Gabriela Mendonça: uma eterna apaixonada pela comunicação

Gerente de Comunicação da Aegea Saneamento Regional Sul, ela guarda boas lembranças de todos os lugares onde trabalhou

Crédito: arquivo pessoal

Defensora de suas ideias desde muito pequena, Gabriela Mendonça 'enganou' direitinho o pai, o engenheiro Miguel (falecido), quando decidiu em que profissão seguiria. O sonho do patriarca era vê-la no tribunal, advogada. Para fazê-lo feliz, até deu uma chance ao curso. Terminou o Ensino Médio e ingressou em duas faculdades ao mesmo tempo: Direito e Jornalismo, com o qual se identificava mais. "Sempre gostei de ouvir e contar histórias", relembra ela. 

Três semestres depois, fez um comunicado em casa que lhe rendeu dois meses de 'bico' do pai por escolher a Comunicação como futuro. Quando chegou a hora de ingressar no mercado de trabalho, percebeu que a toga e o martelo não lhe faziam disparar o coração. "Ler é um hábito antigo e, ao estar diante das duas possibilidades, entendi que não poderia fazer algo diferente. Dentro de mim sempre soube que ou seria escritora ou veria situações e as contaria", ressalta. 

E foi na PUCRS que a, hoje, gerente de Comunicação da Aegea Saneamento Regional Sul - empresa responsável, por meio da Ambiental Metrosul e Corsan, pelas operações de coleta e tratamento de esgoto de nove cidades gaúchas - recebeu o diploma de Bacharela em Jornalismo. Aos 52 anos, com uma carreira consolidada na comunicação corporativa, Gabriela olha para trás com gratidão. "Sou muito feliz com o que faço. Minha trajetória profissional é iluminada. Foram sementes plantadas e que até agora sigo colhendo", conta. 

Tudo por eles

Pós-graduada em Marketing Político pela Universidad Complutense de Madrid, teve uma breve passagem pela comunicação política, de onde também guarda como referências os colegas Isara Marques e Luis Fernando Moraes, o LF. E foi logo após voltar da Espanha, período que retrata como maravilhoso, que Gabriela descobriu que seu maior título da vida ainda estava por chegar. Ao engravidar do filho mais velho, Antônio, 24 anos, hoje estudante de Geografia, pensou: "Quem vai me contratar grávida?". Foi fazendo freelas, até que resolveu procurar nos Classificados de Zero Hora por um emprego formal. 

Um anúncio chamou sua atenção. Era para o cargo de secretária-executiva. Os requisitos pediam conhecimentos de inglês e espanhol, sem contar um excelente português, línguas que Gabriela dominava. Chegando na entrevista, foi informada de que a vaga estava preenchida. O que parecia ser uma porta fechada se tornou, na verdade, uma oportunidade de ouro. Diante de seu currículo, a empresa, o Consórcio Univias - de administração de rodovias - perguntou se ela não queria ser assessora de imprensa. O ano era 2001 e, naquele momento, identificou uma paixão que a acompanharia sem data pra acabar.

No meio dessa história com a concessionária, onde ficou até 2013, quando o Programa Gaúcho de Concessões foi finalizado, a profissional teve duas surpresas, uma boa e outra ruim, que a impulsionaram a lutar por seus objetivos ainda mais. "Em 2006, tive minha segunda filha, a Rosa, e quando ela estava com apenas três meses fui diagnosticada com um câncer. Raro, o angiosarcoma atingiu entre o fígado e o baço e me obrigou a parar", explana, seguindo: "Primeiro, descobri que tinha mais amigos do que imaginava, tive uma rede de apoio excelente. Depois, a empresa mostrou na prática seu discurso e me fez admirá-la ainda mais. Eles mandaram trazer dos Estados Unidos um medicamento que eu precisava, contrataram uma enfermeira para ficar comigo e me receberam de volta quando pude, felizmente, retornar ao trabalho. O medo do futuro que me assombrava após experienciar tão pesada situação teve fim".

Desde o primeiro dia que cruzou os olhos com seus bebês, eles se tornaram a principal motivação para que a profissional seguisse firme e forte, apesar das adversidades. A caçula, de 18 anos, está terminando o terceiro ano do Ensino Médio e se prepara para estudar Direito, realizando os sonhos dos dois avôs e deixando o coração de mãe ainda mais orgulhoso. 

