Diversidade e Comunicação: Michel Couto se sente em casa na periferia

Autor de artigo publicado nesta sexta-feira em Coletiva.net, o diretor da agência Formô conversou com Luan Pires

Michel Couto é diretor da agência Formô - Crédito: Arquivo pessoal

Michel Couto é o responsável pela agência Formô. Com trabalhos direcionados para a comunidade do Morro da Cruz, ele amplia seu foco para mostrar a importância de qualificar espaços periféricos, mostrando como é possível criar profissionais qualificados nas agências e ter possibilidades de crescimento ali mesmo, na periferia. 

Michel, o que é diversidade na Comunicação para ti?

Diversidade na Comunicação é conseguir me enxergar. Ver pessoas como eu na Propaganda, no Atendimento, como um CEO... Precisamos nos permitir e permitir ver o outro. Diversidade é querer dividir esse pedaço, querer que o outro experimente, que o outro consiga, é potencializar pessoas periféricas a cargos melhores. É ter respeito em lugares que antes você não tinha. 

Me conta um pouco sobre o teu trabalho com a Formô.

A Formô funciona desde 2018 com a ideia de ser um berço de estagiários de Comunicação. O que quero é mostrar como as agências podem colocar seus trabalhadores em ambientes que não estão acostumadas a ir, e que isso pode influenciar a criatividade. Porque, o que acontece é que as pessoas vão para os mesmos lugares, têm as mesmas inspirações, e querem pensar fora da caixa. Quero mostrar que não precisa viajar para Nova York ou Alemanha para ter bons resultados. Aqui, na comunidade, têm vários. Queremos criar um local de inovação, estimular o criativo por meio de olhares periféricos. A inovação muda o ecossistema de qualquer comunidade. Temos alguns projetos nesse sentido em desenvolvimento, então, aguardem novidades.

Qual seu sentimento em relação a ocupação de cargos por minorias?

Dói ver que as vagas estão lá, mas os negros não conseguem ocupar. Por isso,  queremos ser a ponte entre a comunidade e a Comunicação. O documentário que fizemos tem uma frase que me impacta: "Aqui é onde eu me sinto em casa". Então, criar ambientes onde os negros não sejam mais um, mas que se sintam em casa, seja aqui dentro ou fora, é o caminho. Eu quero que minha filha viva aqui, se ela quiser, e que possa desenvolver suas potencialidades aqui dentro. Não dá para todo mundo fugir das periferias. Temos que vivê-las e transformá-las. 

E o que outras agências podem fazer?

Existem bolhas. Temos que parar de tentar achar um culpado. Já vimos como chegamos até aqui, agora, vamos pensar no que podemos fazer juntos para criar um novo caminho e até levar isso para os clientes. Precisamos criar pólos para afirmar e inspirar essa galera, para que cheguem mais fortes em outros lugares. Eles precisam parar de achar que serão sempre meros auxiliares. Precisam se achar diretores de agência, ou desejarem criar sua própria agência, com suas pautas e ideias. 

A solução seria trabalhar juntos, então?

Isso, devemos cocriar. Vamos pegar um pouco daquela grana e investir nas comunidades. Precisamos investir, para não ser apenas uma ideia que fica parada no meio do caminho. Como podemos cocriar e repensar territórios? Falar para os meus clientes: 'Você não vende lá no Morro da Cruz? Então, vamos pensar algo nessa linha'. Vamos ter, por exemplo, a primeira Oktoberfest aqui no Morro da Cruz, com mais de cinco cervejarias artesanais, shows e atividades para crianças, queremos trazer o movimento pra cá e não só levar pessoas para o outro lado.

Fazer juntos é a grande sacada, deixar de desdobrar para esses públicos periféricos para pensar neles.

Exato. É um público que consome, vive, pensa, sonha e quer chegar lá. Precisamos dar a opção de ele chegar lá, mas aqui dentro, sem ter que sair, ou onde ele quiser.


Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as sextas-feiras, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Michel Couto, clique aqui.

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