Rodrigo Pinto: Incansável criativo

Sócio-diretor da Paim, Rodrigo Pinto revela que deixar de ser redator passa longe de seus planos

Uma carreira que passa por algumas das principais agências brasileiras, uma série de premiações na trajetória e uma posição no quadro societário da Agência do Ano pelo Voto Popular. Ambição de muitos publicitários, essas particularidades se encontram em Rodrigo Pinto. Os atributos poderiam até torná-lo envaidecido, mas, ao contrário, o sócio e diretor de Criação da Paim garante que é "um cara absolutamente normal". Ele explica: "Existe uma pauta a ser cumprida e eu tento fazer isso da maneira mais legal e criativa possível".
Com 19 anos de mercado, revela que ser criativo nunca foi um desejo, até que a proximidade e as primeiras experiências na área o levaram a seguir por esse caminho. A Medicina - profissão que já acompanhava a família havia duas gerações -, a Economia e o Jornalismo até cruzaram o caminho de Rodrigo, mas foi na Publicidade que encontrou afinidade. No terceiro semestre de Jornalismo na Famecos, uma amiga que estudava Propaganda sugeriu a troca entre os dois. Proposta aceita.
Ainda hoje, vive a propaganda como um desafio diário e tem no dinamismo da área um motivo de constante atração. "Não consigo viver fazendo sempre a mesma coisa. Aqui, você é obrigado a conhecer e estudar vários assuntos. Eu gosto disso", resume. Persistente, brinca que segue a máxima do "filósofo franco-belga" Jean Claude Van Damme: render-se nunca, retroceder jamais. "Sempre penso que vai dar para fazer. Às vezes, não dá, mas pelo menos eu tentei até o último minuto."
Entre idas e vindas
Ao todo, foram nove anos de vivência em São Paulo, período que teve início em 2000. Trabalhar no mercado paulista, visto como mais amplo e competitivo, sempre foi uma vontade. A oportunidade de concretizá-la veio, no entanto, a partir de uma proposta recebida pela esposa, Márcia Valadão, convidada a assumir a direção de Criação do Departamento de BTL - que reúne os formatos de comunicação chamados "não convencionais", como marketing direto, design e eventos - DM9. Durante três meses, contribuiu com a Paim a distância, até que recebeu um convite para integrar a equipe da Lew Lara.
Nos anos seguintes, viveu períodos de alternância entre o mercado gaúcho e o paulista, registrando a segunda passagem pela Paim e Lew Lara, além da atuação na Loducca e na Africa. De volta ao Rio Grande do Sul há dois anos e meio, reconhece as diferenças de mercado, que vão de tamanho de verba e agências a nível competitivo, e crê que cada região fala "línguas" diferentes. "Uma coisa bacana é que São Paulo recebe gente de todo o Brasil e até de outros países. Então, a cultura e a quantidade de abordagens, de caminhos criativos, que tu vês e convives é muito maior", acredita.
No Estado, ainda acumula passagens pela agência Um, Nova Forma e Centro.
Sim à Publicidade
"Se eu tenho um ídolo é o Telmo Ramos", revela, sem hesitar ao falar sobre suas referências. Foi com o publicitário - que por muitos anos foi sócio e diretor de Criação da Paim - que Rodrigo diz ter aprendido "a ser redator de verdade". "Lembro que uma vez entrei numa sala de reuniões e me demiti, porque achei que nunca conseguiria ser um redator à altura da agência que ele tocava e ele me acalmou. Teve toda a paciência com as minhas inseguranças", recorda.
Outro nome que menciona é o de Cesar Paim, de quem tem absorvido muito conhecimento sobre o negócio nessa fase de empresário. Figura ao lado dos dois o pai, José Antônio Lopes de Figueiredo Pinto, principalmente pelo apoio quando decidiu que não seguiria os caminhos da Medicina. "A única coisa que ele me disse foi: tenta ser o melhor possível na profissão que tu escolheste", lembra.
Não é preciso dizer que seguiu à risca o conselho do pai. Prova disso é a longa lista de distinções recebidas, da qual fazem parte um Leão de prata (2004) e dois de bronze (2004 e 2007) do Cannes Festival, além de prêmios como Profissional do Ano Região Sul, Abril Região Sul e Medalha de Prata no Festival Ibero-americano de Publicidade. Ainda recebeu por dois anos o título de Redator do Ano no Salão da Propaganda e, no ano passado, Diretor de Criação do Ano.
