Enchentes no RS: "Foi a maior e a mais impactante da profissão", diz Fabiano Conte

Com 30 anos de carreira, jornalista readaptou a rotina para se dedicar intensamente à cobertura, assim como o colega do Grupo a Hora Mateus Camargo de Souza

13/09/2023 16:59
Enchentes no RS: "Foi a maior e a mais impactante da profissão", diz Fabiano Conte /Crédito: Arquivo Pessoal

?Tenho 30 anos de Jornalismo e muitos deles cobrindo cheias. Esta foi a maior e a mais impactante da profissão?, relatou o jornalista e radialista do Grupo A Hora, Fabiano Conte. Desde 4 de setembro, ele e os colegas, como o repórter multímidia Mateus Camargo de Souza, dedicam-se intensamente à cobertura das enchentes no Rio Grande do Sul, em especial, no Vale do Taquari. Os comunicadores e o diretor da empresa, Fernando Weiss, conversaram com o Coletiva.net sobre o trabalho. A narrativa de hoje integra o especial do portal, com depoimentos de quem noticia o desastre.

Âncora na webrádio, Fabiano explicou que o veículo está atento desde o final de semana, quando começaram as chuvas torrenciais. Na segunda de manhã, com a subida do nível do rio, foi montado um plano de atuação. Desde às 12h desse dia, há programação especial ao vivo, com alguns da equipe trabalhando de 12 a 14 horas diárias. Dessa forma, ele tem se dedicado mais ao Jornalismo do que à vida em casa e, também por isso, acredita que fica difícil separar o lado pessoal do profissional. ?Em muitos momentos a voz ficou embargada e a emoção tomou conta. Não tem como ficar sem se comover nestes momentos.? 

Muitas entrevistas foram impressionantes, de prefeito, defesa civil e especialmente das pessoas atingidas, mas uma que ele destaca foi a de um senhor relatando a perda da esposa. Para o comunicador, a ação da mídia está sendo fundamental, em especial o rádio, que exerceu um trabalho essencial. ?Sem internet, luz e telefone, pelo veículo as pessoas ficaram sabendo da elevação do nível do rio e como se proteger.?

Mateus também destaca o meio com um papel de serviço à população, que teve nele, em muitos momentos, a única forma de comunicação. ?Nisso, a imprensa regional, principalmente, prestou uma contribuição sem precedentes. Infelizmente perdemos muitas vidas, mas a informação precisa salvou tantas outras?, acredita. Entre os relatos marcantes, as falas do prefeito, ainda na segunda-feira, pedindo para rezarem por Muçum e dizendo que a cidade antes conhecida não existia mais, o marcaram. 

Dessa forma, ele confessou, não foram poucos os momentos em que não segurou o choro. ?Neste domingo, quando uma pessoa me parou em Roca Sales agradecendo pelo trabalho do A Hora, que ajudamos muitas pessoas, não contive as lágrimas?, exemplificou. Uma família reconhecendo o corpo de uma das vítimas também foi difícil de assistir. O repórter avaliou que essa é uma situação totalmente ?fora da curva?. ?Diferente de qualquer uma que a região já havia vivenciado. Não tem uma pessoa que não conheça alguém que tenha sido afetado pela cheia.?

Residente de Lajeado, um dos municípios atingidos, além de circular pela cidade, Mateus também esteve em Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Encantado e Roca Sales. O trabalho intenso exigiu uma mudança nas tarefas diárias, pois desde segunda tem atuado todos os dias, algumas vezes, em três turnos. ?Pela gravidade da situação, estamos todos mobilizados o tempo que for necessário. Creio que ainda teremos muitos desdobramentos ao longo das próximas semanas e meses?. Para ele, o assunto 'tragédia no Vale do Taquari' dominará as manchetes por muito tempo e será permanente, apesar de diminuir a intensidade.

Cobertura total

Para esse trabalho especial, o jornalista, comunicador e diretor de Mercado e Estratégia do Grupo, Fernando Weiss, explicou que todas as plataformas - rádio, jornais, portal e redes sociais - foram integradas. Dessa forma, o conglomerado midiático transmite, simultaneamente, em tempo real a partir da central em Lajeado e das unidades avançadas em Encantado e Estrela, além de realizar o trabalho de campo. A grade de programação sofreu alteração completa. Nos primeiros três dias foram 24 horas de transmissão direta, depois a jornada começou a ser das 5h às 22h. ?Os jornais A Hora e NG fazem edições especiais e temáticas acerca do episódio?, adicionou. 

Para tanto, mais de 60 profissionais foram mobilizados. Para o gestor, além de servir como única forma de comunicação, quando as outras não funcionaram mais, a imprensa teve o papel de ser porta-voz da tragédia, impactar o mundo com os relatos e as imagens, que acabaram contribuindo na comoção e, consequentemente, na solidariedade verificada aos municípios atingidos. ?Por vários momentos, fizemos o serviço da Defesa Civil em termos de informações. Relatos de ouvintes e internautas agradecem o tempo todo pelo nosso trabalho que na opinião deles 'salvou vidas', concluiu.

Na última semana, o Rio Grande do Sul foi atingido por um ciclone extratropical, que resultou em enchentes em diversas localidades. Desde então, a imprensa gaúcha trabalha para levar ao público informações sobre os acontecimentos, além de mobilizar uma corrente do bem para ajudar as famílias afetadas, especialmente no Vale do Taquari. Nesta série especial, Coletiva.net acompanha o trabalho dos jornalistas que mostram ao Estado e ao Brasil a dimensão desta tragédia.

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