Andressa Martins: Liderança de tradição e inovação
CEO do Festival Mundial de Publicidade de Gramado, a jornalista consolidou o evento como um espaço de inclusão e diversidade
Empresária, líder, mãe. A convergência dessas três faces de Andressa Martins carrega a essência de uma história que mistura tradição e inovação. CEO do Festival Mundial de Publicidade de Gramado há dois anos, ela traz um olhar apurado para reunir as tendências que conectam profissionais da Comunicação. Como liderança, a jornalista inspira mudanças positivas e fomenta o sucesso de outras mulheres. E, por fim, é na maternidade que ela encontra o equilíbrio, provando que valores familiares e profissionais podem (e devem) caminhar juntos.
É por isso que, hoje, acima da empresária e da líder, a maior definição de Andressa é ser mãe. "A maternidade me ajudou muito na liderança e a liderança me ajudou muito na maternidade", defende. Para ela, o nascimento da filha trouxe novas perspectivas para a atuação à frente de projetos - como o próprio Festival - e no comando de equipes. Como alguém que anseia pela liderança e por ver as iniciativas fluindo, congregar essas habilidades é unir o útil ao agradável.
E todo o mercado da Comunicação já testemunha esse sucesso. A atuação de Andressa no Festival consolidou o tradicional evento em um espaço de inclusão, diversidade e disrupção. "Não enxergo como um negócio, mas, sim, como um propósito de levar para as pessoas o pertencimento. Pois isso é algo que sempre foi muito forte para mim, a ideia de pertencer, de ser ouvida", destaca. Para a jornalista, o evento é um dos poucos que são inclusivos por propósito e não por exigência.
Raiz nos bastidores
Mas para transformar o Festival de Publicidade naquilo que ele é hoje, vários desafios precisaram ser superados. Para isso, a experiência de bastidores de Andressa foi fundamental. Envolvida desde os 13 anos com o evento, a jornalista, que é sobrinha do fundador, João Firme, iniciou a trajetória justamente pela porta de entrada - sendo responsável por entregar as credenciais aos participantes.
Por conta disso, as principais lembranças da infância estão atreladas à realização. "Era o momento de estar com a família, pois envolvia meu pai, minha mãe, meus tios e meus primos. Apesar de ser trabalho, era a ocasião em que a gente acabava se encontrando", relata. Além disso, para ela, a convivência com João Firme era muito marcante. "Sempre achei muito engraçado estar com ele. Ele tinha muitas ideias e não media esforços para realizar", revela.
Andressa colaborou em diversos setores, incluindo na definição da programação, nas relações internacionais e na Direção de Operações. No entanto, sentia que faltava a possibilidade de ter uma voz mais forte. "Sempre fui muito questionadora, mas as ordens vinham de cima", explica. Por exemplo, enquanto a jornalista já havia começado a estudar sobre Marketing Digital e os impactos das redes sociais - de onde já vinha a maior parte do público do evento -, a organização ainda investia em publicações e anúncios em revistas como Caras e Veja.
Assumindo o bastão
Portanto, assumir como CEO trouxe uma boa dose de desafios. Além dos percalços da própria liderança e de realizar um evento na pandemia, Andressa precisou lidar com o "elefante branco" que o Festival havia se tornado. Naquele momento, a última edição realizada na Serra havia ocorrido em 2017, com um evento extra feito em Paris em 2018. "O Seu João estava cuidando de tudo sozinho, mas já com uma idade avançada", explica.
Como Andressa havia se mudado para os Estados Unidos, mais demandas eram centralizadas pelo tio, embora João preferisse desse modo. Contudo, durante a pandemia, a família intercedeu para que o idealizador do Festival preservasse mais a própria saúde. Segundo a jornalista, havia negociações para que entidades assumissem o evento. No entanto, em uma conversa com os familiares, a decisão foi por fazer a transição de comando para a empresária.
Contudo, em meio a tantos eventos on-line, era preciso transformar o Festival em algo diferente. "Começamos a desenhar em 2021 para executarmos em 2022", afirma. Uma das preocupações era não perder a essência do evento, no entanto, Andressa sabia que sem inovação, não seria possível sair do lugar: "Esse foi o principal desafio". É por isso que o resultado atingido na edição de retomada foi de enorme satisfação para a jornalista. "O evento estava no chão. Eu levantei ele e trouxe comigo muitos parceiros. Inclusive novos parceiros, pois os antigos não quiseram colaborar muito", conta.
Outro ponto importante para Andressa é o retorno recebido dos convidados e participantes do Festival. A empresária, que considera a sinceridade como sua maior qualidade - embora também possa ser o seu maior defeito -, aprecia muito os feedbacks. "Não recebemos tantas críticas, são mais elogios. Acho que, como ficamos muito tempo fora, as pessoas gostaram da retomada", avalia. No entanto, a jornalista enxerga as críticas como uma oportunidade: "Queremos sempre melhorar".
Comunicação no DNA
Pode ser difícil de acreditar, mas a família de Andressa tentou convencê-la a não seguir pela Comunicação. Nascida em Porto Alegre, em 18 de março de 1982, ela é filha de Edson e Sônia e irmã de Jerry e Roberto. O pai era representante comercial, enquanto a mãe, publicitária, dedicou mais de 40 anos ao Sindicato das Agências de Propaganda do Rio Grande do Sul. Devido às sugestões dos familiares para se formar em outra área, a empresária prestou vestibular para Veterinária e Desenho Industrial.
