Klécio Santos: A política como norte

Do Jornalismo político à consultoria de comunicação, Klécio Santos escolheu o "inferno" de Brasília como seu céu

Klécio Santos | Crédito: Mauro Vieira
Por Karen Vidaleti
Cultura, arquitetura e política são algumas das áreas que pautam a trajetória do jornalista Klécio Santos. Porto-alegrense, cresceu em Rio Grande, encantou-se por Pelotas e aceitou a missão de fazer Jornalismo político no turbilhão de Brasília, onde vive há 17 anos. Firme nos passos, fez do "inferno" seu céu e hoje tem certeza que construiu uma carreira vitoriosa. Atualmente, é chefe da comunicação do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e colunista da revista Voto.
A conexão com movimento estudantil na juventude estimulou o interesse pela política, enquanto as construções de Rio Grande inspiravam o gosto pela arquitetura e história. Ao término do Ensino Médio, a escolha no vestibular ficou entre a Arquitetura e História, mas acabou optando por outro curso, o Jornalismo. "A profissão englobava as três coisas que eu mais gostava. Encontrei no Jornalismo uma forma de dar vazão a essas paixões", reflete.
Formado pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), teve as primeiras experiências profissionais na área cultural, redigindo resenhas de filmes para o jornal Agora e para o suplemento O Peixeiro, distribuído nas portas do cinema em Rio Grande. "Na época, tinha o boom de videolocadoras e eu gostava muito. Na editoria de cultura, também me envolvi bastante com teatro", recorda. Klécio cobriu os primeiros ensaios do Grupo Teatro Frio, foi jurado de festivais e membro do conselho do Teatro do Círculo Operário Pelotense.
O caminho seguiu na editoria, pela qual esteve à frente do caderno de cultura do Diário da Manhã, foi repórter do Diário Popular e correspondente do Correio do Povo, em Pelotas. Foi também nessa função que passou a integrar, em 1992, a rede de repórteres de Zero Hora no interior do Estado. Lá, destacou-se na reportagem de assuntos de cunho histórico e político, o que o levou à sucursal do jornal em Brasília. "A carreira vai dando voltas e, desde que cheguei a Brasília, em 1999, meu norte tem sido a política", afirma.
Investigação e gestão
De repórter a colunista e diretor da sucursal de Brasília, dentre as lembranças estão as coberturas jornalísticas das eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014, quando também coordenou o evento Painel RBS, com entrevistas aos presidenciáveis em cada pleito. As grandes reportagens, que requeriam as pesquisas mais aprofundadas, também estão entre os feitos que recorda. Em uma delas buscou retratar a origem do chavismo, na Venezuela, e, para isso, Klécio localizou e entrevistou personagens como o professor de beisebol e a primeira namorada de Hugo Chávez.
Pautas sobre eleições, diplomacia e narcotráfico estão na lista das reportagens mais marcantes, realizadas como enviado especial na Venezuela, na Colômbia e nos Estados Unidos. Um dos maiores desafios, no entanto, concentra-se justamente no direcionamento da carreira ao posto de gestor, o que sucedeu a criação da sucursal multimídia do Grupo RBS. "Os repórteres trabalhavam com todos os meios de comunicação, não só em uma mídia. Carolina Bahia é, talvez, o principal exemplo do trabalho que era feito. Foi um grande desafio ter sido elevado a executivo. Gosto de ter trazido pra Brasília grandes repórteres e de vê-los fazer ótimos trabalhos", reconhece.
Vêm dessa época algumas das referências profissionais de Klécio, como o jornalista Ricardo Stefanelli, pelo nível de exigência e estímulo ao trabalho de repórter. "Ele era o cara das missões impossíveis, era quem mantinha sempre a busca pela perfeição e obstinação pelo quase impossível", relata. Também são citados por ele os jornalistas Augusto Nunes, que dirigiu a redação de Zero Hora no começo dos anos 1990, e Marcelo Rech, atual vice-presidente Editorial do Grupo RBS, que o estimulou a, além da política, se voltar a outras áreas como a diplomacia. Na arte de escrever, uma inspiração é o norte-americano Gay Talese.
Distante da rotina de veículo de comunicação desde 2014, quando deixou o Grupo RBS, Klécio se dedicou à coordenação de comunicação do senador Lasier Martins, antes de assumir a chefia da área no Ministério do Desenvolvimento Social, comandado por Osmar Terra. Além do atendimento à imprensa, responde pelas áreas de produção, publicidade, estratégia e gestão da equipe, formada por aproximadamente 30 profissionais. "A demanda é grande, mas conseguimos montar uma boa estrutura de atendimento à imprensa. A política não tem hora, é quase 24 horas. O "inferno" que é essa rotina, a adrenalina do dia a dia me faz bem", afirma.
