Fábio Almeida: Do anonimato à liberdade

Profissional está entre aqueles que enxergam no Jornalismo um ato de poder e justiça pela igualdade

Da investigação ao relato, do fato à informação, do "foca" ao vício. O Jornalismo é uma das profissões mais apaixonantes que existem. Há relatos de profissionais que dizem que se trata de "uma cachaça", justamente pelo gosto que se tem por ir atrás das informações e repassá-las da melhor maneira para a sociedade. Fábio Almeida está entre aqueles que enxergam na profissão um ato de poder e justiça pela igualdade. No entanto, o questionamento que veio à sua cabeça é: "Quanto vale o risco pelo ofício?". 

Quem já teve a oportunidade de conhecer o Fábio pode ouvir diversas histórias marcantes e, até mesmo, as mais perigosas sobre a profissão. Sim, o Jornalismo tem disso e, até por conta desses casos, durante muitos anos, ele foi um repórter que não apresentava o seu rosto, a fim de preservar a sua integridade, bem como a da família. Mas essa história não se inicia aqui. 

Filho mais velho da dona de casa Iracema Almeida, já falecida, e do comerciante Antônio Dias de Almeida, o profissional teve "uma criação de muito amor e afeto". De mãe gaúcha, Fábio nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1982. Seus pais foram para a "Cidade Maravilhosa" tentar a vida no comércio. Quando ele tinha dois anos de idade, mudaram-se para Porto Alegre para que o filho tivesse a oportunidade de crescer ao lado dos demais parentes. Alguns anos depois, já na Capital Gaúcha, Fábio ganhou uma irmã caçula, a relações-públicas Renata Almeida, hoje, com 35 anos, a caçula do casal.

A juventude foi vivida no bairro Glória, que fica localizado próximo à Terceira Perimetral de Porto Alegre. Fábio conta que se considera um privilegiado na vida, uma vez que acredita que teve uma infância repleta de amor e muitas amizades. "Naquele tempo, podíamos ficar até tarde na rua, brincando com os amigos e andando de bicicleta", recorda. 

Por ser filho de comerciante, basicamente, o seu primeiro emprego foi no armazém do pai. Segundo ele, esse foi um bom estágio para aprender a lidar e se comunicar com o público, pois no local frequentam pessoas de diversas classes sociais. Ali, vendiam-se produtos para casa e alimentos, assim como bebidas alcoólicas. "Sem dúvida, esse foi um grande aprendizado para mim", comenta.  

Amor pela Comunicação

Apesar de ter vivenciado uma infância com muitas brincadeiras, desde muito cedo, a veia da Comunicação pulsava intensamente no seu corpo. Uma das lembranças que marcam a sua trajetória é aquela onde ele está focado ao escutar os programas musicais no rádio, por volta do fim dos anos 1980 e início de 1990. Diferentemente de outras crianças, os seus super-heróis prediletos eram os locutores de rádio, assim como os apresentadores de TV. "O Entretenimentos era a editoria que eu mais gostava", admite. 

No Jornalismo, existem os profissionais da produção, aqueles que atuam nos bastidores criando roteiros, dirigindo atores, elaborando grades de programação, entre outros. E não é que, já na adolescência, Fábio conseguiu ser o seu próprio produtor? Isso porque ele teve o interesse de conhecer todas as rádios de Porto Alegre, para entender como eram feitos os programas que ele acompanhava. 

E foi nesse período que começou a ir atrás dos contatos a fim de marcar as visitas. "Eu não tinha como dizer que queria só conhecer a rádio. Então, tive que inventar a história de que estava indo para um trabalho da escola, o que era mentira", conta, aos risos. Ele considera que esse momento foi um dos primeiros passos para conhecer e aprender mais sobre Comunicação e, de fato, entender que era aquilo mesmo que queria fazer na vida. 

DJ de festas

De sua infância para os dias atuais, Fábio comenta que levou alguns amigos que, até hoje, mantêm um certo contato. Dois dos colegas que lembra são Diogo Gottardi e Mário Júnior. Esses eram os que tinham maior afinidade com ele, no que diz respeito a gostos musicais, bem como a paixão pelo rádio. "Esse foi um período que inventamos em ser DJ", comenta, divertindo-se. 

