Eduardo Gabardo: Jornalismo por convicção

Com um extenso currículo, o jornalista acredita que nada acontece sem trabalhar muito

Em tempos de entrevistas virtuais, o local escolhido para bater um papo não poderia ser mais representativo e repleto de simbologia. Foi diretamente de uma das cabines de gravação de áudio da Rádio Gaúcha que o jornalista Eduardo Gabardo contou um pouco sobre sua longa história com a Comunicação. Ainda se recuperando de uma forte gripe, que trouxe do Catar, onde cobriu a Copa do Mundo, o repórter completou 20 anos de casa em 2022.

A escolha pela profissão aconteceu ainda na infância. Aos 11 anos, já se imaginava trabalhando no rádio e com futebol, já que sempre foi apaixonado por ambos. "A escolha foi muito natural. Em momento algum tive dúvida ou plano B. Sempre estive convicto da minha decisão", ressalta. Formado pela Famecos, se viu aberto a um universo de possibilidades e garante que encararia qualquer desafio que aparecesse. 

No entanto, o destino se encarregou de confirmar que o menino do passado estava certo. Logo no segundo semestre da faculdade, acabou fisgado pelas ondas sonoras e pelo mundo da bola. Foi na Rádio ABC, do Grupo Editorial Sinos, que, com apenas 18 anos, deu os primeiros passos para se tornar um dos profissionais mais reconhecidos e respeitados do jornalismo Esportivo do Estado.

A essa conquista, credita não somente o esforço e a dedicação ao ofício, mas igualmente aos profissionais com quem teve - e ainda tem - a oportunidade de trabalhar. Gabardo diz que o que mais lhe marcou no início da carreira foi a forma como sempre foi recebido por figuras emblemáticas. Como destaque, fala da relação com o comandante do Sala de Redação, Pedro Ernesto Denardin. "É fantástico estar ao lado de alguém que muito admirei enquanto ouvinte", comenta. 

Cita igualmente nomes como Antônio Carlos Macedo, Silvio Benfica, Sérgio Boaz e José Alberto Andrade, que tanto o ensinaram durante a caminhada. "Sempre há o risco de nos decepcionarmos com pessoas que admiramos, mas comigo foi o contrário. Fiquei positivamente muito impactado", completa. Ainda antes de fincar o pé no Grupo RBS, também teve passagens pela Rádio e TV Bandeirantes e Rádio e TV Guaíba.

O homem das Copas

É com orgulho que lembra a primeira convocação para cobrir uma Copa do Mundo. Foi em 2010, na África do Sul, que conquistou um grande sonho. "Mesmo com certo tempo de carreira, senti que essa oportunidade era a chance de alçar novos voos", salienta. Para o repórter, estar entre os selecionados para um evento como esse é "o ápice na vida de um jornalista esportivo".

Daí em diante, passou a ser titular absoluto da Seleção da RBS, a ponto de encarar um imenso desafio na Copa realizada no Brasil, em 2014. Com o objetivo de acompanhar de perto a preparação do torneio, foi transferido para o Rio de Janeiro. Durante quase dois anos, foi o correspondente pela emissora aqui no Estado e em Santa Catarina, produzindo, igualmente, material para todos os veículos do Grupo. "Foi um momento muito marcante e inesquecível. Mergulhei de cabeça na cobertura", afirma.

Fazer parte dessas oportunidades também rendeu ao jornalista estar em lugares que jamais imaginou visitar. Entre eles, cita Libreville, no Gabão; Omã, no Oriente Médio; Emirados Árabes, Catar e Porto Príncipe, no Haiti. Neste, aliás, viveu momentos de muita tensão, já que o país passava por uma intervenção militar. "Estava acompanhando a Seleção Brasileira e, por vezes, tive que colocar colete à prova de balas. Era muito impactante caminhar ao lado de soldados carregando fuzis e metralhadoras", recorda.  

Além disso, já esteve em todos os países da América do Sul, inclusive, mais de uma vez em cada. Mas o mundo da bola não rendeu somente o acúmulo de cultura. Vencedor do Prêmio ARI de Jornalismo por 13 vezes, tem entre eles um case que ganhou repercussão nacional. Em parceria com o jornalista Rodrigo Oliveira, produziu uma série de reportagens intitulada 'Os Coronéis do Futebol'. Veiculado em 2015, o material foi utilizado pela CPI Máfia do Futebol, e ambos ainda foram convidados a participar para dar detalhes sobre as informações apuradas. 

Outro momento marcante envolvendo as Copas em nada teve relação com a disputa mundial. Foi em 2007, depois da cobertura da Copa América. Após o término do evento, partiu rumo a Porto Alegre em 15 de julho e, devido às escalas, viajou por dois dias até desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Quando estava prestes a entrar no avião para voltar para casa, recebeu uma ligação informando sobre o desastre do voo 3054 da TAM, que partiu de Porto Alegre para São Paulo, no Aeroporto de Congonhas. 

Sem dormir há 48 horas, somente com a roupa do corpo e o celular, foi para o local em busca de informações. Caminhando de um lado para o outro no aeroporto, o jornalista permaneceu no ar 24 horas direto. "As coletivas eram dadas a cada 30 minutos em frente ao posto onde ocorreu o acidente. Uma hora, começou a chover, então a cada intervalo ia no banheiro, tirava a camisa e tentava secar um pouco utilizando aquele secador de mão", lembra. Para o jornalista, além de exigir muito do psicológico, era preciso encontrar a melhor forma de informar os ouvintes. "Achar o tom certo para falar de uma tragédia como essa exigiu muito de mim", completa.       

