Itamar Gravem: Leva a vida numa boa

Com formação na área financeira, o diretor da Armazém de Mídia se sente privilegiado em trabalhar na Comunicação

Divulgação/Coletiva.net

O filho caçula do militar José Ferreira Gravem e da dona de casa Geraldina Gravem não imaginava que, ao cursar Contabilidade, aos 17 anos, no Senac, iria parar em uma agência de publicidade. Nesta época, o diretor da Armazém de Mídia, Itamar Gravem, trabalhou como office-boy na (extinta) Símbolo Propaganda. Dois meses depois, em maio de 1971, aproveitou uma vaga na contabilidade e não parou mais. Passou pelas áreas comercial, financeira, foi diretor e sócio, entre 1986 e 2000, quando a empresa, que foi considerada uma das maiores do Rio Grande do Sul, fechou.

Atuando como diretor de Marketing da Associação Latino-Americana de Propaganda (Alap), entidade organizadora do Festival Mundial de Publicidade de Gramado, desde 2004, continuou em contato com o mercado mesmo após o encerramento da Símbolo, quando foi convidado por Nenê Zimmermann para trabalharem juntos na Armazém de Mídia, que na época tinha outra razão social, porém com o mesmo grupo que conta hoje. Na empresa, conta que faz tudo o que tem para ser feito. "Hoje em dia não existe mais um cargo específico. Pode ver nossa estrutura, é tudo terceirizado e o que precisar ser feito, nós fazemos. Somos diretores de nós mesmos", explica.

Bem diferente de quando começou e teve como desafio um segmento completamente desconhecido, no início, nem sabia o que uma agência de propaganda fazia, mas acompanhou toda a transformação do mercado. "Comecei numa época incrivelmente romântica da propaganda, trabalhando com grandes nomes, aprendi muito com eles e cresci como pessoa também", comemora. 

Formado em Ciências Contábeis e Economia, em 1976 e 1977, respectivamente, lembra que passava mais tempo na Famecos (prédio que abriga os cursos de Comunicação da PUC), do que onde cursava sua faculdade. Isso acontecia porque, na época, trabalhava na Símbolo e muitos dos colegas eram professores lá, a exemplo do fundador da Global, Romualdo Skowronsky. Além dele, nomes como José Daltro Franchini e Airton Rocha o ensinaram a ser muito exigente e são descritos como referências profissionais. "Estes caras eram os papas da propaganda quando eu comecei e, de repente, em um lapso de 15 anos, eu estava sentado em uma mesa diretora com eles. Decidindo junto e aprendendo", orgulha-se.

Este casamento de mais de 40 anos com a Comunicação só o faz se sentir um profissional realizado, ou melhor, sobre isso o adjetivo é outro: "Eu sou privilegiado! Já passei profissionalmente por todas as fases e ainda continuo firme. Só tenho a agradecer à vida por isso".

5X4

Casado por cinco vezes, Itamar está há um ano solteiro, mas fala com orgulho da boa relação que mantém com as suas ex. "Sempre dizia, quando casava, que seria a última vez. E acreditava nisso. O importante é o respeito e a boa relação que tenho com minhas ex-mulheres", ressalta. 

E não poderia ser diferente, já que os quatro primeiros casamentos deram frutos: Alexandre, que atualmente mora em Amsterdã, tem 34 anos e é programador; Marjore, que recém se mudou para Florianópolis, tem 28 e atua na área financeira; Jéssica, que trabalha no setor da saúde e tem 27 anos; e Itamar, que é estudante e tem 19 anos.

O caçula, com quem mantém uma relação extraordinária, foi passar uns dias na casa do pai e acabou ficando. Desde então, já se passaram dois anos. A Marjore é definida como a promoter da família. Além de aproximar todos e ser a mais agarrada com o pai, está sempre montando uma logística para que a família esteja reunida. "Toda vez que me separo, ela assume um papel de mãe e fica me ligando e perguntando se está tudo bem", confidencia.

