Luciano Klöckner: Incansável estudioso

Apaixonado por pesquisas, o professor fala de carreira, realizações e projetos

Professor da Famecos desde 1988, Luciano Klöckner é um apaixonado pelos estudos. Acredita no que faz e diz se dedicar ao máximo a seus alunos. Como é orientador de algumas monografias, enquanto concede entrevista, no laboratório de redação, aparecem estudantes querendo "dar uma palavrinha" com o mestre, que faz questão de atendê-los.

Pai da Karina e da Gisele, e avô do Théo, é casado, há cinco anos, com a também professora Cláudia Peixoto. Formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), fez mestrado, doutorado e pós-doutorado em Comunicação, e, mesmo depois de tanta pesquisa, ainda tem muitos planos na profissão.

Natural de Porto Alegre, ele costuma dizer que sua origem é a cidade de Estrela, local onde passou a infância e da qual guarda boas lembranças. É nesse lugar que Luciano acredita ter surgido o interesse pela Comunicação. Ouvinte assíduo do Repórter Esso, programa noticioso de rádio que fez sucesso durante as décadas de 1950 a 1970, que muitos anos depois tornou-se objeto de estudo em seu mestrado e doutorado, e leitor do Correio do Povo na época de seu formato standard, ele começou a se apaixonar pelas notícias ainda criança, quando o pai o levava para a escola com o rádio do carro ligado na Guaíba.

O jornalista se emociona ao contar que, em sua banca de mestrado, conseguiu trazer os locutores do Repórter Esso. Roberto Figueiredo, do Rio de Janeiro; Fábbio Perez, de São Paulo, e Lauro Haggemann, de Porto Alegre, que juntos choraram na reprodução do último programa. Apesar de muito jovem na época da transmissão, Luciano diz que guarda a tristeza das pessoas e do próprio locutor que chorou durante a despedida.
As influências

Ainda na infância, o professor ouvia a avó materna comentar: "Aquela máquina de escrever e aquela escrivaninha são do Luciano". A vontade de bater naquelas teclas aumentou na adolescência, quando decidiu criar o jornal do clube que frequentava e era DJ. O Jornal da Zona, escrito por ele e rodado por um amigo na tipografia e depois no mimeógrafo, foi seu primeiro contato com o jornalismo. Assim, considera grandes incentivadores à escolha da profissão seus amigos e sua avó materna, da qual ganhou a escrivaninha, onde, até hoje, corrige seus trabalhos acadêmicos.

No tempo de ginásio, hoje ensino médio, Luciano chegou a vencer um concurso de redação, e com isso gerou uma briga entre as professoras de português e química. Enquanto uma dizia que ele deveria ser jornalista, a outra queria que ele fosse agrônomo, assunto que gosta muito, tanto que seu primeiro vestibular foi para Agronomia. No mesmo ano, prestou vestibular para Jornalismo na PUCRS e passou, desistindo da outra opção. Durante a vida acadêmica, Luciano ouvia de seu pai que deveria fazer o que realmente gostava e foi até o fim.

Formou-se no dia 31 de dezembro de 1980 e um dia depois estava trabalhando na Folha da Tarde (à época do Grupo Caldas Júnior), convidado por Antônio Gonzales, diretor da Famecos e então secretário de redação do jornal. No mesmo ano, teve passagem pela Rádio Difusora, atual Bandeirantes, mas, em função de mudanças na estrutura da emissora e com o fechamento da Folha da Tarde, Luciano passou algum tempo se dedicando à assessoria de imprensa e fazendo free lancer como repórter em pequenos jornais, como o Jornal Comunicação, Jornal do Leite e Jornal do Shopping Iguatemi.

O jornalista nunca gostou de ir pra frente das câmeras ou microfones, prefere os bastidores, e de preferência na área de redação. Mas ao cursar a cadeira de televisão, que denomina como apaixonante, diz sempre ter sido o melhor aluno da disciplina. TV virou seu grande sonho, e até recebeu uma proposta de assumir o cargo de um amigo em uma emissora, mas por já ter duas filhas, julgou que não podia se aventurar.

Foi quando recebeu uma proposta para trabalhar em Três de Maio, e, por ser uma região agrícola, esperava unir as duas grandes paixões, o jornalismo de rádio e a agricultura. Lá encontrou um grande desafio: produzir um programa de rádio diário e outro semanal e, para isto, chegou a trabalhar 15 horas por dia. Com algumas experiências em locução, foi no interior que perdeu um pouco de sua timidez e se arrepende de não ter investido mais nesta área, porque "talvez rendesse bem". Após um ano de trabalho no interior, motivos financeiros trouxeram Luciano de volta à Capital, mas ele retornou com a certeza de ter feito um bom trabalho. Certeza essa que se confirmou com diversos convites para retornar a Três de Maio.
Do jornal à docência

De volta a Porto Alegre, o professor teve novas experiências com assessoria de imprensa, mas logo surgiu o convite para trabalhar na Revista Granja, e novamente conseguiu unir suas paixões, permanecendo lá por quatro anos. Nesse tempo como repórter, veio mais um convite: dar aula na universidade em que se formou. Sobre isso Luciano ri muito, pois diz ter pena de seus primeiros alunos. Com grandes dificuldades de falar em público, lembra que suas aulas iniciais foram sob suor, dores, rosto vermelho e nenhuma didática. Por conta dessas situações pensou diversas vezes se realmente seguiria na vida acadêmica, mas o tempo passou e a paixão pelas aulas foi maior do que as incertezas.

