na formação de outras pessoas, para que elas corressem atrás dos seus sonhos, era algo que eu queria muito fazer.
Como você aplica todos esses aprendizados com seus alunos na vida pessoal?
Faz eu ficar mais antenada e oxigenar mais as minhas percepções, levando debates pra casa. Mesmo que minha filha esteja na área da saúde, a gente troca sobre olhar a profissão fora da caixinha, a questão da multidisciplinaridade e ela me ensina muitas coisas também. Quando eu fiquei fora da sala de aula da graduação, foi um período de sofrimento pra mim. Aqui na ESPM eu estou muito feliz porque é na base da graduação que a gente entende melhor o que está acontecendo. É como uma escola pra mim. Falo isso muito pro meu namorado, de aprender com novas formas de ver o mundo. Eu me sinto rejuvenescendo toda vez que eu tenho esses contatos em sala de aula.
O que acha que vem pela frente sobre diversidade, equidade e inclusão? Como as empresas vão trabalhar sobre isso?
Eu acho que vão ser temas mais presentes. A sociedade está mais atenta. É um caminho sem volta.O cenário vai nos conduzir sobre o olhar cuidadoso sobre esses temas e como combater preconceitos? Algumas empresas vão fazer isso meio a fórceps, lamentavelmente. As empresas que estiverem mais abertas vão se sair melhor. Aquelas que forem resistentes serão empurradas. A questão é que tu pode deixar o mar te levar ou surfar com ele. Se a água está te levando a um curso, precisamos nos moldar de uma forma racional e com reflexão durante o curso e seguir firmes.
O que é diversidade e inclusão para você?
Eu vou me lembrar do Edgar Morin, que disse uma frase que trago muito em aula: as partes estão no todo e o todo estão nas partes. Tem muito a ver com isso. Vivemos numa complexidade que é tecida junta. Eu não posso pensar em sociedade sem pensar nessas diferentes pessoas juntas. Eu preciso pensar nessa teia unida e não fragmentada. Diversidade e inclusão é construir essa rede, essa teia, esse mundo complexo, permitindo assim que essa complexidade aconteça.
Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as semanas, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Laura Grüer, clique aqui.