Laura de Azevedo: Fora da curva

Diretora de Criação e head de Inteligência Criativa da Moove fala dos desafios da carreira e do orgulho de estar em uma posição de liderança

Laura de Azevedo - Divulgação

Por Patrícia Castro

A filha mais nova do funcionário público federal Francisco e da dona de casa Maria Luisa lembra com orgulho do apoio familiar que sempre recebeu. Diretora de Criação e head de Inteligência Criativa da agência Moove, Laura de Azevedo explica que a profissão sempre demandou muito da vida. "Esta tranquilidade que eles me passavam foi superimportante. Sabia que sempre tinha alguém na retaguarda e que não precisava me preocupar." Da infância, recorda as brincadeiras nas ruas do bairro Teresópolis, quando a diferença de idade entre ela e o irmão mais velho, André, seis anos, era mais perceptível e, por isso, as brincadeiras eram com os amigos da vizinhança.

Também carrega as lembranças de momentos vividos na casa onde cresceu, herança da avó. Lá, viveu por 28 anos até se casar com o representante comercial Carlos Augusto e com quem mantém uma relação de 38 anos, nove deles de namoro, até o casamento, em 1990. Eles se conheceram em uma festa de aniversário dela, em 1981, quando ele foi sem ser convidado e acabou roubando não só a cena, como, também, o coração da aniversariante. Do relacionamento, nasceu o único filho, Lucas. O músico e violonista de 25 anos é motivo de orgulho da mãe-coruja.

A rotina diária começa às 7h com o café da manhã e atualização de notícias em jornais. Depois, segue para a agência e assume que, durante a semana, foca na vida profissional. Em contrapartida, nos finais de semana, gosta de ficar com a família, fazer alguma reunião em casa com os amigos, ir ao cinema com o marido e, quando possível, com o filho também. Além disso, o casal aproveita o sábado e o domingo para fazer sua caminhada de, aproximadamente, 10 quilômetros, pelas ruas do bairro Santa Cecília, pela Praça da Encol ou, ainda, pela Orla do Guaíba. Confessa que quer voltar a correr e, para isso, está preparando o fôlego, também, com exercícios na academia. No futebol, é torcedora do Internacional.

Criando histórias

Se não fosse publicitária, talvez seria escritora ou roteirista, pois sempre gostou de escrever. Aliás, lembra a época em que trocava cartões-postais com pessoas que nem conhecia. "Curtia muito aquilo, de falar da minha vida e de conhecer as outras pessoas", explica, citando que, às vezes, olha as pessoas na rua e cria uma história do que aconteceu na vida daquela pessoa. "Se vejo alguém de cara amarrada, já começo inventar uma história na minha cabeça de que a noite de sono ou o fim de semana daquela pessoa não foi legal", revela.

Entre os livros, os romances policiais são os que a fazem parar para ler, porém, por força da profissão, tem feito leituras mais técnicas. "Mas a minha preferência é aquele que tu pega e não consegue largar porque tem uma história que te envolve, que te prende, que faz tu se apaixonar pelos personagens", analisa. Já no cinema, diz que adora drama e romance. "Não gosto de filmes de aventura, ação e terror", confessa.

As preferências musicais são por Música Popular Brasileira (MPB) e samba, especialmente depois que o filho começou a se dedicar à música. "Ele tem a banda Samba & Amor e estamos em total envolvimento, inclusive, eles estão lançando disco agora", derrete-se.

Definindo-se como uma pessoa determinada, Laura diz que costuma reagir muito bem a desafios. "Já assumi posições que nunca tinha feito antes e adorei", orgulha-se. Como defeito, destaca-se como alguém impulsivo e ansioso. "Acho que uma coisa está ligada à outra", avalia. E a qualidade é ter um bom relacionamento interpessoal e facilidade em se adaptar.

A religião espírita é a que ela tem mais afinidade. O motivo é que, no ano em que casou, o marido descobriu um câncer e, lembra, em questão de 20 dias ele se operou e curou, sem nem precisar fazer quimioterapia. "Foi na casa União Espírita que recebemos muito apoio e que nos aproximou da doutrina. Carlos continua trabalhando na casa até hoje e eu frequento sempre que possível", compartilha.