O jornalista conta que o maior motivo da sua permanência no meio acadêmico foi o sofrimento enquanto aluno, com a falta de infraestrutura e de prática. "Tínhamos poucas máquinas de escrever, algumas quebradas, e não escrevíamos para veículos", lamenta Klöckner. Mesmo com ótimas aulas teóricas, acredita que é essencial conhecer o mercado de trabalho e dessa forma tenta incentivar e proporcionar isso aos seus alunos. Hoje, o seu maior esforço enquanto professor é para que os estudantes cheguem preparados ao mercado.

Junto com a docência veio a Rádio Gaúcha, local que lembra pelas experiências diversificadas e onde atingiu o desejado cargo de coordenador de jornalismo. Relata a interatividade que tinha com os ouvintes, como, por exemplo, o difícil dia em que noticiou um acidente de trânsito em que morreram o motorista e os passageiros. Uma mulher ligou para confirmar as informações e foi ela mesmo que informou ao coordenador que era a sua família que tinha acabado de morrer.

Embora feliz com o rádio, em 1999 a paixão pelos estudos e o desejo de realizar seu doutorado o fizeram dedicar-se exclusivamente às aulas, que nesse tempo aconteciam na PUCRS, na Unisinos e na ESPM. Mesmo com tanta prática, até hoje diz sofrer para falar em público, apesar de dar aula e ministrar um curso de Media Training. "Talvez seja um curso mais para mim do que para os outros", brinca o professor.
Da crítica ao reconhecimento

Foi na Folha da Tarde que recebeu uma crítica marcante. Apelidado de "foca", o novato jornalista tinha a missão de cobrir a visita do presidente Geisel ao Polo Petroquímico. No dia seguinte da publicação, o jornal concorrente tinha a melhor manchete e, por conta da pouca experiência, Luciano denominou sua matéria como fria, e do seu superior recebeu duras críticas. Mas esse episódio o fez crescer e mais tarde lembrou dele em diversos obstáculos que se apresentaram durante sua vida profissional.

Lembra com carinho especial de uma reportagem que escreveu para a revista Granja, que foi selecionada para o Prêmio Esso de Jornalismo. O professor percorreu 12 mil quilômetros por todo país acompanhando a saga dos agricultores gaúchos. Outro trabalho que considera especial foi uma trilogia de reportagens que fez para a Folha da Tarde, sobre Comendador Faustino Corrêa. Gosta tanto que ainda está pesquisando o assunto.

Há também elogios de terceiros a seu trabalho. O professor conta sobre uma matéria que fez na cidade de Fraiburgo, Santa Catarina, onde entrevistou Renê Frey, o fundador da cidade. Após a publicação da reportagem, recebeu dele uma carta, que guarda até hoje, elogiando o trabalho. "Fiquei emocionado, mesmo acreditando que as críticas são mais importantes, pois o elogio às vezes disfarça as imperfeições, e a crítica te pôe mais no prumo." 
A busca

Nos raros momentos de folga, Luciano gosta de estar em contato com a natureza, como a sua plantação de café, de diversos tipos de bananeira e bergamoteiras. Sem falar nos dois cachorros que tirou da rua, hoje seus companheiros. O lazer também inclui muita leitura, um dos principais passatempos do professor. Em casa, por opção, não tem internet e pouco assiste à televisão, mas quando o faz é para apreciar documentários. Sempre preocupado com o meio ambiente, além de separar o lixo e economizar água, ele vai de bicicleta para a faculdade e, por isso, defende as ciclovias.

Aos 51 anos, sendo 28 de carreira, Luciano não se considera um homem realizado, apenas vitorioso. Acha que tem muitos projetos para colocar em prática e muito para se viver ainda. Alguns deles são o livro que pretende editar com seus textos desde a infância, apenas para presentear as filhas, e outro com as gafes do rádio, projeto ainda inicial com o chargista Santiago. O jornalista também planeja morar num sítio, já que é apaixonado pela cultura do interior e guarda ótimas lembranças do tempo em Estrela, onde vivia com a porta da casa aberta e sentia-se seguro.

Considera-se fanático por notícia, em especial por rádio. Chega na faculdade às 7h com fone no ouvido transitando por três programas ao mesmo tempo. Quando selecionava candidatos na Rádio Gaúcha, a primeira pergunta que fazia era "qual a manchete do programa de hoje?". Se houvesse demonstração de incerteza na resposta, já era menos um ponto. Para o professor, os jovens devem ter certeza do que querem ao buscar um emprego e, no caso do jornalista, estar informado sobre o veículo.

Apesar da realização no jornalismo, Klöckner acredita que todo mundo tem diversos talentos. Por isso se vê em outras profissões, com atividades diferentes, pois se considera muito curioso e esforçado. "Me vejo inventando utensílios com energia alternativa ou como advogado. Sou feliz na minha profissão, mas gosto de muitas coisas", explica. O recado que Luciano deixa para quem está começando é saber exatamente o que quer: "Dedicação e estudo nunca podem terminar, deve ser uma constante na vida de todos."
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