Com Master de Jornalismo pela Universidade de Navarra (Espanha) e Instituto Internacional de Ciências Sociais, e MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), considera que a experiência e o conhecimento adquiridos dentro dos veículos jornalísticos ajudam agora a lidar com situações do cotidiano de assessoria e consultoria em comunicação. "É complicado. Esta gestão assumiu com a pressão de que o governo iria acabar com os programas sociais. O que é legal é que aprendi a ver o outro lado da notícia, o quanto é importante ser transparente", enfatiza.
O guri do Sul
Nascido na capital gaúcha, em 9 de maio de 1968, é no município de Rio Grande que está a maior parte das memórias de criança. A família mudou para a cidade no Sul do Estado quando era menino, aos 10 anos. Filho do descendente de portugueses Acacio e da uruguaia Odulia, se diz bastante ligado a Rio Grande e Pelotas, lugares que guardam algumas das suas melhores lembranças, como os jogos de futebol e o veraneio na praia do Cassino. "Gosto ainda hoje de passar um bom tempo lá. Férias perfeita para mim é no Rio Grande do Sul, revendo amigos e algumas das emoções da minha infância. Gosto de Porto Alegre, mas me sinto mais um cara da região Sul", comenta.
Também foi desenvolvido na infância o gosto pela arquitetura, com o que chama de uma especial predileção pela arquitetura de Pelotas, por prédios históricos. Não por acaso, cursou pós-graduação em Artes, com especialização em Patrimônio Cultural, e é autor dos livros "Sete de Abril, o teatro do imperador", "Mercado Central - Pelotas 1846-2014" e "O reino das sombras - Palcos, salões e o cinema em Pelotas", publicado no volume 2 do Almanaque do Bicentenário de Pelotas. "Os livros são uma forma de prestar quase que um agradecimento à cidade, por ser tão bonita", diz.
Filho mais novo na família que se completa com os irmãos Kleber e Kênia, Klécio é casado com Maria Lúcia e pai de Vítor, de 20 anos, estudante de Biologia na Universidade de Brasília (UnB). Torcedor do Grêmio e do Esporte Clube Pelotas, do qual é conselheiro, tem no futebol um hobby que divide com o filho. "Faço o possível para estar em casa nos jogos do Grêmio, porque é o momento de assistirmos juntos", explica. O Uruguai, terra materna, é outro lugar para o qual gosta de ir com a família, sempre que pode. "Lá, torcemos para o Peñarol", acrescenta.
Além do gosto pelo esporte, a literatura é, claro, uma paixão. Quanto às leituras, a preferência é por consumir vários livros ao mesmo tempo. "Paro um e continuo lendo outros", explica, como tática para que a história demore mais a acabar. E como todo o escritor, também guarda um vasto acervo, dividido em três imóveis. "Sou um colecionador de livros, obras raras e viajantes", revela, ao estimar a coleção entre 3 mil e 5 mil exemplares.
100% jornalista
Para o futuro, pretende continuar resgatando histórias: um dos próximos livros tratará sobre os 140 anos Biblioteca Pública de Pelotas. Passar um período fora do País também está nos planos, mas não como um ano sabático. O desejo é mesmo manter o trabalho em consultoria política, mas também trabalhar em campanha eleitoral. "Vim para o Ministério e acabei não fazendo campanha, mas é uma coisa que quero fazer", destaca.
Na essência, Klécio diz que sempre será jornalista, embora exercite também a Literatura e o Marketing Político. "Me considero 100% jornalista - acho que a gente nunca deixa de ser. Consegui me reinventar fora da redação e esse é um desafio do jornalista. O Jornalismo precisa ser como um certificador. Tem tanta gente dando opinião, que vira uma bagunça e só o Jornalismo sério, feito pelos veículos, pode certificar o que é fato do que não passa de boatos", ratifica.
Klécio considera-se alguém obstinado e perfeccionista, característica que avalia como positiva e negativa ao mesmo tempo. "Como todo taurino, sou obsessivo com perfeição, mas chega em um grau que vira um defeito", acredita. Ele se diz feliz e realizado como jornalista e gestor. "Sou um cara extremamente feliz no que estou fazendo. Gosto de trabalhar com pessoas, e o fato de hoje estar aqui e ter uma galera comigo me deixa muito feliz. Não tive tempo de me sentir mal em nenhum momento em minha vida no Jornalismo", afirma.

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