Rosa Helena Volk: Jornalista por acaso

Foi sendo eleita em concurso de beleza que Rosa Helena Volk descobriu seu talento para Comunicação

A elegância e o sorriso largo constatados no primeiro momento ratificam o começo da trajetória profissional da jornalista Rosa Helena Volk. Para quem queria ser psiquiatra e chegou a trabalhar na área - após cursar Terapia Ocupacional -, ela até que demorou para cair na real. Após ser eleita Rainha das Piscinas do Rio Grande do Sul e Miss Umespa, em 1975, foi sua beleza que a levou a descobrir o que viria a ser mais do que uma profissão, um talento. Durante a primeira Olimpíada promovida pela Umespa, a entidade fechou parceria com a TV Piratini, que transmitiria um boletim diário do evento esportivo. Sem recursos para contratação de profissionais, a saída foi "mandar a miss apresentar os informativos". Mesmo sem nunca ter visto ou vivido nada do mundo do Jornalismo, Rosa Helena não só deu conta do recado, como, ao final das gravações, foi contratada pela emissora para comandar um programa infantil.

Aos 52 anos, ela mantém a beleza e a vaidade da juventude. Aliás, se existe uma regra estética na vida dela, essa é jamais sair de casa sem brinco e sem batom. "Sair assim me faz achar que não sou eu", brinca. Pode ser definida como uma mulher leve, alguém que tem serenidade no que fala e no que faz. Mesmo com uma rotina intensa como secretária de Turismo de Gramado, onde reside desde 1997, Rosa Helena gosta de aproveitar os poucos momentos de folga com coisas simples, como caminhar na rua, estar entre amigos e curtir a família. E o ritmo sempre foi intenso. Desde os tempos em que se dividia entre uma clínica psiquiátrica e as atividades em televisão, até os dias de hoje, em que se dedica integralmente à gestão pública.

Nada de glamour

"O telejornalismo é, sem dúvida, apaixonante", diz Rosa Helena, que garante que a atividade fez bem não apenas para a profissão: "É impressionante como foi importante para o aspecto pessoal. Parece mentira, mas eu era muito tímida". Conviver com o glamour que o meio oferece nunca foi motivo para que a jornalista se deslumbrasse, garante. Sempre teve os pés no chão e diz ser, até hoje, muito "prática e terra-terra". Evidente que o reconhecimento nas ruas e o retorno que tinha da sua audiência envaideciam, mas nada capaz de torná-la uma estrela.

Na passagem pela TV Difusora (hoje, Bandeirantes), teve a oportunidade de comandar programas infantis, musicais e jornalísticos. O último foi o que mais a encantou na carreira. "Ter que estar por dentro de tudo, entrevistar pessoas muito interessantes, tudo isso era muito bacana." Outra experiência considerada enriquecedora foi o programa independente que manteve na emissora, quando a mesma já havia sido comprada pelo Grupo Bandeirantes. Junto a uma sócia, comercializava, produzia, gravava, editava e entregava tudo pronto para a Band. O chamado Programa Feminino, transmitido de segunda a sexta-feira, das 10h às 11h, durou seis anos na grade de emissora, de 1984 a 1990. "Foi o grande desafio da minha carreira. Posso dizer também que foi um dos poucos períodos em que o Jornalismo me deu muito dinheiro", conta, aos risos.

Deixou a televisão - meio em que também teve passagem pela Pampa - para atuar com comunicação empresarial, produzindo jornais internos para seis companhias diferentes. Nessa época, mantinha também um jornal próprio com o primeiro marido, o jornalista (falecido) Lupi Martins, voltado para o Hipismo.

Um novo Jornalismo

Separada de Lupi, com quem teve a filha Grace, Rosa Helena casou-se novamente. Com Horst Volk, ficou seis anos, tempo em que nasceu Fábio. Nove anos de separação não foram suficientes para terminar com a história do casal, que se reencontrou em 1994 e não se afastou mais. Em 1997, fez uma escolha que dura até hoje: mudou-se para Gramado. A primeira década na Serra Gaúcha a afastou do Jornalismo e só retornou em 2007 com um convite do então prefeito, Pedro Bertolucci, para coordenar a comunicação do órgão. "Voltar para o mercado foi muito bom. Nunca tinha trabalhado em órgão público, foi algo muito novo. Uma experiência bem diferente."

Ao final da gestão, outro convite, outra forma de praticar o Jornalismo cursado na Famecos. Foi a primeira mulher a ser empossada secretária de Turismo de Gramado. A função é o que toma todo o seu dia a dia, atualmente, pois pensa, vive e respira o Turismo da região. "Uma cidade que atingiu, no último ano, 4,9 milhões de visitantes (segunda ela, o número é equivalente aos turistas no Museu do Louvre, na França), é digna de ser tratada como gente grande", brinca, orgulhosa de participar do feito.

O caminho trilhado no Jornalismo também é motivo de orgulho. "Acho que já tenho idade para me sentir realizada", brinca, garantindo que, melhor do que olhar para trás e perceber que alcançou uma boa trajetória, é, ainda hoje, sentir-se desafiada. Vivendo um período instigante, ela diz que não é apenas o estímulo de usar a criatividade neste processo, mas ter muito suor e abnegação, como a vida pessoal, que hoje está em segundo plano.