A turma de amigos ia para as festas a fim de verificar o que estava tocando ao gosto do público. A partir disso, começaram a colocar a sonorização e, de certa maneira, acabou se tornando uma profissão. Desde então, os adolescentes foram contratados para algumas festas de amigos, assim como casamentos, encontros sociais e formaturas. 

Neste nicho, Fábio atuou por muitos anos, mas como hobby, mais para amigos ou lugares fechados. A última festa que se recorda foi no casamento dos jornalistas Leandro Staudt e Milena Schoeller, amizade que fez nos tempos da Rádio Gaúcha

Do casamento à liberdade

Talvez um dos momentos mais marcantes da vida do Fábio também esteja relacionado à sua profissão. Isso porque, por muitos anos, foi repórter investigativo do Grupo RBS, com destaque nacional em programas na Rede Globo, como, por exemplo: 'Fantástico' e 'Jornal Nacional'. Trata-se de uma profissão de risco, pois, por muitas vezes, teve que se infiltrar em operações, com o intuito de denunciar o que de errado estava acontecendo. 

Como ele mesmo diz, esse momento de sua carreira "era viciante e apaixonante", porém, de muitos riscos para ele e a família. Contudo, não atua mais em reportagens investigativas desde 2020. Ele migrou a vida para a Assessoria de Imprensa do Exército Brasileiro, no Comando Militar do Sul. Para isso, após a saída da RBS, o profissional passou por uma seleção para se tornar Primeiro-Tenente e, assim, desempenhar a nova função de assessor dentro da instituição. 

Segundo o profissional, o movimento de mudança já era pensado por ele, uma vez que iniciou o curso de Direito, a fim de prestar concurso para o Ministério Público. "Eu sempre gostei deste lado, sobretudo, depois de atuar em diversas investigações." No entanto, a ideia de mudança foi antecipada. A chave virou mesmo quando iniciou namoro com a jornalista e apresentadora Brunna Colossi

O começo do relacionamento era de conhecimento apenas de amigos mais próximos, visto que Bruna é uma personalidade bastante conhecida no cenário da Comunicação, assim como na televisão - uma vez que, por muitos anos, foi apresentadora da Previsão do Tempo na RBS TV. "Assim que nos casamos, em 2019, decidi que deixaria de ser repórter investigativo, pois, daí, a preocupação pela segurança passou, também, pela integridade da minha esposa", confessa. 

Hoje, o casal é um dos mais famosos no cenário. Fábio saiu do anonimato e se tornou "uma pessoa livre", como ele mesmo diz. No início deste ano, a dupla anunciou o projeto de canal no YouTube, intitulado 'Voando as Tranças'. A atração tem o objetivo de mostrar os diversos lugares que os dois viajam pelo mundo, assim como os pontos turísticos das localidades. "Tem sido muito legal, pois viajar é algo que adoramos fazer juntos."

O profissional comenta que este momento da vida tem sido único e importante para ele. "Hoje, eu tenho finais de semana e feriados, levo uma vida bem mais tranquila e de realizações", garante. Apesar da mudança de rotina por conta do casamento, esse não foi o principal motivo da saída do Grupo RBS. 

Período na RBS

Na RBS desde 2002, onde passou por diversos setores, Fábio analisa que um dos auges na carreira foi a criação, junto de outros colegas, do GDI (Grupo de Investigação) da organização. Entretanto, relata, abertamente, que muitas situações o incomodaram dentro da empresa. 

Algumas questões que desgostava estariam relacionadas à valorização profissional e às alterações editoriais. Contudo, apesar de tais atritos, Fábio faz questão de ressaltar que o Grupo RBS foi uma casa para ele. Ali, teve a oportunidade de receber mais de 60 prêmios. Alguns deles são: da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), Prêmios do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Prêmio Vladimir Herzog, Prêmios Embratel, Prêmios Petrobrás, Prêmio Internacional José Hamilton Ribeiro, Premio Internacional Rey de España, entre outros. 