"Não há nada no mundo que eu não faça pelos meus filhos. A felicidade deles está sempre acima da minha, minhas decisões são todas pensadas neles primeiro. Então, ter vencido o câncer, conseguir manter minha carreira e poder vê-los crescer, acompanhar cada passo e comemorar junto, é tudo", enfatiza. 

Exemplos de liderança

Ela coleciona memórias de líderes que passaram por sua vida e deixaram marcas positivas. No entanto, os maiores espelhos sempre estiveram dentro de casa. Filha mais velha do Miguel e da Rosalia (falecida), que era pedagoga e professora de inglês, Gabriela cresceu com pais à frente do seu tempo, em suas próprias palavras. Tanto para ela quanto para as irmãs - a psicóloga Renata, 50 anos, e a filósofa Maria Manuela, 42 - o incentivo foi constante para que estudassem, trabalhassem e que se, porventura, casassem, fosse por amor e não necessidade. 

Além de chefes que a ensinaram valiosas lições, a jornalista atribui ao fato de não ter tido pressa o crescimento que alcançou. O primeiro estágio da jovem estudante Gabriela foi na Rádio Gaúcha, do Grupo RBS. Iniciou na redação, passou pela produção, fez de tudo um pouco. Dilon Trescastro, chefe de Redação na época, teve muita paciência. Lasier Martins, que dispensa apresentações, mostrou a ela como sociabilizar. E Jayme Copstein a ensinou o que era uma notícia, como achar boas histórias e ir direto ao ponto. "A faculdade é ótima, mas a gente aprende mesmo é no chão, na lida diária. Eles foram mentores especiais", ressalta. 

Os mesmos acionistas da Univias estão também na Aegea e, unindo suas experiências com o Grupo Equipav (somadas no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia), garante que uma boa gestão sempre fez a diferença. Embora considere sempre ter trabalhado em lugares com chances semelhantes para homens e mulheres, conhece bem a realidade das mães de ter que 'encarar o terceiro turno'. Ter outras figuras femininas em posições de poder, sem contar todos os aprendizados com sua ídola, a mãe Rosalina, deu a ela confiança para desenvolver seu potencial como líder. 

À frente da Comunicação de serviços essenciais como o de estradas e rodovias e saneamento básico, entende a relevância do papel que desempenha e é na ponta, vendo, ouvindo e vivenciando os relatos dos consumidores, que baseia a forma de conduzir seu time. "Sempre tento dar mais do que é esperado de mim. Não são desafios fáceis, principalmente com um bem tão precioso quanto a água, então, preciso constantemente me colocar no lugar do outro e ainda atender a gestão da empresa, ser organizada. Aprendi a gerir equipes e ter pessoas ao meu lado há tantos anos é um sinal disso. Eu quero crescer e quero que elas cresçam", defende. 

Porto seguro

Carioca que ainda visita o Rio de Janeiro regularmente, especialmente para visitar as irmãs e as sobrinhas, Gabriela não esconde que sua alma pertence mesmo a Porto Alegre. Aos quatro anos, foi com a família morar nos Estados Unidos, voltando para o Brasil aos oito, com uma passagem por São Paulo, antes de conhecer a capital gaúcha, ponto no mapa que chamaria com prazer de lar. 

E na adolescência chegou a colocar em xeque as afirmações de que as melhores praias, como Copacabana e Ipanema, estavam no Rio. "Eu não queria passar férias lá, queria ir pra Atlântida", revela. Foi aqui, na Porto Alegre que define como seu porto seguro, que construiu as melhores lembranças em família, estudou, namorou, fez amigos e presenteou o mundo com suas mais acertadas versões, os filhos. 

Nascida em 4 de julho, data celebrada pelos norte-americanos pela Declaração da Independência, Gabriela soprou algumas velas na terra do Mickey, onde teve ainda mais certeza do amor que os pais sempre cultivaram por ela. "É feriado nacional, o país fica em festa. Eu morava em Tampa, que fica ao lado de Orlando, então, as comemorações dos meus aniversários eram na Disney. Meu pai sempre dizia que tudo aquilo era pra mim e eu acreditava. Pensava, 'nossa como as pessoas me adoram'. Quando voltamos ao Brasil, cheguei a estranhar porque o povo não ligava tanto assim pra mim", relembra, aos risos. 

