Boletim mensal da ARI denuncia aumento de ataques a jornalistas

Tambor da Aldeia de janeiro traz casos no Brasil e no mundo

Sede da ARI - Reprodução

Entre os destaques da edição de janeiro do Tambor da Aldeia - informativo da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) - está que a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em seu relatório anual, denuncia que os ataques contra veículos de comunicação e jornalistas no Brasil aumentaram 54% em 2019, em relação ao ano anterior. Segundo a entidade, foram registradas 208 ocorrências em 2019 - no ano anterior, foram 135. O relatório deste ano agrupou as ocorrências em dez categorias: assassinatos; agressões verbais; ameaças e intimidações; agressões físicas; censuras; cerceamento à liberdade de imprensa por meios judiciais; impedimentos ao exercício profissional; injúria racial; violência contra organização sindical; e descredibilização da imprensa.

No Rio Grande do Sul, o boletim da ARI destaca que o jornalista e blogueiro Políbio Braga se livrou de indenizar o ex-governador e ex-ministro da Justiça Tarso Genro, por decisão da Turma Recursal Criminal, dos Juizados Especiais Criminais do RS (JECrim), que manteve sentença que rejeitou queixa-crime movida pelo político. Tarso não gostou das críticas disparadas pelo Blog do Políbio. No depoimento, o ex-ministro imputou ao blogueiro os crimes de difamação e injúria. A decisão recursal decorreu do fato, no entendimento da Turma, que a Constituição Federal dá ao jornalista o direito de criticar qualquer pessoa, mesmo que em tom áspero, contundente, sarcástico, irônico ou irreverente, especialmente se for político ou autoridade do Estado. O relator da apelação-crime, juiz Edson Jorge Cechet, lembrou que o blog publica matérias jornalísticas de cunho político e que todo político é alvo de constantes críticas. 

O Tambor da Aldeia explicita que, em São Paulo, o fotógrafo Rodrigo Zaim Pereira foi preso ao registrar imagens da manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus e trens, ocorrida em 7 de janeiro. O ato terminou na estação de metrô Trianon-Masp com cerca de 30 pessoas presas para averiguação, incluindo o profissional. Dois dias após, a PM impediu o trabalho de jornalistas quando estes registravam agressões aos manifestantes do Movimento Passe-Livre (MPL), com agressões físicas, detenções e revistas, corporal e de suas mochilas, em busca de "ilícitos".

No Rio de Janeiro, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, diretor do The Intercept Brasil, foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por envolvimento com os "hackers" que invadiram telefones celulares de autoridades públicas. Segundo a acusação, ele teria orientado os criminosos a apagar parte do conteúdo vazado para a publicação de reportagens. Greenwald não foi investigado ou indiciado, mas segundo o MPF, ficou comprovado que ele ajudou o grupo na invasão de celulares. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) condenaram a decisão do MPF. Os ministros do STF Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello e diversas personalidades também demonstraram inconformismo com a medida. 

Além disso, o informativo destaca que o presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou em 6 de janeiro que os jornalistas são uma "espécie em extinção"; que o jornalista alemão Thomas Jacobi, da rádio Deutsche Welle e correspondente francês do diário La Croix, foi atacado em 21 de janeiro por ativistas de extrema direita enquanto cobria uma manifestação anti-imigração na Praça Syntagma, no centro de Atenas. Ele recebeu socos no rosto por vários minutos, antes de conseguir escapar, com a ajuda de jornalistas que também estavam no local. Já em Camarões, o jornalista Amadou Vamoulké, ex-diretor da CRTV Rádio, que foi preso provisoriamente há três anos e meio, está tentando permissão judicial para realizar um tratamento médico. Dois neurologistas atestaram que, aos 69 anos, Vamoulké corre o risco de perder os movimentos dos membros inferiores.

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