Um lado azul e outro vermelho

Quem também costuma fazer o coração bater mais forte é a dupla Grenal. Lá se vão inúmeros Campeonatos Gaúcho, Brasileiro, Copas Libertadores da América e, claro, os Grenais. Aliás, o primeiro foi, de cara, uma final de Gauchão, no saudoso Estádio Olímpico. "Confesso que não lembro o placar", admite. Pode deixar que a gente ajuda: o Tricolor se consagrou campeão com o resultado de 2 x 1. Ainda no início da carreira, Gabardo destaca que, na época, apenas acompanhava as torcidas do lado de fora dos estádios; contudo, a emoção foi genuína. "Só de estar ali foi incrível, pois era algo que sempre me imaginava fazendo quando era criança."

Entre as boas lembranças com o lado azul, está a primeira cobertura internacional da carreira. Em 1996, pela Rádio Bandeirantes, acompanhou o Grêmio em duas partidas realizadas no Peru, contra os times do Alianza Lima e Club Sporting Cristal. Um enorme desafio, visto que era o único repórter. Já do lado vermelho, considera a conquista da Libertadores de 2006 a cobertura mais marcante do Sport Club Internacional.  

Apesar de não participar mais tanto das transmissões do Campeonato Gaúcho, confessa que ainda se encanta, pois acredita que é uma forma de cultivar as tradições. Mais do que os jogos, o que lhe chama atenção é a atmosfera promovida pelos torcedores do interior. "O carinho que a gente recebe é de emocionar. Fila de pessoas querendo tirar foto contigo é, de fato, muito impressionante", afirma.

Fontes são tudo

A seriedade e a dedicação ao trabalho são os fatores responsáveis por construir junto às fontes um forte elo de confiança. Atualmente, conta com cerca de 30 nomes, com quem mantém contato semanalmente. Todos os dias, seleciona alguns para fazer o que chama de 'ronda diária'. Gabardo revela que nem sempre liga para pedir informações, mas também conversar sobre assuntos gerais. "A relação com a fonte vai além de pedir. É necessário ser próximo. Contudo, é preciso mostrar que sou jornalista e por isso vou tratar a informação de maneira séria e honesta", salienta.

A credibilidade é tamanha que, em 2018, seu nome foi parar no cenário esportivo do Brasil. Na ocasião, havia a especulação que o técnico Renato Portaluppi não renovaria o contrato com o Grêmio para fechar com o Flamengo. Três dias antes da divulgação oficial da notícia, a imprensa nacional cravou que o comandante tricolor mudaria de endereço. No entanto, Gabardo afirmou que Renato ficaria.

Bastou para ter seu nome e rosto estampados em grandes veículos como ESPN e SportTV. "Pra ter uma noção, nem mesmo os dirigentes do Grêmio sabiam que ele ficaria no clube, pois recebi a informação minutos antes de ele entrar na reunião", revela.

Um cara de família

Nascido em Porto Alegre, Gabardo é filho de Orestes e Inara, ambos aposentados. Com a irmã Patrícia, que é procuradora da Fazenda, viveu uma infância tranquila no bairro Petrópolis. Ao final das aulas no Colégio Santa Inês, retornava para casa e rapidamente almoçava, pois ia encontrar os amigos para jogar futebol. Hábito que precisou abandonar já adulto, após passar por uma cirurgia no joelho. 

Casado com a também jornalista da Rádio Gaúcha Kelly Matos, espera ansioso pela chegada do primeiro filho, o Gabriel. Apesar de sempre ter desejado ser pai, em alguns momentos chegou a se questionar em função da idade. "Sei que hoje essa discussão não vale nada, mas estou com 47 anos e, por vezes, me perguntei se já não estava passando da época. Hoje, entendo que é a hora certa", revela. 

O jornalista também reflete sobre como o processo da gestação foi longo e dolorido, já que o casal passou por duas perdas gestacionais. "Foi fantástico o dia que recebemos a notícia que estava tudo bem com o Gabriel. A partir daí, passei a cuidar ainda mais da Kelly", fala, com alegria. Aliás, esse cuidado não é de hoje. Antes mesmo de ficarem juntos, Gabardo confessa que sempre a admirou e acreditava que um dia ficariam juntos. "Ainda bem que aconteceu!", diz, aliviado.

Muito parceiros, compartilham de vários gostos, entre eles viajar. Juntos, já foram para França, Holanda, Nova Iorque, fora São Paulo e Rio de Janeiro. As preferências também comportam as belezas próximas. "Gostamos demais de passear pelo interior do Estado e, em 2021, fizemos uma viagem de carro pelo Uruguai", relata. A paixão em comum se estende também a curtir a casa, recém-reformada. É lá que reúnem as famílias para um bom churrasco e que desfrutam de uma ilustre companhia: a Nina.

Adotada na pandemia, a vira-lata é a alegria do lar. "A Nina estava em um lar temporário, mas como estava com dificuldade de se adaptar, uma amiga da Kelly pediu ajuda para encontrar um adotante. Foi aí que ela veio me mostrar a foto. Pronto, foi o que bastou", lembra. De forma muito serena, finaliza dizendo que se considera um homem de hábitos simples. "Tenho uma verdadeira obsessão por cuidar das pessoas que me rodeiam. De ser fiel à família e aos amigos. Como profissional, sou um cara muito dedicado, em constante desenvolvimento e que acredita que nada acontece sem trabalhar muito."

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