Luciana Tosi: Disposição para aprender

Gerente de Mídia da agência Centro, a publicitária encontrou na persistência a chave para o sucesso profissional

Ela tinha uma fita, um videocassete e um sonho. E, através das palavras e da melodia de Lulu Santos quando cantou "e quando um certo alguém cruzou o teu caminho e te mudou a direção", percebeu que a escolha pela Publicidade e Propaganda era uma trilha para a qual sempre esteve destinada. Gerente de Mídia da agência Centro, Luciana Tosi relembra que o gosto pela Comunicação a acompanha desde a adolescência. 

Chegou a ter dúvidas entre Jornalismo e PP, mas um hábito curioso facilitou a decisão. "Minha mãe assistia muito aos telejornais. Eu adorava ver com ela e, ao mesmo tempo, adorava os comerciais dos intervalos. Então, comecei a gravá-los para ver depois. Achava muito interessante", lembra. 

Na sala de aula, a então estudante universitária entendeu que a propaganda vai muito além da história construída, de belas imagens ou de uma frase marcante. Com a professora Silvia Koch, inspiração profissional até hoje, descobriu o universo da mídia e encontrou sua paixão. Formou-se em 1994 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e, mais de 30 anos depois, segue com a satisfação e o brilho nos olhos de quem jamais cansou de aprender. 

E voltando ao Lulu Santos, que conecta poeticamente a relação da porto-alegrense com a publicidade, foi trabalhando em uma campanha para o Iguatemi - em que a música foi utilizada - que se deu conta: "Estou vivendo e fazendo parte da construção dos comerciais que costumava gravar para assistir depois". 

No sangue 

A busca incansável pelo melhor que a vida tem a oferecer é traço de família. Com a promessa de boas oportunidades, o pai, Vitorio Tosi (já falecido), saiu de Modena, no norte da Itália, rumo ao Rio de Janeiro. Como muitos imigrantes da época, juntou as malas mais uma vez e veio parar em Porto Alegre. Elvira Lanziotti (também falecida) - que, depois do casamento, também virou Tosi - era brasileira, filha de italianos e, em uma extensão das tradições italianas em solo gaúcho, formaram uma linda família, com nove filhos, sendo Luciana a caçula. 

Tempo vai, tempo vem, seis dos herdeiros da junção Lanziotti Tosi ainda estão vivos. Porém, mesmo aqueles que já não estão mais presentes neste plano, seguem existindo, eternizados em lembranças que passam de geração em geração. "A melhor parte da minha infância foram as férias de julho, em que os primos Omar Zaman e Viviane Santiago, que moravam distante, vinham ficar conosco em Porto Alegre. Todo domingo, a brincadeira era no sítio da mãe, na Zona Sul", recorda, seguindo: "No verão era o contrário, nós saímos daqui e íamos para Cachoeira do Sul, na casa da Viviane, e era o máximo poder brincar na rua, com aquela liberdade e segurança que só o interior tem". 

E nada na vida de Luciana nega o sangue dos costumes bordados com vinho e farinha. Na cozinha de dona Elvira, o prato preferido da filha era o nhoque. Ah, e não dá para deixar de fora o capeletti com calabresa. "Era bom demais e eu ajudava a fazer a massa", ressalta. Entre as viagens mais marcantes, está, naturalmente, a ida à Itália. Além de conhecer o município onde o pai nasceu, também desbravou os encantos de Milão, Roma e Veneza, lugar que mais amou. 

E o que já estava bom ficou melhor com um sinal de Santo Antônio, a quem é devota. "Tenho certeza que ele me levou até lá. Despretensiosamente, parei numa cidade chamada Pádova e alguém perguntou se tínhamos ido na Igreja de Santo Antônio, onde estão as relíquias dele. Foi muito especial", destaca. 

Do outro lado do balcão 

Atraída pela combinação entre técnica, lógica e criatividade, Luciana saiu da faculdade já empregada na área que ganhou seu coração. O primeiro estágio foi conquistado com ousadia: em pleno Carnaval, curtindo a festa em Balneário Camboriú, voltou de viagem antes do tempo, debruçou-se na lista amarela e ligou para todas as agências que encontrou. 

Na Meio Comunicação, colocou à prova o conhecimento obtido na graduação e confirmou que havia encontrado seu nicho no mercado. Os anos foram passando e ela foi acumulando experiência e aperfeiçoando seu portfólio. Como mídia, de estagiária, passando por assistente, atendimento, executiva e gerente, tem no currículo relevantes nomes da PP, como McCann Erickson, onde trabalhou com contas como Coca-Cola e Tim, e agência Upper, em que atendeu Iguatemi e Móveis Dell Ano. 

O quebra-cabeças da área - planejamento estratégico, seleção de espaços, negociação, compra de mídia, análise de mercado, gerenciamento das campanhas e resultados e relacionamento estreito com as marcas - nem sempre foi compreendido como parte fundamental da Publicidade e Propaganda. E foi em uma época de baixa valorização do profissional de mídia que Luciana resolveu encarar o outro lado do balcão. 

Em veículos, passou por Techmidia - que se tornou, tempos depois, CBS Outdoor -, Rede Pampa, Grupo Sinos e LIFEpoa. A provocação para a tentativa veio de uma colega, e a publicitária não se arrepende da trajetória. "Dei uma chance e amei! Além de mais qualidade de vida, era muito legal lidar direto com o cliente, sentar, conversar e fechar negócio. Gostei tanto que fiquei 15 anos em veículos", pontua. 