Pequenas passagens

Laura é formada em Comunicação Social, com ênfase em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas, em 1983, pela Fabico, da Ufrgs. Chegou a fazer dois semestres de Jornalismo, mas desistiu, pois viu que o que queria, mesmo, era seguir na propaganda.

Começou a trabalhar no segundo ano da faculdade na pequena Agência Z, o que, para ela, foi bom e ruim ao mesmo tempo. "Desde que comecei na carreira, não queria mais voltar para a sala de aula, pois aprendia muito mais na rua, na prática", explica. Atuou na Criação e Redação nas extintas Mercur, Raul Moreau Propaganda e Expressão Brasileira de Propaganda, e teve passagem pela Êxitus.

Depois, aproveitou uma oportunidade na RBA Comunicação, em Novo Hamburgo, onde atuou por dois anos. Pediu para sair para ajudar o marido, que fazia tratamento contra o câncer. "Naquele momento, nada mais me importava. Queria ficar mais próximo dele." Seu retorno à profissão foi na Módulo Propaganda". Dois anos depois, estava na Escala, onde reencontrou colegas como Eduardo Axelrud, Mauro Dorfman e Vitor Knijnik, que, em seguida, montaram a Dez.

Passou, ainda, pela Centro de Propaganda, onde fez supervisão criativa, cargo criado para suprir a função de diretor de Criação. Na Acori trabalhou com a conta das lojas Arno, quando a DCS comprou a agência e ela saiu para trabalhar na agência Dez, na campanha de Germano Rigotto, em 2002. "Meu desafio foi produzir os programas de rádio, quando tinha que escrever desde os roteiros até sentar ao lado do editor. Foi uma loucura maravilhosa", recorda.

Antes, chegou na Matriz de um jeito, no mínimo, curioso e, sem dúvida criativo. Como não conhecia Roberto Philomena, pensou uma forma para se aproximar do publicitário. "Descobri que ele adorava futebol de botão, então, comprei uma caixa do jogo, coloquei o logo da agência em cada um dos jogadores e mandei com um bilhete dizendo que queria fazer parte da equipe." Funcionou e, em 15 minutos, o executivo a chamou para uma relação que seria de 13 anos.

Longa carreira

Dessa época, lembra com pesar da morte do colega Ricardo Lima, que faleceu na festa de final de ano da Matriz. "A festa foi no Vila Ventura e ele entrou em campo para jogar futebol com o pessoal. Cinco minutos depois, teve um infarto. Foi horrível, todo mundo de volta para Porto Alegre, chorando", recorda. Na agência, atendeu às contas do Zaffari, do Sebrae e da AES Sul.

Em 2016, surgiu a oportunidade de trabalhar em home office, em sociedade com a diretora de Criação e designer Taina Fiori Hagemann. Assim, nasceu o estúdio criativo de Alfaiate - Apresentações Corporativas e Design Gráfico. "Quem nos conhecia abriu algumas portas, como o trabalho que fizemos com a Centro, que foi o lançamento do plano de governo do Sartori. Com a crise, em 2017, as coisas foram diminuindo e minha sócia foi morar em São Paulo. A Alfaiate continua existindo, mas tocado por ela", explica.

Entrou na Moove em maio de 2017 para cobrir uma licença-maternidade e foi ficando e, em janeiro de 2018, assumiu a Direção de Criação. Em janeiro de 2019, a agência se reestruturou e a colocou na nova posição de head de Inteligência Criativa. "Estar nessas duas funções é um ponto fora da curva, pois, segundo levantamento do Meio e Mensagem, as mulheres são, apenas, 26% na Criação e 14% nas posições de liderança", analisou.

Entre os principais desafios que encontrou na carreira, destaca os trabalhos feitos nas campanhas políticas, o trabalho no núcleo do Zaffari e, atualmente, a participação na Moove. Planos para o futuro? Talvez esteja ajudando o filho na carreira dele. "Não me vejo parando de escrever, mas não sei como será o mercado daqui a 10 anos, já que tem profissões que estarão bombando e ainda nem existem. Porém, uma coisa é certa: não estarei parada", garante.

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