Jornalista Gilson Camargo deixa Sinpro/RS e jornal Extra Classe após 20 anos
Profissional passará a se dedicar em tempo integral à Carta Editora, empresa que mantém em parceria com Dominga Menezes desde 2003
Depois de duas décadas de atuação, o jornalista Gilson Camargo se despediu da assessoria de Comunicação do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) e da redação do jornal da entidade, o Extra Classe, onde era editor-executivo e repórter. Em conversa com a reportagem de Coletiva.net, ele explicou que a decisão por se despedir ocorreu, principalmente, devido ao aumento das demandas da Carta Editora, que mantém em parceria com a também jornalista Dominga Menezes desde 2003.
A empresa é especializada em Jornalismo Literário, Direitos Humanos, movimentos sociais e Educação e, segundo o jornalista, ganhou maior projeção devido aos lançamentos recentes. Trata-se de obras que apostam na "preservação da memória histórica, narrativas sobre Direitos Humanos, democratização do acesso à informação e literatura periférica". "A dedicação à editora também implica em desacelerar. Sou filho de operários, trabalho desde a infância, vou fazer 63, quero ver o que tem do outro lado da esteira", acrescentou.
Gilson avaliou a experiência no Sinpro/RS e no Extra Classe como de aprendizado e amadurecimento contínuos. "Lembrando que, nesse período, ao jornal impresso se somaram os portais do Extra Classe e o do próprio Sindicato, entraram as redes sociais e com elas novas - e infinitas - ferramentas e demandas para quem lida com informação", pontuou. O jornalista sente que teve sorte por trabalhar por 20 anos em um projeto que foi se aprimorando e contou com orçamento, planejamento e valorização por parte da entidade: "Isso, no mundo da Comunicação, é raro".
Enriquecimento pessoal e profissional
Para ele, a agenda da publicação está diretamente conectada aos princípios do Jornalismo, por ser mantida por uma organização que atua na perspectiva de "Sindicato Cidadão", ao representar os professores do ensino privado, e também defende a democracia, os Direitos Humanos, os movimentos sociais, o meio ambiente e a cidadania. "O jornal se manteve como alternativa de trabalho para jornalistas durante esses quase 30 anos, sendo ainda um dos raros, senão o único veículo a remunerar os freelancers pela tabela do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors)", argumentou.
Quando assumiu o desafio no Extra Classe, Gilson deixou o Correio do Povo e o Jornalismo diário. "E creio que foi a experiência mais consistente, de fato, nesses mais de 35 anos de profissão", acrescentou. Foi pela publicação que conquistou 10 premiações de Jornalismo. "Para além de questões de vaidade e de mérito, acho que os prêmios dizem muito sobre investimento e condições que o jornal te dá para produzir boas reportagens", afirmou. Ele definiu o veículo como uma escola de Jornalismo e um case de imprensa livre e independente "que rompeu as barreiras do Jornalismo sindical".
"O jornal já nasceu ganhando prêmios de jornalismo e teve entre seus maiores apoiadores e colaboradores o escritor Luis Fernando Verissimo, falecido em 30 de agosto de 2025, que escreveu a crônica da primeira edição e muitas outras e franqueou seus textos até bem recentemente", comentou. Outros profissionais que, para ele, também enriqueceram o Extra Classe foram o historiador Barbosa Lessa, o jornalista Marco Weissheimer e o professor Gabriel Grabowski.
O fazer jornalístico no contexto sindical
Gilson esteve no front no momento em que, segundo ele, a atividade sindical recebeu mais ataques do que nunca: o período pós-reforma trabalhista, que ele descreveu como uma tentativa de "asfixiar financeiramente as entidades e desvalorizar o papel dos sindicatos na sociedade". "A reforma requentou, com a força dos lobbies no Congresso Nacional, aquela manjada retórica neoliberal de sempre contra a organização dos trabalhadores, a pretexto de emplacar o 'empreendedorismo', em nome da 'resiliência', entre outros eufemismos repetidos à exaustão, pela grande imprensa inclusive", comentou.
Segundo o jornalista, as grandes redações têm na sua pauta a negação da importância que os sindicatos têm na defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores. Gilson afirmou que, com o contexto de precarização e as mudanças nas relações de trabalho, novas respostas são exigidas por parte dos sindicatos, o que requer um projeto sólido de Comunicação. "Enfim, é uma nova realidade que está em movimento e que requer mais autonomia e posicionamento político a quem atua na Comunicação Social das entidades", pontuou.
Novo foco
A Carta Editora conquistou, recentemente, dois prêmios de Direitos Humanos. Em 2024, Gilson e a sócia, Dominga Menezes, foram autores de 'Invisíveis - O lugar de indígenas e negros na história da imigração alemã', enquanto neste ano foram consagrados pelo trabalho na edição de 'Crianças e Exílio - Memórias de infâncias marcadas pela ditadura militar'. Este último receberá em 10 de dezembro o primeiro lugar na modalidade especial 'O passado que não passa', do '42º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo'. Segundo o jornalista, a editora tem uma demanda pela ampliação da abordagem aos temas que pautaram as obras premiadas.
Contudo, outros livros, como algumas reedições e continuações, também estão no horizonte. "Deve sair o terceiro volume da trilogia 'Círculo de Sangue', um thriller policial e de suspense ambientado nos pampas, do jornalista Tom Belmonte", adiantou. Já está em captação pela Lei Rouanet o 'Atlas Socioambiental de Viamão' e a intenção da editora é investir em livros-reportagens como 'Dyonelio Machado - O alienista do Cati com tinta de jornal nos dedos', do jornalista José Weis. "São ao menos cinco projetos em andamento, além de livros corporativos, infantis, um projeto de curadoria para autores periféricos e participação em editais", concluiu.
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