Do limão, uma limonada 

"Insista, persista e não desista." O mantra dito pela professora de Matemática da oitava série ficou tatuado no cérebro de Luciana. Com essa ideia em mente, nunca teve medo das mudanças da Comunicação, como a evolução do digital, e sempre respondeu aos desafios com "se não sei fazer, aprendo". 

Com a pandemia de Covid-19, ficou desempregada. Fez uma tentativa de retorno a veículo, mas com as empresas freando investimentos em publicidade, sentiu que não era mais aquele caminho que devia prosseguir. Já tendo passado pela Centro, foi lembrada por Tadeu Viapiana, um dos sócios, e convidada a retornar. Em dezembro de 2021, como gerente de Mídia, retomou sua jornada na agência. "Fui conversar e bateu aquela coisa do primeiro amor. Foi como se eu nunca tivesse saído da mídia de agência. O trabalho fluiu espontaneamente", pondera. 

Gerindo pessoas, tendo sido também uma iniciante na carreira, que viu e viveu as dificuldades do mercado, desenvolveu também a habilidade da inteligência emocional. O cargo é de gerente, mas para extrair o melhor dos executivos, às vezes, faz o papel de "mãe" e até "psicóloga". Não consegue desgrudar da operação, mas vislumbra com contentamento o crescimento e a importância de estar por dentro do "penso" da agência como um todo. 

"O mais positivo de trabalhar na Centro é porque a valorização é real. Tenho autonomia, uma boa relação com os sócios, posso executar as tarefas sabendo que existe confiança no meu trabalho e sou muito grata por isso", enfatiza. E como uma das resistentes no mercado, reconhece que as empresas passaram a elevar os profissionais qualificados tanto na questão estratégica quanto financeira. 

Segue a tua senda de vitórias 

E da mistura com o Brasil, Luciana também carrega com força as raízes daqui. Colorada fanática, não perde um jogo do Internacional. Um dos lazeres favoritos, que dá equilíbrio à vida profissional e pessoal, é reunir a família para acompanhar uma partida do time do coração. 

Casada há 15 anos com o empresário Adriano Pinto, também colorado e de descendência italiana, divide ainda a paixão por outro esporte: o vôlei. O marido foi jogador profissional e, juntos, não recusam uma partida. Todo ano, religiosamente, viajam para a Praia de Cima, na Pinheira, em Santa Catarina. Amam fazer as malas e conhecer o mundo. O próximo destino, aliás, já está definido: vão para a Inglaterra, visitar os sobrinhos que lá vivem. Parceiros, com origens parecidas, se dão muito bem e cultivam uma relação feliz e saudável. Mas, com certeza, o requisito principal faz diferença: "Se ele não fosse colorado, não tinha como, não ia dar certo", brinca ela. 

Olhar apurado 

Os profissionais da Comunicação estão acostumados a ouvir que a função não é simplesmente o que eles fazem, mas quem são. Com Luciana, não é diferente. A modalidade de trabalho híbrido lhe fez muito bem, que considera ganhos positivos com a mescla da troca presencial e os benefícios de poder executar suas tarefas de casa, ou de qualquer outro lugar. Adora ir ao teatro, shows. Tem entre seus preferidos da música Legião Urbana, Coldplay, Maroon 5, Alok, David Guetta e não dispensa um bom samba e pagode. Conhecer novas culturas, fazer de tudo um pouco e, em cada canto, ainda conseguir enxergar ideias, tendências e perspectivas para seguir aprimorando suas entregas no meio da mídia. 

Daqui a cerca de 10 anos, Luciana se imagina aposentada - no papel, ao menos. "Não quero parar de trabalhar. Tenho vitalidade, inteligência e quero contribuir com projetos novos." Deseja agregar, ainda, a prática do voluntariado, especialmente no Instituto do Câncer Infantil. A dificuldade não passa despercebida por ela. Ajudar, de uma forma ou outra, é parte do seu DNA. Sabe que também tem seus próprios desafios, como o de ser um pouco crítica e sentir certa resistência ao ser criticada, porém não anula suas qualidades. Uma mulher determinada, focada, sensível, afetuosa, daquelas que adora reunir a família e os amigos, passou por inúmeras fases e, com resiliência, reinventa-se sempre que necessário, com a cabeça erguida e otimismo. 

Fraternidade 

Coleciona aprendizados e elogios a diversos colegas que passaram por sua carreira, mas exalta com amor fraterno que sua referência de vida é sua irmã Virgínia. "Ela me ensinou tudo sobre a vida, como se virar em situações difíceis, como sair delas mais forte, como aproveitar a vida", revela com carinho. "Infelizmente, ela não está mais aqui, é uma saudade diária, e sempre será a minha pessoa." 

O destino, sabendo disso, encarregou-se de dar a Luciana não apenas um, mas outros sete amigos do mesmo sangue. Parceiro desde a infância, a publicitária tem a alegria de ainda poder dividir a vida com o irmão Mario. "Ele é meu cúmplice até hoje", afirma. E por onde passa, de conversa leve e riso fácil, ela deixa essa marca de quem cativa, daquelas pessoas que é agradável de se ter a companhia. Sorte de quem, na carreira ou no âmbito da amizade, ainda passar pela vida dela.

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