Ellen Appel: Telemaníaca
Gerente-executiva da RBS TV é uma apaixonada por televisão e sempre soube que gostaria de trabalhar nos bastidores da telinha
Em setembro de 1950 nascia, de fato, a televisão brasileira. A data marcou a inauguração do meio de comunicação no Brasil. Na época, talvez não se imaginasse a dimensão que a telinha teria, tampouco a grande evolução tecnológica e de formato pela qual passou. Contudo, mesmo com tantas mudanças desde a época de Assis Chateaubriand, há quem prefira a boa e tradicional TV aberta, mesmo diante das mais diferentes opções proporcionadas por streamings e canais fechados. Esse é o caso de Ellen Appel - nascida exatamente 9.049 dias depois da transmissão do 'TV na Taba', da TV Tupi, considerado o primeiro programa veiculado no País.
Filha do jornalista Roberto Appel, ela cresceu no meio do mundo jornalístico. Exatamente por isso não tinha como fugir do caminho que já estava há muito tempo traçado. Embora tenha cogitado prestar vestibular para Odontologia ou Fisioterapia, não adiantava, a paixão pela televisão sempre foi maior. O dilema para ingressar na faculdade de Jornalismo se deu por medo de enfrentar dificuldades por ser filha de um profissional tão consagrado e, sendo assim, pensarem que as futuras conquistas não seriam mérito seu.
Este receio a acompanhou, inclusive, durante a faculdade, quando estudava na Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) - onde se graduou mais tarde. Isso porque, na época, havia o projeto Caras Novas, uma seleção para trabalhar no Grupo RBS. Como o pai era o diretor da RBS TV, ela ficava se questionando se participava ou não. A decisão de se inscrever se deu após uma conversa com seu então professor, Flávio Porcello, que, inclusive, era padrinho da irmã mais nova, Joanne. Ele a aconselhou: "Sempre vão falar. Se tu entrares pelo Caras Novas, vão dizer que tu entrou por causa dele, e se tu entrar na RBS de outro jeito, também vão dizer que é por causa dele. Então, tenta e segue o mesmo caminho que todos fazem".
Busca incansável
Infelizmente, Ellen acabou não passando na última etapa, a de entrevistas. Entretanto, seguiu batalhando por um espaço no meio. "Bati na rádio Gaúcha, com a cara e a coragem, e questionei o Luciano Klöckner se tinha alguma vaga - visto já que conhecia e ele era o responsável pela emissora na época". Porém, ele disse que não havia naquele momento, mas que iria abrir uma vaga de repórter em seguida. Contudo, Ellen confessou que assim como não pensava em trabalhar com reportagem na televisão, não pensava em rádio também. Afinal, sempre desejou trabalhar nos bastidores. Klöckner, por sua vez, a questionou se não gostaria de trabalhar na produção do 'Gaúcha Repórter', comandado por Lasier Martins. Todavia, não tinha vaga e ela acabou agregando a equipe e atuava sem ser remunerada.
Passado um tempo, foi selecionada para trabalhar com o 'Gaúcha na Hora Certa', mas dessa vez ganhando salário. Logo em seguida, o Canal Rural fez uma parceria com o Grupo RBS e estava montando uma equipe local. Convidada para trabalhar na emissora, Ellen aceitou e partiu rumo ao que seria a primeira experiência em um veículo televisivo, onde atuou por oito anos. "Foi uma escola muito importante, pois passei por todas as funções. Foi quando realmente aprendi fundamentos de televisão."
Anos mais tarde, enquanto Ellen ainda trabalhava no Canal Rural, chegou o momento do pai deixar a RBS TV, para atuar em afiliadas da Rede Globo na Bahia e em Sergipe. Então, finalmente, ela se permitiu mais uma vez tentar atuar na emissora. Durante um ano e meio, passou a frequentar a emissora em busca de uma vaga. Todo mês batia na porta do diretor da época, Raul Costa Júnior.
Em determinado dia, despretensiosamente, cruzou com o gerente da época, Cezar Freitas, que lhe contou que iria abrir uma vaga. Após saber da notícia, Ellen foi escolhida para a vaga de editora do 'Jornal do Almoço'. Porém, quem disse que não haveria mais percalços pela frente? O dia para começar a trabalhar era exatamente o mesmo de um show dos Rolling Stones que ia em Buenos Aires. "Mas aí pensei: 'Como que eu vou dizer isso depois que incomodei tanto para trabalhar aqui?'"
Paixão pela telinha
Durante a trajetória, a jornalista também foi editora do 'Bom Dia Rio Grande' e, após um ano, tornou-se editora-chefe do telejornal. "Lembro-me como foi apavorante para mim. Pensei que não dava conta", relata. No entanto, tudo isso era apenas o começo de uma grande caminhada. Mais tarde, passou pela chefia de Reportagem, bem como foi chefe de Redação e gerente.
Atual gerente-executiva de Telejornalismo da RBS TV, um dos momentos mais marcantes para ela foi entender o quão longe havia chegado, inclusive, ocupando um cargo de chefia, assim como Roberto. "Foi muito simbólico o dia que assinei os três telejornais que meu pai já tinha assinado. Ver o mesmo sobrenome ali. Algo que não tinha visto ainda", conta ela, que tem uma admiração muito grande pelo patriarca. Outro momento importante para Ellen foi quando trabalhou e se engajou durante a Copa do Mundo que aconteceu em Porto Alegre, em 2014, enquanto atuava na chefia de Reportagem.