Dois anos antes de enfrentar sua própria batalha contra o câncer, ela perdeu a mãe para a mesma doença. Durante a pandemia de Covid-19, outro adeus daqueles praticamente impossíveis de suportar. O pai faleceu, infectado pelo vírus, após entrar no hospital com um princípio de acidente vascular cerebral (AVC). Agora, é no afeto impresso em seu coração, nos filhos, nas irmãs e nas sobrinhas que encontra outro ponto de paz. 

Rosalia, um exemplo de força, mulher espetacular. Miguel, um pai cuidadoso. A saudade não passa, mas quando olha para si mesma e vê um pouquinho deles, assim como nas irmãs, tem certeza de que a vida continua sendo boa. "Ter irmãs é tudo. Quando ficamos sem mãe e pai, elas preencheram os lugares de referências. A Renata me ensinou a ser mais corajosa e a Manuela é muito espiritualizada, me ajuda a centrar, a abrir minha mente. Temos uma relação maravilhosa", pontua. 

Equilíbrio 

Quando questionada sobre se sentir realizada com sua vida, não titubeia: "Sim, muito". Tem planos, sonhos, como estudar mais, fazer uma especialização em Gestão, ter uma experiência de trabalho internacional, conhecer a Holanda, levar os filhos para o Japão. Ao mesmo tempo, mira numa rotina mais leve, com mais tempo para si, para as amigas. E se nada sair como planejado, ela está bem, satisfeita. 

Em um hobby descoberto na pandemia, o remo, acolheu o sentimento do equilíbrio. "Adoro remar, me coloca nos eixos. Pratico todas as manhãs, me movimento, me conecto com a natureza", cita. Inquieta, argumentadora, concede também o olhar mais sábio e disciplinado ao atual chefe, Leandro, que volta e meia a recorda sobre a importância de escolher bem as batalhas. 

Com a recente crise instaurada no Estado pelas enchentes, teve a circunstância de treinar suas habilidades como gestora e reforçar o mantra que carrega como guia profissional: não se faz comunicação do ar-condicionado. Mesmo com as responsabilidades que a posição lhe imputa, faz questão de revisitar o dia a dia de jornalista na rua, entendendo de perto as necessidades das pessoas para as quais trabalha. E ela não está falando dos donos da empresa. 

Uma caminhada, um bom livro e um café

Com os filhos já mais independentes, ela confessa que ainda tem um pouco de dificuldade com o tempo livre. Divide a atenção, ainda, com os dois cachorros, os salsichinhas Filó, 10 anos, e Bili, 2, que são os 'donos da casa', e também com o namorado, o jornalista Jorge Sant'Ana, filho do saudoso Paulo Sant'Ana, com quem se relaciona há cerca de quatro anos. 

Criativa e entusiasta das coisas simples da vida, encontra contentamento em outras atividades como caminhar pela cidade, tomar um café e ler um bom livro. É Jorge, aliás, quem estimula esse hábito na amada. Pelo trabalho, lê muitos livros técnicos, mas estima como quem não esquece também de histórias como a da série literária "O tempo e o vento", de Erico Verissimo. Os autores preferidos são, sem espanto, dois jornalistas: Carlos Heitor Cony e Elio Gaspari.

Na Espanha, quando não estava estudando ou desbravando as ruas de Madrid, Gabriela trabalhava em uma cozinha. O gosto por preparar a comida, colocar a mão na massa, desvendar sabores e aromas, permanece. Suas culinárias favoritas são a japonesa e a árabe. Tricotar e crochetar também integram o cotidiano. Assim como visitar feiras e estar intimamente conectada às pessoas e suas diversas culturas. Na música, vai de Marília Mendonça, passando pelas melodias que admira de Renato Borghetti, até o dedilhar do piano de Mozart. 

Namorada de um gremista fanático, mãe de um também gremista, mas que não é tão ligado a futebol, e de uma colorada, ela não poderia ser outra coisa: "Sou a mediadora, torço pra eles estarem felizes", brinca. Criada nas tradições católicas, com intensa influência da avó, agora adulta questiona mais o que é religião. É curiosa, característica notável de uma jornalista, mas encontra esse aspecto predominantemente numa conexão com a natureza e o universo. E daquelas que levantam o ânimo de qualquer um com sua perspectiva otimista da passagem de cada um de nós pelo planeta, só quer viver e ser feliz. "Algumas pessoas ganham na loteria, eu ganhei o impagável de ter pessoas extraordinárias trilhando ao meu lado".

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