Além disso, a RBS o proporcionou muitas amizades que leva até hoje. Inclusive, ele é padrinho de casamento e de filhos de casais de muitos comunicadores da casa. "Eu só não cito os nomes porque são muitos e posso acabar esquecendo muitas pessoas importantes na minha vida, que estão sempre comigo e com a Bruna."

Histórias da profissão

Como o próprio Fábio diz: "Eu tenho tantas histórias que daria um livro". Entretanto, existem aquelas que se destacam na carreira do profissional, daquelas que dá um arrepio só de escutar. Algumas delas estão relacionadas às que marcaram o Rio Grande do Sul, como o caso da Boate Kiss. O jornalista conta que não era uma pessoa que chorava facilmente, porém, as cenas que viu naquele momento o impactaram "Eu realmente fiquei abalado ao ingressar no salão. Eu me sentei no fio da calçada e chorei sem parar." 

Ele conta que já viu de tudo na profissão e vivenciou desvios de dinheiro, infiltrações em gangues, cartéis de drogas e facções criminosas. "Eu sempre levei com muita naturalidade e, na hora das investigações, eu não sentia nada", comenta. O jornalista afirma que quando chegava em casa se impressionava com as matérias. "Eu dizia: 'Nossa, eu tava lá vendo tudo aquilo'."

As ameaças de morte eram diversas. Segundo Fábio, ele não tinha medo, uma vez que quem ameaçava mesmo não eram os "bandidos grandes". Ele sofria mais com aqueles que estavam relacionados a paixões, como integrantes de grupos nazistas, políticos ou torcedores de clubes de futebol. "Desses, eu sabia que não daria nada, pois os grandes criminosos sabem que o jornalista faz um trabalho sério e, por isso, eles até te respeitam."

A reportagem que mais marcou a carreira para ele foi a 'Fronteiras Abertas', em 2010. Tratava-se de uma série investigativa, a qual se mostrava que a fronteira entre o Rio Grande do Sul, com o Uruguai e Argentina, era 100% aberta. A equipe ficou de campana para observar todos os atos ilegais que passavam por ali. Só que nessa ocasião Fábio passou por um risco de morte real. 

Naquele momento, a equipe teve que negociar munições e armamentos e esse era um dos desafios. Eles tiveram que atravessar, de madrugada, pelo Rio Uruguai. O lugar estava escuro e sem nenhuma iluminação, além da correnteza forte. Após conseguir cumprir a travessia, Fábio diz que se deu conta que não sabia nadar. "O cinegrafista Jean Carlos, o Caco, queria me bater, por eu não ter dito a ele que não sabia nadar, pois todos sabiam, menos eu", conta, aos risos. Essa foi a situação mais perigosa que já enfrentou na profissão. 

Fazer mais histórias

A partir dos próximos anos, o foco de Fábio Almeida estará relacionado ao Direito e à possibilidade de se tornar um Promotor de Justiça, por meio de concursos que pretende realizar. No entanto, a vida profissional está estabilizada e não abre mão do canal do YouTube que tem junto  com a esposa. "Pretendo viver os bons momentos da vida ao lado da Bruna." 

Com o momento atual, Fábio passou a experimentar coisas que não conseguia fazer por conta da rotina agitada. Hoje, além das viagens, frequenta restaurantes e bebe vinho, algo que, segundo o jornalista, "jamais havia experimentado". Sua missão de vida é colocar em prática os bons ensinamentos vindos das pessoas que ama: sua mãe, seu pai e sua esposa. 

Sobre os projetos futuros, eles não param por aí. Nos próximos meses, Fábio Almeida estará com a sua voz em um podcast, a convite de um amigo de profissão, o qual não pode revelar o nome ainda. "O objetivo do projeto é contar histórias cabulosas, parecidas com as do programa 'Teledomingo', de algumas matérias que realizei durante os mais de 25 anos de carreira", adianta. 

Comentários