Depois de tantos anos trabalhando na telinha, como sempre almejou, Ellen decreta que não consegue estar sem a equipe, o que tornou muito complicado trabalhar em home office durante a pandemia. "Sou feliz mesmo no agito da redação", aponta. Atualmente, acompanha toda a execução dos jornais que estão sendo feitos, enquanto a rotina de reuniões é bem grande. Ela fica na empresa até a hora em que o 'RBS Notícias' estiver pronto, "para mais tarde sentar e assistir do sofá de casa, de camarote".
Inclusive, considera-se uma "telemaníaca", visto que possui cinco aparelhos televisivos em casa. "Digo que meu sonho é ter uma tv dentro do box para assistir quando estiver tomando banho", brinca. Na TV, consome basicamente a programação aberta e notícias. Mas também acompanha novelas e algum reality-show, como 'Big Brother Brasil', que esteja acontecendo, porque acha que é preciso entender o público de TV aberta para saber o que deseja consumir de notícias. Além disso, também zapeia por outros canais para entender o que está acontecendo.
Momento off
Ellen, entretanto, não se considera restritiva e, ocasionalmente, acaba assistindo algum filme em uma plataforma de streaming, por exemplo. Apesar de não ter um gênero favorito, gosta muito de ver documentários e atrações baseadas em histórias reais. Contudo, revela que é péssima para guardar nomes de títulos e atores. Com frequência, não sabe responder se já assistiu a determinada produção somente pelo nome.
Da mesma forma que zapeia pela TV aberta, relata que faz o mesmo quando abre uma plataforma de streaming. Isso porque ela vê um pouco de cada trailer até escolher o que assistir. Em relação à leitura, ultimamente tem lido obras que tratam sobre o futuro da televisão. Inclusive, muitas vezes são estudos e não livros.
Nas festas de final de ano, quando há karaokê, sempre a questionam sobre como ela conhece todas as letras das músicas. "A verdade é que nem eu sei como", diverte-se. Mesmo tendo programado, quando mais nova, assistir a um show de rock, ela confessa que escuta tudo o que estiver tocando no rádio e não tem gêneros favoritos. "O que estiver tocando vou aceitar", aborda.
Como não consegue encaixar um esporte na rotina, volta e meia acaba fazendo caminhadas para se exercitar e também refletir. Devido ao dia a dia muito agitado no trabalho, acaba sendo muito caseira quando não está trabalhando. Porém, para ela, é difícil não estar trabalhando mesmo em casa. "Não me lembro a última vez que desliguei o meu celular", relata. A jornalista divide muito a rotina profissional e pessoal e deseja que elas casem bem. Exatamente por isso procura aproveitar muito com a família e com o filho, Matheus, 13 anos, bem como com o cachorrinho Billy.
Ellen faz questão de levar e buscar o filho no colégio todos os dias e também no futebol. Nos momentos de lazer, propõe atividades que tire Matheus da frente das telas, como o próprio futebol. "É uma grande luta tirar ele da frente do videogame e da televisão", confessa ela, que, muitas vezes, é convocada para jogar com ele. No entanto, o contato com o esporte para por aí, afinal fazem parte de uma torcida mista. Enquanto ela é colorada, ele é fanático pelo Grêmio. Volta e meia, brincam um com o outro em relação ao resultado dos jogos.
Editora da vida
Nascida em 10 de outubro de 1975, em Porto Alegre, morou a vida toda no prédio que os pais ainda moram hoje e, atualmente, reside na mesma rua - Visconde do Herval, no bairro Menino Deus. Na época, tinha muitos amigos, com os quais mantém vínculo até hoje, e considera que foi uma infância bem diferente da que vive o filho, pois brincava muito na rua de jogar bola, esconde-esconde e andar de bicicleta.
Filha mais velha da Daphne Appel, considera-se muito metódica e organizada. Por isso, possui a mania de que tudo esteja sempre no seu lugar. Nos finais de semana, inclusive, sempre aproveita para fazer limpezas e organizar a casa. Além disso, possui uma grande mania com a pontualidade, pois é algo relacionado muito com a televisão, tendo em vista que está acostumada com a questão do tempo. "Uma vez editora, sempre editora", brinca ela, que confessa ter a edição no sangue.
Apesar de ser uma pessoa que vive de dieta, alimenta-se bem e se cuida. Conta que, caso se depare com um doce, acaba não resistindo - principalmente porque a irmã é doceira. Ela, que se define como comprometida, perfeccionista e amiga dos amigos, afirma que o seu principal papel é o de mãe. Enquanto analisa que tem como mais importante qualidade ser uma boa ouvinte, entende que algumas vezes a exigência consigo própria é além do que deveria ser e, logo, esse pode ser seu pior defeito.
Hoje, Ellen acredita que tem muito ainda a aprender, visto que o Jornalismo e a TV estão mudando. Mesmo assim, se sente mais do que realizada. "Trabalhar na televisão sempre foi meu sonho", assegura ela, que nunca deixou de ir atrás de toda essa realização. Apesar do medo no início da carreira, deixa a sua marca na história da televisão como alguém que ama o que faz e com seus próprios méritos, talento e paixão e carrega o sobrenome do pai como uma inspiração. Por isso, vive um dia de cada vez, aproveitando ao máximo: exatamente como na rotina da redação. "Todos os dias são diferentes, então vivo o melhor de cada dia."