Hilda Haubert: Ela sabe e faz ao vivo

Tornando os bastidores televisivos quase uma extensão de sua casa, a produtora virou gestora e segue apaixonada por fazer TV

Hilda Haubert, diretora de programação da TVE - Maicon Hinrichsen

Era julho de 1969 quando o homem pisava na Lua pela primeira vez. O mundo inteiro se aglomerava nas casas de parentes, amigos e vizinhos que possuíam televisão para acompanhar o fato histórico. Com apenas três meses de idade, em uma casa de São Leopoldo, Hilda se virava ansiosamente na cama, em direção à caixinha mágica que transmitia o grande acontecimento. A história é folclórica na família Haubert, que nunca teve dúvidas: esse foi o momento em que a caçula descobriu sua maior paixão.

Aos 52 anos, Hilda Haubert é coordenadora de programação da TVE e, há cerca de três décadas, é parte da magia que faz atrações televisivas acontecerem, com passagens por Band TV RS, RBS e Canal Rural. Crescendo em meio a adultos - seu Ubaldo, dona Nilza e a primogênita Vera Beatriz -, tornou-se prodígio e entrou na escola mais cedo, após aprender português e matemática básica assistindo a programas de TV, como Vila Sésamo. Ainda que a fala tenha vindo tarde - apenas aos três anos -, brinca que não parou mais. 

Inspirada pelo amor do pai por rádio e jornal e da irmã por televisão, nasceu uma comunicadora. Em 1985, a Comunicação Social da PUCRS recebeu a estudante recém-saída do colégio Paula Soares, no Centro da Capital. Em 1990, ela saiu da faculdade como jornalista, para explorar e conquistar o mercado local. Alerta de spoiler! Ela conseguiu. Muitos dos ícones que Hilda admirava na infância foram seus colegas de trabalho anos depois. "Realizei vários sonhos na minha profissão", enfatiza a profissional.

A caixa mágica

A família Haubert se mudou ainda na primeira infância de Hilda para Porto Alegre e foi na região central da cidade que ela cresceu como uma "criança de apartamento". Essa era a deixa para que a televisão fizesse o papel de entreter e encantar a jovem. Desde aquela época, diversas foram as influências que despertaram nela a vontade de fazer parte deste mundo: Chacrinha, Globo Repórter, Jornal Nacional, Fantástico, Jogos Olímpicos...

Como jornalista, Hilda colocou em prática a cobertura de eventos que tanto a empolgavam. Ela, que iniciou no breaking news e chegou a cobrir o enterro de Leonel Brizola, viu sua carreira se consolidar no entretenimento, onde esteve à frente da transmissão de edições de 'Garota Verão' e 'Planeta Atlântida', além do Palco Sunset, do Rock in Rio. A fã dos fogos de Copacabana produziu a exibição de festas de réveillon pela telinha e, trabalhando na transmissão do Carnaval, atuou lado a lado com o ídolo Cláudio Brito, o qual ouvia pelas ondas do rádio e aprendeu a admirar com o seu Ubaldo.

Na carona da TV

Hilda ainda trabalhou cobrindo eleições, debates e muitos outros acontecimentos. "A TV é como uma viagem. Abre uma janela para um mundo que não é o teu", reflete. Após conhecer o mundo por meio da televisão, o jornalismo também a levou para viajar - de verdade, de avião e tudo. A profissional foi contratada para um projeto do Canal Rural, em 2016, e partiu para Brasília. Em um ano e meio de capital federal, ela garante que ampliou sua visão de mundo e confessa que só não ficou porque, com o fim do projeto, começou sua trajetória na Band TV RS, a convite de Ciça Kramer, onde ficou meses, até o final de 2018.

Na carona da televisão, a jornalista também construiu sua vida pessoal. A rotina intensa em estúdios e backstages fez com que surgissem, nesses locais, romances passageiros e amizades duradouras. Rodaika é uma das colegas que virou irmã de coração, desde que atuaram juntas no Grupo RBS. Na lista das próximas viagens pós-pandemia, inclusive, está uma visita à amiga na Flórida, nos Estados Unidos, além dos passeios que Hilda pretende voltar a fazer pelo Brasil.

Fora do ar

Quando o trabalho dá espaço, boa parte do tempo livre é composta por churrascos, partidas de vôlei e festas com os colegas de trabalho - pelo menos era, no período pré-pandemia. Todos sabem: seja nesses encontros ou na labuta, quanto mais calor, mais feliz Hilda está. Sua felicidade também é diretamente proporcional à distância da família. Seu Ubaldo faleceu em 2002, mas dona Nilza e Vera Beatriz seguem sendo o esteio da caçula e as três são inseparáveis.