O total disso tudo? Ele jura que não sabe. Como todo o profissional, curte as premiações e enxerga nelas um reconhecimento, mas afirma que não faz contas. "Não é o drive do meu trabalho, nem é o drive da Paim. É fazer um bom trabalho. Claro que isso acaba resultando em prêmios, mas eu não conto", assegura. Nos últimos tempos, diz que ver a agência da qual é sócio ser agraciada tornou-se mais importante do que o reconhecimento individual. "Mostra que eu estou colaborando para que toda a equipe se sobressaia."
Do simples, o prazeroso
Natural de Porto Alegre, Rodrigo é o mais velho dos quatro filhos de José e da dona de casa Viviane Marie Dulac Pinto. Desde 1994, é casado com Márcia, com quem trabalhou nos tempos de Nova Forma. " Roberto Pintaúde é responsável por isso", brinca. Da parceria, que segue há 18 anos, nasceram Pedro e Camila, hoje com 14 e 8 anos.
Diante da correria cotidiana, aproveita os fins de semana para compensar a convivência com a família. Preenchem esse período atividades corriqueiras, mas prazerosas, que podem ser ir com Pedro comprar corda para guitarra. "Se entendo alguma coisa? Não entendo nada. Mas é pelo prazer de vê-lo escolher e me ensinar alguma coisa."
O mesmo vale para acompanhar Camila até a tabacaria para comprar adesivos ou na busca por uma sapatilha de balé. "Ficar atirado depois de um almoço de domingo não tem nada de especial, mas quando tu fica ali, atirado com teus filhos em cima de ti, isso é sensacional", comenta.
Também gosta de curtir a casa na Zona Sul, região onde reside desde os 10 anos. "Não chego a usar o adesivo no carro "Zona Sul é tudo de bom", mas sou fiel", conta, ao revelar que não trocaria a moradia no local tão fácil.
Para expirar e inspirar
A leitura é outra atividade que aprecia. De revistas de carro, de decoração até as femininas. E explica que as lê não apenas por atender às contas relacionadas aos assuntos. "Eu gosto. Não tenho preconceitos. Quando eu não atendia a Renner e morava em São Paulo, continuava comprando e lendo essas revistas. E tu não precisas ler tudo, só o que te interessa", esclarece, contando que tem publicações espalhadas por toda a casa. O gosto musical vai de AC/DC a Foster The People. Descarta gêneros como sertanejo e pagode, e admite que dependendo do momento ouve pop rock, rock"n roll, anos 1980, 1990, 2000.
Quando o assunto é a sétima arte, costuma reservar o ambiente do cinema aos filmes bons, enquanto em casa assiste aos ruins. É o que chama de inspiração e expiração. "Preciso de um momento em que eu preciso vegetar, me livrar de tudo e, para mim, nada melhor do que um filme ruim. A gente simplesmente senta na frente da TV e, literalmente, vegeta", argumenta. Uma produção que considera muito boa é "Intocáveis", enquanto a indicação ruim fica com "Segurança de shopping". "Para quem gosta de filme ruim, eu recomendo".
Torcedor do Internacional, se diz um colorado não praticante. Isso porque não vai ao estádio, não compra a camiseta do time, não entra em discussões, nem "toca flauta". "Até me interesso em saber como anda o Inter, mas não vou brigar, nem sofrer", conta, ao explicar que a derrota pelo time não interfere no seu dia a dia.
Sempre redator
Da trajetória, dois momentos ganham destaque entre as recordações. O primeiro é a conquista dos primeiros leões em Cannes. "Uma coisa que, lá no início de carreira, eu duvidava que fosse conseguir. E, ao mesmo tempo, foi algo que me motivou a ir para São Paulo. Sempre me perguntava: será que eu sou cara capaz de um dia ganhar um Leão de Cannes? Será que sou capaz de um dia fazer um trabalho tão bom quanto algumas pessoas que eu admiro?"
O segundo foi no último dia 2 de novembro, quando a cliente Renner veiculou em Zero Hora um anúncio homenageando a Paim pelo título de Agência do Ano, no Prêmio Voto Popular 2012. "Foi incrível abrir o jornal, começar a ler e ver um anúncio em homenagem à agência, em que o cliente que criou o texto, o layout, autorizou", conta, ao explicar que se sentiu "triplamente emocionado".
Apesar da condição de sócio, garante que deixar o dia a dia da Criação é algo que não está nos planos. Quer continuar se dedicando aos anúncios, títulos e filmes. "Todo o meu trabalho como redator e depois como diretor de Criação me trouxe até onde eu estou hoje. Pretendo nunca abrir mão disso. Quero participar ativamente da criação da agência", reforça.
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