João Paulo Fontoura: Simples e saudosista

Fã da revista Placar, do bom e velho radinho e do jornal impresso, João é um apaixonado pelo jornalismo esportivo tradicional

João Paulo Fontoura

Simpático, disponível e, como um bom jornalista, comunicativo. João Paulo, conhecido como JP, é um cara de hábitos simples e leal aos amigos. No dia em que foi agendada a entrevista, precisou remarcar, pois uma amiga enfrentava problemas de saúde. Como era de se esperar de um homem que valoriza o que é mais importante, ele prontamente a priorizou - não sem se desculpar. Na nova data marcada, enquanto falava com o Coletiva.net, estava de bermuda e pés descalços, no conforto de casa, como manda a sua austeridade.

Falando nisso, João é caseiro e aprecia estar em família. Filho do médico pediatra Marco Aurélio Fontoura e da psicopedagoga aposentada Vera Margarida Fontoura, teve uma infância tranquila ao lado dos irmãos José Pedro, também jornalista, 35, e Luís Mario, produtor audiovisual, 42. Sobre o fato de os três serem da Comunicação, salienta que é mera coincidência. O irmão mais novo, inclusive, conta que ambos, apesar de serem da mesma profissão, discordam respeitosamente sobre alguns pontos, mas José Pedro admira os princípios e a convicção do irmão do meio, frisando o caráter de João Paulo. A família ainda é composta por duas cadelas: Fumaça, 5 anos, uma cimarron; e Fiona, 2, uma buldogue campeira.

João cresceu em meio a duas paixões, que na vida adulta se fundiram: futebol e jornalismo. Quando piá, jogava bola no colégio e na escolinha de futsal. E, nas vezes em que acompanhava o pai em partidas, admirava o pessoal trabalhando em campo e pensava: "Quero fazer isso". Outra lembrança viva é de seu avô, que andava sempre com um radinho pendurado. Além disso, mesmo pequeno, adorava a leitura das últimas páginas do jornal. O profissional ressalta que "queria ser lido e ouvido". O gosto pela bola e pela comunicação só se fortaleceu. "Sou saudosista. Ainda leio jornal impresso e sigo ouvindo rádio. Têm rádios espalhados por toda minha casa", conta, lastimando o fato de o jornalismo tradicional estar perdendo espaço para o digital. 

Jornalismo Esportivo na veia

Formado em Jornalismo pela PUCRS, em 2004; pós-graduado em Administração e Marketing Esportivo pela ESPM-Sul, em 2005; e mestrado em Ciências da Comunicação - Jornalismo pela Unisinos, em 2014, João direcionou sua carreira para o Esporte. No entanto, a primeira experiência profissional se deu apenas um ano depois de graduado. Sendo assim, como repórter, o principal obstáculo foi a falta de experiência. "Eu aprendi fazendo. A faculdade não me preparou para isso", lamenta.

Quem lhe deu uma mãozinha para conseguir a oportunidade foi o colega Duda Garbi, quando faziam um curso de extensão em Jornalismo Esportivo, em abril de 2005, na PUCRS. "Foi o Duda quem insistiu para o Xandão (Alexandre Pretzel) - um dos professores do curso - me dar um emprego como produtor e repórter da rádio Bandeirantes de Porto Alegre", dá os devidos créditos. Em sua passagem pelo veículo de comunicação, o ainda 'foca' produzia todos os programas da editoria, além da jornada esportiva. Quando foi para a rádio Gaúcha a convite de Luciano Périco, enriqueceu seus aprendizados. Mas não só de produção vive um jornalista: João também foi repórter do jornal Correio do Povo e do Portal Terra. Mas a experiência mais longa mesmo foi como assessor de imprensa do departamento de futebol do Grêmio, onde ficou por quase 10 anos.

Na trajetória como repórter, diz que um dos momentos mais marcantes foi cobrir a chegada da delegação do Inter dentro do gramado do Beira-Rio, tomado de gente, após ganharem o Campeonato Mundial em 2006. "Se não me falha a memória, quando coloquei os fones de ouvido no Gabiru, para que ele ouvisse o gol dele, além de se emocionar de uma forma tocante, relatou que aquela era a primeira vez que estava ouvindo o gol que marcou sua vida e de todos os torcedores do Inter", relembra, orgulhoso.

Já no período como assessor de imprensa do Grêmio, o maior momento na carreira foi estar no ônibus que desfilou por toda Porto Alegre na conquista do Tri da Libertadores, em 2017. "A gente não enxergava o chão das ruas de tanta gente. O Kannemam ficou todo o tempo comigo lá atrás e, na saída do aeroporto, chorava que nem criança; não entendia a idolatria do torcedor gremista com ele", revive. Uma semana depois, lá estava João, no banco de reservas - local onde a FIFA coloca o assessor de imprensa -, para a final Grêmio x Real Madri, em Abu Dhabi. "Inacreditável", descreve.