As Haubert também cultivam uma grande paixão: gatos. Atualmente, o filho de quatro patas é o Bento. Com 13 anos, pelagem mesclada de amarelo e preto e olhos verdes, o felino é muito apegado à mãe humana - inclusive, reclamava a atenção dela durante a entrevista. O amor pelo filhote só é dividido com a sobrinha pet: Nina, a gata que é de sua irmã, mas tem todo o cuidado e chamego da titia. Na família que mescla duas pernas e quatro patas, ainda tem espaço para o afilhado Abellardo. O amigo e ex-colega Fernando Alencastro, inclusive, deixa o seu cachorro sob a tutela da dinda quando precisa.

Atenção pra regressiva: 3,2,1? VAI

As amizades da jornalista vêm, em sua maioria, da TV. Apenas no Grupo RBS, foram mais de 22 anos, sendo 17 deles na extinta TVCom. O flerte entre Hilda e o conglomerado midiático começou em 1989, quando participou do 1º Curso de Jornalismo Aplicado, ofertado pela redação. Já formada, no final de 1992, foi a vez de integrar a capacitação 'De Olho na Experiência', quando, após dois meses de aulas teóricas e práticas, foi contratada na RBSTV. 

A guria que amava ler os créditos dos programas de televisão passou, então, a atuar com os donos dos nomes que muito viu correr na telinha ao final das atrações: Claro Gilberto, Alice Urbim, Xico Gonçalves, entre tantos outros. Começando como produtora responsável pela geração de materiais das retransmissoras, aprendeu sobre a parte técnica, aproximou-se dos colegas do interior do Estado e mostrou a que tinha vindo: um mês depois, estava produzindo a cobertura ao vivo da Maratona de Porto Alegre, de 1993.

A partir dali, foram incontáveis 'vivos' sob a produção de Hilda no canal 12 da TV aberta local. Mas seria apenas em 1998 que ela encontraria sua 'maior escola': a TVCom. Foi no histórico canal 36 que atuou em suas maiores coberturas. A jornalista ainda tem forte na memória aquele 4 de janeiro de 2002, em que transmitia um projeto em São Leopoldo e teve que se deslocar às pressas para acompanhar o sequestro de uma lotação, na avenida Osvaldo Aranha, em Porto Alegre. A equipe se revezou em 27 horas ao vivo sobre o tema, até que o sequestrador se entregou à polícia.

TV, celular e fogão

São muitas horas no ar e outras tantas planejando a programação do dia seguinte, na TVE. Quando chega em casa, sua atenção se divide entre a TV, o celular e o fogão. Hilda ama cozinhar e, obviamente, também acompanha atrações de culinária. A menina que, em 1979, fez o pai passar seis horas na fila para comprar um telefone, em 2021 é uma mulher que segue tecnológica. Atualmente, não larga seu smartphone e é por meio dele que compartilha fotos de suas delícias no Instagram, sempre com a #comidinhasdahilda. 

Os dons na cozinha também foram um trunfo para a produtora de TV. Ela conta que, em longas coberturas, sempre fazia um bolo para agradar a equipe e tornar o trabalho mais leve. Como não dirige e os motoristas das emissoras costumavam buscá-la para as transmissões, relembra que, muitas vezes recebia esses colegas com uma mesa de café. Ela celebra que, até hoje, ex-parceiros de profissão comentam nas redes sociais sobre memórias afetivas que têm com seus quitutes.

Das telinhas aos tribunais

A Hilda jornalista e a cozinheira já são bem conhecidas no Estado. Entretanto, outra faceta dela pretende entrar em cena. Para quem não sabe, em 1999, a profissional formou-se bacharel em Direito, pela Ufrgs. O curso era o sonho de seu Ubaldo e a caçula o fez em paralelo com o Jornalismo, e com as atividades profissionais. A intensa rotina da produção adiou a conquista do registro como advogada, mas em 2020, finalmente, Hilda obteve o certificado de aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil.

Exercer o Direito é a nova meta dela, afinal: "A gente nunca pode pensar que já fez de tudo". Com o passar dos anos, acredita que o afastamento da TV será natural e pretende encontrar na advocacia seu ofício e fonte de renda para as tantas viagens que ainda sonha em fazer. Independentemente da profissão em que esteja atuando, a intenção é fazer a diferença na vida das pessoas. Sabe aquela guriazinha de três meses que viu na televisão o homem alcançar a lua? Quem duvida aonde ela mesma ainda pode chegar?

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