Enchentes no RS: profissionais do Grupo Record relatam esforços na cobertura

Camila Pessoa e Felipe Faleiro, do Correio do Povo, e Daiane Dalle Tese, da Record TV RS, visitaram as regiões afetadas

Repórteres Camila Pessoa e Felipe Faleiro, do CP, e Daiane Dalle Tese, da Record TV RS - Arquivo pessoal

Entre os conglomerados de mídia que acompanham os efeitos das cheias que atingiram o Rio Grande do Sul, após a passagem do ciclone extratropical na última semana, está o Grupo Record RS. Em conversa com a reportagem de Coletiva.net, Camila Pessoa e Felipe Faleiro, do Correio do Povo, e Daiane Dalle Tese, da Record TV RS, compartilharam suas experiências em visitar as áreas afetadas pelas enchentes. "Desde que pisei pela primeira vez na região, não consegui colocar a cabeça no travesseiro em paz", relatou Daiane.

Camila, por sua vez, é jornalista diplomada há um ano e essa cobertura já é definida por ela como a mais difícil da carreira. "Não tem uma rotina. Você chega e as coisas já estão acontecendo", explicou ela, que passou pelas cidades de Encantado, Estrela, Lajeado, Muçum e Roca Sales. Felipe, que esteve nas mesmas localidades e também fez entradas na rádio Guaíba, considera que a atuação da reportagem está "equilibrada". "Conseguimos dar espaço para o lado humano, contando as histórias e não apenas relatando os fatos", justificou. O repórter também admira o trabalho dos colegas de outros veículos: "Nessa hora não tem concorrência".

Jonathas Costa, gerente de Jornalismo do Correio do Povo, explicou à reportagem que foi montado um sistema integrado para trocas de informações, monitoramento e produção de conteúdo, com foco multiplataforma, que abrange o site, as redes sociais e o impresso. Com a rede de correspondentes na Fronteira e na Região Sul também mobilizada, são 27 profissionais envolvidos diretamente e mais 25 na retaguarda, além do apoio técnico da MetSul. "Toda a estrutura segue em funcionamento, sem prazo para ser desfeita", salientou o gestor.

Na Record TV RS, diferentes equipes também já se deslocaram até as cidades afetadas. Atuando na cobertura desde quarta-feira passada, 6, Daiane Dalle Tese contou que já presenciou muitas tragédias, conversou com pessoas que perderam alguém ou tudo que tinham, mas que nunca viveu nada tão intenso. "Os moradores vagavam, sem rumo, por Roca Sales. Quando a gente parava para perguntar o que precisavam, diziam que queriam água para beber", comentou.

Lições de empatia

É por isso que Camila considera importante ter uma abordagem mais humana possível. "Muitas pessoas ainda não se deram conta do que está acontecendo. Elas estão tão envolvidas em conseguir sobreviver que a ficha não caiu. Então, quando você vai, como repórter, conversar sobre o que aconteceu, são momentos de emoção", contou. Por isso, ela acredita que o melhor é deixar o "lado humano falar mais alto". "O fato de você compartilhar daquela dor, ter empatia e se deixar ser afetado, faz com que você consiga descrever melhor e impactar mais os leitores", pontuou.

Daiane considera que todos os profissionais, seja da imprensa ou voluntários, que estiveram nas cidades atingidas voltaram diferentes. "A sensação é que uma bomba atingiu a região e nos faltam palavras para consolar quem perdeu tudo", citou. Felipe também acha difícil não se deixar levar pelos depoimentos. "São pessoas humildes, que tudo que tinham foi riscado do mapa e, às vezes, o jornalista, por estar na linha de frente, torna-se um psicólogo, tem que confortar", explicou.

O repórter do Correio do Povo recordou uma experiência vivenciada junto ao fotógrafo Ricardo Giusti em Estrela, na terça-feira, 5, quando a cidade acabou se partindo em "três ilhas". Em uma delas estava o Colégio Santo Antônio, com 50 crianças aguardando para ir embora, e na outra margem ficava o Hospital de Estrela, onde ele precisava chegar de barco. "Vimos o transporte dos bebês do berçário. Foi chocante ver os pais com os bebezinhos sendo transportados de um lado para o outro. As criancinhas não entendiam nada. Onde antes se via rua, era só água", relatou.

Daiane também destacou o momento de uma família que a abalou. "A filha encontrou um chaveiro no meio da lama e disse à mãe para usarem na porta de casa. Ela pensou um pouco e lembrou que a família não tinha mais casa, estavam dormindo embaixo de uma lona em Arroio do Meio", relatou. Na sequência, contou a repórter, a mãe pediu que a filha guardasse o enfeite, que um dia seria pendurado na porta. A jornalista espera reencontrar essa família algum dia.

Na pele

Para além de ouvir e relatar as histórias, Felipe, Ricardo e o motorista Anderson Diniz sentiram na pele a experiência de estarem ilhados. Na terça-feira, 5, os três conseguiram chegar até Estrela, porém, na hora de voltar para a Capital, não havia mais como sair. Foi então que o repórter entrou em ação e intensificou a produção de conteúdo sobre o município, ouvindo a população e as autoridades. "Foi uma experiência que modificou várias visões, que representa o que é o Jornalismo", resumiu.


Na última semana, o Rio Grande do Sul foi atingido por um ciclone extratropical, que resultou em enchentes em diversas localidades. Desde então, a imprensa gaúcha trabalha para levar ao público informações sobre os acontecimentos, além de mobilizar uma corrente do bem para ajudar as famílias afetadas, especialmente no Vale do Taquari. Nesta série especial, Coletiva.net acompanha o trabalho dos jornalistas que mostram ao Estado e ao Brasil a dimensão desta tragédia.

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