No entanto, o DNA falou mais alto: "Era o que eu sabia fazer". Em 1999, ingressou na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) para estudar Jornalismo com a expectativa de, no futuro, também cursar Publicidade. Durante a graduação, ainda foi diretora de uma atração sobre Saúde, veiculada na Band RS. "Enquanto meus colegas estavam aprendendo, eu já estava executando", destaca. O diploma foi conquistado em 2004, mas, longe de ser uma pessoa acomodada, ela seguiu sua especialização: "Sou uma lifelong learner".
Entre 2005 e 2007, concluiu uma pós-graduação em Comunicação com o Mercado na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), por onde também realizou um MBA Executivo em Marketing e um MBA em Marketing Digital. Para ampliar o repertório, participou de cursos sobre Cultura, Liderança, Atendimento e Qualidade nos Serviços pelo Seeds Of Dreams Institute e pelo Disney Institute, além de integrar a Wish Academy Disrupt Trip, um programa do Vale do Silício sobre Pensamento Exponencial, Realidade Virtual, Inovação, Big Data e Branding.
Andressa ainda é diretora na Latin American Association of Advertising (Alap), entidade que fomenta o contato entre agências e profissionais da Comunicação da América Latina. Além disso, é membro-fundadora do movimento Rise and Raise Others (antigo Uma Sobe e Puxa a Outra), grupo de executivas, empreendedoras, cientistas, jornalistas e celebridades que incentiva mulheres a ocuparem seus espaços no mercado. Junto a outras integrantes, a empresária assina um best-seller - com o mesmo nome da iniciativa -, lançado no South by Southwest (SXSW) de 2023.
Para além do Festival
Atualmente, Andressa mora nos Estados Unidos. Embora as visitas ao Brasil sejam frequentes, tanto para visitar a família quanto para trabalhar, é na América do Norte que ela constrói a vida ao lado de Roberta. As duas se conheceram no réveillon de 2018, quando a esposa, que já vivia fora do Brasil, voltou ao País de férias. Após um ano de namoro, ela deixou a terra natal para viver junto da companheira, com quem tem uma filha, Helena, de um ano e dez meses. Após o nascimento, a mãe da jornalista também se mudou para estar junto da filha e da neta.
Andressa, que sempre desejou ser mãe, garante que a chegada de Helena - que, na verdade, é Helena Maria, em devoção à Nossa Senhora - foi uma realização e um milagre. Inicialmente grávida de gêmeos, ela acabou perdendo o menino, mas dar a luz à filha trouxe uma sensação de preenchimento. É por isso que os momentos de folga são, na maioria, dedicados à família. "No tempo livre, temos ido à Disney. Sempre fui apaixonada pelo parque e acho que a Helena puxou isso de mim. Apesar de ter um ano e 10 meses, ela aproveita bastante", explica.
Antes do nascimento da filha, a jornalista e a esposa haviam descoberto um hobby na prática do beach tennis. "Já estávamos indo para campeonatos em dupla, mas com a gravidez eu parei, e na sequência também veio o Festival, então minha dedicação mudou", ressalta. Apesar dessa pausa na prática esportiva, o futebol segue fazendo parte da vida da família, visto que a esposa foi jogadora, com uma passagem pela Seleção Brasileira. O time do coração de Andressa é o Grêmio, e Helena também já ganhou sua primeira camiseta do tricolor.
Além do futebol, a programação infantil ainda ocupa boa parte do tempo de Andressa em frente às telas. Apesar da preferência pelos documentários, a rotina acaba não deixando muito tempo para assistir a muitos programas. "Faço questão de ter algumas responsabilidades com a Helena, como a hora do banho e a hora de dormir, então acabo não conseguindo. Só quando estou no avião para assistir um filme inteiro", destaca. A maternidade também virou um de seus interesses quanto o assunto é Literatura, além dos livros técnicos e sobre negócios. Já em relação à música, a jornalista se considera eclética: "Vou em todos os tipos de shows".
O hoje e o amanhã
Como o Festival é uma realização bienal, Andressa tem a possibilidade de se dedicar a diferentes atividades no intervalo entre uma edição e outra. A empresa Just Grass, no setor de grama artificial, é uma dessas iniciativas. "Virar empreendedora nos Estados Unidos me abriu várias portas. Recebo muitos convites para palestras e eventos para motivar as mulheres a empreenderem", explica. O negócio, que já tem uma filial, surgiu durante a quarentena, pois os estadunidenses começaram a investir mais em suas casas. "É uma área diferente, mas poder empreender nos Estados Unidos é um marco para mim", afirma.
Apesar disso, Andressa não se vê fora do Festival: "É o que eu sei fazer e é o que fiz a vida inteira". Ela, que já recebeu convites para levar o evento para outros lugares e direções, tem como bandeira o compromisso de não deixar com que a realização perca a essência e o propósito de dar voz e espaço para pessoas e marcas. "Minha família me ensinou muito sobre o valor da humildade e sobre se doar. Então o que eu sempre falo para todo mundo é: cada um dá o que tem. Para eu poder dar algo melhor, eu preciso ser melhor", pontua. E enquanto carrega a responsabilidade dessa missão, ela também não deixa de projetar o futuro: "Acho que daqui a 10 anos vou estar preparando a Helena para o Festival".