Vida simples

E por falar em vida pessoal, o melhor lazer para Rosa Helena é caminhar por Gramado, algo que ela e Horst procuram fazer pelo menos aos finais de semana. Apesar de ter nascido em Porto Alegre e manter laços familiares na Capital, reconhece que não deseja sair da Serra. "É bom demais sair na rua e conhecer todo mundo, não se preocupar com a loucura do trânsito, ter mais segurança. São aspectos que acrescentam muito no nosso dia a dia e são importantes nessa época de vida que estamos", explica. O ritmo frenético - já que, além da Secretaria, participa de mais duas entidades da cidade, o Convexion Bureau e a Visão - não tem permitido nem ir na casa espírita, algo que sempre considerou fundamental.

Outras atividades que a fazem curtir os momentos de lazer são música, filmes e livros. O que faz bem aos ouvidos é MPB, ouvindo, por exemplo, Chico Buarque e Maria Rita. "Faz relaxar e voar nos pensamentos", resume. Em Literatura, além dos técnicos, as obras espíritas nunca a abandonam: "Esses são os meus grandes companheiros". A sétima arte, ela diz ser uma paixão, herdada desde os tempos em que levava os filhos nas festas e ficava acordada até a hora de ir buscá-los. Gênero? Não tem uma preferência, mas sabe muito bem o que não gosta de assistir: se nega a ver filme de terror.

Laços indestrutíveis

Filha do comerciário Antônio Marcos (falecido) e da dona de casa Doralice, que mora com ela, Rosa Helena conta que foi criada de uma forma muito terna e amorosa. Com os pais, aprendeu a importância de um olhar carinhoso e da superação. "Custa bastante para que eu diga que estou cansada ou que não vou conseguir fazer algo. Sempre acho que posso mais", completa. Teve um irmão, três anos mais velho, Luiz, que faleceu aos 48, vítima de problemas cardíacos. Ao lembrar da perda, com nítida tristeza, trata logo de recordar a infância, a qual considera "bárbara", e empolga-se ao falar da fase: "Cresci no bairro Bom Fim e foi tudo muito gostoso. Tanto que mantenho laços com duas amigas há 50 anos, a Eliane e a Jussara, ou melhor, a Nana e a Jú", recorda.

O mesmo amor com que foi criada, ela tenta repassar aos filhos. Grace Caroline tem 32 anos e é advogada. Atende à Sociedade dos Mineradores de Areia do Rio Jacuí (Smarja), tem um escritório em Gramado e dá aula em curso de Pós-Graduação. Fábio, de 26 anos, é formado em Hotelaria e, recentemente, concluiu o curso para comissário de bordo. Morou nos Estados Unidos, na Alemanha, na Inglaterra e, agora, reside em Florianópolis. "Esse tem os dois pés no Turismo. É realmente um cidadão do mundo." Com os herdeiros, a quem chama de "maravilhosos", mantém uma relação muito próxima, mesmo tendo trabalhado a vida toda fora de casa. "Tenho certeza que o nosso vínculo afetivo é algo muito forte. É indestrutível. Foi o que eu recebi dos meus pais e tenho certeza que passei adiante." O melhor elogio a se ouvir? "Tu és a melhor mãe do mundo."

O marido, que foi prefeito de Gramado e fundador da Calçados Ortopé, também é alguém a quem admira muito. "Além de um grande parceiro, é uma referência profissional. Um cara de muita visão, que, como gestor, teve iniciativas que perduram até hoje. Temos uma relação muito gostosa, muito participativa." Foi ao lado de Horst que Rosa Helena morou na Alemanha, por três anos, um período considerado enriquecedor.

O que vê da vida

Ao longo da carreira, a jornalista garante que ouviu muitas críticas, mas, por não ser de guardar mágoas e ressentimentos, diz que todas foram absorvidas de forma positiva. A maturidade, segundo ela, faz todo mundo aprender e se dar conta de que é necessário refletir. "Toda vez que alguém me critica, penso que, por algum motivo, aquilo me foi dito. E garanto que, às vezes, ela ajuda muito mais do que um elogio." Teimosia é uma característica que pode ser considerada um defeito e uma qualidade. E é assim que Rosa Helena se vê. Por um lado, acha que tem que ouvir melhor as pessoas, ser mais flexível. Por outro, é bom ser obstinada, porque sempre busca fazer o melhor e nunca está satisfeita.

Além da crítica e da teimosia, se tem algo que ela entende ser o ideal para viver, é ver-se como uma pessoa espiritualizada. "Sei que não estou aqui por acaso e que tenho um tempo exato de vida. Aliás, não tenho pavor de morte, pelo contrário, acho que temos muitas moradas para conhecer ainda", decreta aquela que se diz uma pessoa de bem com a vida. Quem é a Rosa Helena? Ela responde: "Sou realizada e feliz. Não tenho muitos apegos materiais. Penso que tudo é muito melhor dessa maneira e, acreditando nisso, posso me esforçar para tornar a vida de outras pessoas um pouco melhor".
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