Agora, a distância pode atrapalhar um pouquinho esta convivência, uma vez que ela mesma se mudou para Florianópolis com o marido e o filho Matheus, de 5 anos. Mas nada que o avô-coruja não tire de letra, recordando que o filho mais velho, Alexandre, nunca morou com ele, mas que sempre tiveram "uma ligação absurda", independentemente da proximidade, detalha: "Teve uma época em que fomos vizinhos, mas que mal nos víamos. Nos falávamos mais quando ele estava morando no exterior, do que quando ao meu lado. Por isso, acho que a proximidade física, geográfica, não tem muito a ver, continua tudo igual".

A Zona Sul é tudo de bom

Morador do bairro Menino Deus desde 1989, traz na lembrança a infância passada na Zona Sul da Capital.  Foi junto aos irmãos Vilmar, Zaida e Cleide Regina, "só para implicar, de sacanagem, pois ela odeia que a chamem de Regina", que recorda esse tempo, quando ele e o irmão estudavam na mesma série, pois a diferença é de apenas um ano e meio. Cursaram o Ginásio, no Bairro Belém Novo, em uma época que o Guaíba não era poluído e as aulas de natação, na disciplina de educação física, eram realizadas nos fundos da escola, em pleno rio.

Os passeios de fim de semana eram na praia do Lami, Belém Novo e Ipanema. "Nós morávamos na Edgar Pires de Castro e ali era tudo plantação de tomate, então, nos finais de semana, os pais nos levavam para aproveitar a água ali, bem pertinho de casa. Hoje, toda aquela região é cheia de condomínios", recorda.

Ainda lembrando daquela fase, também traz na memória quando viu, aos 8 anos, o pai vestido de militar e com arma, uma arma de guerra. O ano era 1964 e, no Brasil, tinha início o Regime Militar. Então, dona Geraldina chamou os filhos, que estavam brincando no pátio, para se despedirem do Sr. José, chamado pelo Governo para ficar de plantão no quartel. Até então, Itamar nunca tinha visto o pai armado, já que o mesmo trabalhava mais com a parte burocrática. As crianças sentiam que o clima estava muito tenso, mas não tinham noção de como eram as coisas. Naquela época, não existia nem televisão em casa, então, esta imagem o impactou bastante. "É uma lembrança absurda. Algo que eu nunca esqueci."

Do tênis ao pôquer

É no sítio, na Estrada da Branquinha, em Viamão, que Itamar aproveita seus momentos de lazer, ou jogando tênis, aos sábados pela manhã, que é seu passatempo favorito, ou padel. "Porto Alegre é um horror, porque chove muito. Quando o dia está bom, não precisa nem marcar comigo, é só aparecer no sítio que, entre 9h e 13h, eu e a turma estamos lá, jogando tênis".

Já aos domingos, os filhos começam a aparecer, assim como os familiares e alguns amigos, que chegam para o churrasco e a prática de esportes. Uma vez que no local tem quadra de tênis, padel, vôlei e tabela de basquete, único esporte que ele confessa que não suporta, mas que, por sua vez, os dois filhos homens praticam.

Mas se quiser encontrá-lo no domingo à noite, será na mesa de pôquer, na casa dele, que será encontrado. No espaço preparado para o jogo de cartas, reúne-se com um grupo de mais de 10 amigos, que, por seu turno, acabam levando outros, e assim vai. A atividade também é realizada nas noites de terça ou quinta-feira, dependendo da agenda de cada membro.

Quando tem oportunidade, também namora nas horas de folga, mas, segundo ele, são poucas as chances atualmente. Então, tem preferido ir ao cinema para assistir a filmes de ação ou suspense. Já a preferência musical é o rock e a banda favorita, em primeiríssimo lugar, é Pink Floyd. Tanto que já foi nos três shows do ex-integrante da banda Roger Waters, aqui em Porto Alegre e em Buenos Aires.

Fiel aos seus parceiros e amigos, destaca como principal qualidade a fidelidade e, como defeito, diz que não tem muita tolerância nem paciência.  Considera-se um lobo solitário, que gosta mais de ficar no seu canto, em momentos só dele. A expectativa para os próximos anos é que não tenha que estar fazendo mais nada, ou melhor, que tenha que fazer exatamente o que faz hoje, apenas com mais tempo para jogar pôquer. "Vivo intensamente cada dia e levo a vida na boa. É assim que quero continuar", conclui.

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