Atualmente, está ministrando o curso Gestão de Comunicação em Futebol, além de trabalhar na Success Esportes e na Liga Nacional de Futsal.  Na LNF, atua diariamente na edição do site. Na Sucess, é responsável pela comunicação da empresa. "Como assinamos uma parceria com a Chapecoense, nossas principais ações no ano estão voltadas ao clube", explica. João complementa relatando que, devido aos muitos contatos em 10 anos de clube com jogadores, treinadores, dirigentes e empresários, faz na Sucess bastante relacionamento e prospecção de parcerias.

Entre biografias, sambas e viagens

O João e o Jornalismo Esportivo são tão ligados que o pessoal e o profissional quase se fundem. Quer ver só? Quando pequeno, adivinhem só qual era uma de suas brincadeiras favoritas? Jogar futebol de mesa, hábito que, por sinal, adoraria retomar. Mas o que ninguém poderia prever é que, além do futebol, é um fã de Tênis. "Só não pratico por falta de dinheiro e companhia, mas quem sabe um dia", justifica. Tanto gosta que um dos seus livros favoritos é a autobiografia do tenista Andreas Agassi. Também cita como ótima leitura a obra 'Guga, um brasileiro'. Apesar de dizer que está lendo bem menos do que gostaria, como leitor assíduo que já foi, cita várias outras biografias marcantes como: 'O Anjo Pornográfico - A Vida de Nelson Rodrigues', de Ruy Castro; 'Minha Razão de Viver: Memórias de um Repórter', de Samuel Wainer; e 'Alex, A Biografia', de Marcos Eduardo Neves.

Quando não está trabalhando ou com a família, gosta de estar com os amigos, bebendo uma cerveja e saboreando um churrasco - embora ainda prefira o tradicional arroz e feijão do Brasil. Se for com um samba como trilha sonora, melhor ainda, uma vez que João é um apreciador do estilo musical brasileiríssimo como ele. Dentre seus artistas favoritos, encontram-se Fundo de Quintal, Jorge Aragão, Beth Carvalho, Reinaldo, Casuarina e Zeca Pagodinho. Apesar de gaúcho, diz ter um pezinho no Rio de Janeiro. O moleque atrevido, que sempre abraçou todas as oportunidades, mesmo diante de um desafio, pode se orgulhar de si ao som de Jorge Aragão: "Respeite a camisa que a gente suou, respeite quem pôde chegar onde a gente chegou".

Mesmo sendo caseiro e simples, não deixa de sonhar com os próximos destinos, preferencialmente na Europa, continente pelo qual se encantou ao ter ido viajar duas vezes para visitar o irmão, quando este esteve fora do País. "Sonho em conhecer cada vez mais lugares lá", idealiza. Entre os destinos, estão Lisboa, Porto, Praga, Budapeste, Roma, Madrid e Barcelona. Quanto ao último, lembra com alegria de ter visto um jogo do time que tanto admira. Na Copa da Rússia, por sua vez, em 2018, teve a oportunidade de conhecer Dublin, Bruxelas e Amsterdam. A trabalho, em 2020, também se encantou com a Inglaterra, em especial Londres e Liverpool. Sair de casa não parece nada mal com essas recompensas na memória.

O bom e velho jornalismo

Fã de rádio e do jornal impresso, João é um saudosista. Admirador do jornalismo esportivo mais romantizado, com vozes como Ruy Castro e Nelson Rodrigues, menciona outras referências da área: José Alberto Andrade, da Rádio Gaúcha; Fabrício Falcowski e Carlos Correa, do Correio do Povo; André Kfouri, filho do maior jornalista esportivo do Brasil, Juca Kfouri; e José Trajano Reis. No futebol, aponta Antônio Carlos Verardi e Roger Machado. Uma curiosidade sobre esse jornalista nostálgico é que guarda até hoje os exemplares da revista Placar.

Para ele, o jornalismo tradicional passa por um processo de reformulação que preocupa. "A nova geração está mais apta para lidar com as plataformas, mas peca muito em conteúdo com profundidade maior que um clique, um tweet ou um vídeo curto", acredita. Segundo João, está sendo criada uma cultura da rapidez do consumo de informação. "Eu não vejo sentido. Refletimos pouco sobre o que consumimos, pois não paramos de consumir e acho isso preocupante", alerta.

Sobre o futuro, reflete: "Não é fácil projetar uma carreira que se transforma radicalmente em pouco tempo. Os veículos de imprensa não têm mais o mesmo poder de alcance e de engajamento que outrora. Tenho dificuldades em enxergar o cenário que nos espera, e temo por ele também", finaliza, torcendo para que haja uma reviravolta e voltemos a valorizar o bom e velho jornalismo que ele tanto ama.

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