Mauro Borba: Entre o rock e a burocracia
O radialista foi um dos fundadores do circuito de rock alternativo no Estado
O radialista Mauro Borba divide sua rotina profissional entre a apresentação de programas e a administração da Rádio Pop Rock 107,1. Porém, quando não está trabalhando, gosta de levar uma "vida simples", fazendo coisas como curtir a mulher Gabriela e o filho Rafael, experimentar novos temperos na cozinha, caminhar na Sogipa ou ler: "Estou sempre lendo alguma coisa. No momento, "Entre aspas" do Fernando Eichenberg".
Hoje em meio a notas fiscais e CDs de Raul Seixas, o apresentador dos programas "Cafezinho", "A Hora do Rush" e "Boys Don"t Cry' esteve, desde menino, ligado ao rádio. "Ainda criança acompanhava o meu pai no estúdio da Rádio Cachoeira, onde ele apresentava um programa de música nativista aos sábados à tarde. Daí o meu interesse por rádio", recorda ele, citando a rádio de Cachoeira do Sul, cidade onde nasceu em 1958. Sua atuação oficial começou aos 15 anos, quando foi trabalhar na mesma emissora, como operador de áudio de um programa da madrugada chamado "Fim de Noite", que "só tocava músicas de boemia, tangos e boleros".
Decidiu morar em Porto Alegre e fazer vestibular para Comunicação. Foi aprovado na Unisinos e começou a trabalhar no Banrisul. A convite do amigo Nilton Fernando, com quem já conversava sobre fazer uma rádio, entrou na rádio Bandeirantes FM, como programador: "Tocava basicamente MPB", relata.
O primeiro contato com o rock "pesado" surgiu quando Ricardo Barão entrou na emissora. "Ele entrou na Band fazendo um programa de rock. Eu conhecia Raul Seixas, Beatles, mas achava o som do Bob Dylan muito estranho. O Barão me apresentou ao Led Zeppelin, Jimmy Hendrix e outros mais pesados", lembra. Com a aquisição da Rede Difusora de TV e rádio em Porto Alegre, pela Band, foi criada a Ipanema 94,9 FM, e aí toda a equipe que atuava na Band FM migrou para a nova emissora. A Ipanema entrou no ar em 1983, como a primeira rádio de rock e músicas alternativas do Rio Grande do Sul. Lá, Mauro começou seu programa "A Hora do Rush", em referência ao tráfego do fim do dia e como homenagem ao grupo de rock canadense.
"Alternativas" ou comerciais
O jornalista passou nove anos na Ipanema, e em 1992 foi para a Felusp 107 FM, rádio da Ulbra, a convite da diretora de Comunicação Social da Universidade: "No começo, o nome não agradou, as pessoas não entediam por que o nome "Felusp". Aí tinha que explicar que era "Fundação Educacional Luterana de São Paulo", que era a mantenedora da Universidade", diz ele. A direção concordou com a troca do nome, e, enquanto nenhuma sugestão era aprovada, os apresentadores anunciavam a rádio como 107. Foi numa viagem a Buenos Aires que o radialista descobriu o "Pop Rock" para a emissora. Lá havia uma rádio chamada "Rock and pop", que o fez pensar em "Pop Rock". Quando levou a idéia à reitoria da Universidade, recebeu a negativa: "A Ulbra, num primeiro momento, não achou uma boa idéia. E como a gente já estava usando 107,7, passamos a falar "107 Pop e Rock", ou "a sua Pop Rock", como um slogan. Isso foi pegando até que as pessoas começaram a chamá-la de Pop Rock. Chegamos a ponto de ter que oficializar, porque todos já estavam falando Pop Rock. A Ulbra, a essa altura, já estava convencida de que este era mesmo um bom nome", pondera.
Quanto à programação da rádio, a primeira idéia do locutor foi concorrer com a Ipanema: "Na época, a Felusp tinha o estilo de rádio alternativa mais rock, mais lado B. Mas isso não deu muito certo, porque a Ipanema já era uma rádio consolidada e eu não conseguiria tirar a audiência de lá e trazer para cá. Aí, tive que abandonar essa idéia, porque a Felusp não reagia, tinha uma audiência muito pequena. A solução foi criar um meio termo: uma rádio que não fosse tão alternativa quanto a Ipanema nem tão comercial como era, na época, a Atlântida. Aí se consolidou a Pop Rock", acredita Mauro.
A experiência nas FMs lhe dá autonomia para avaliar as mudanças ocorridas nos perfis das rádios, com o passar dos anos: "A Ipanema já não é mais tão alternativa como era, em alguns momentos ela é, em outros, não. E a Atlântida também não é mais a rádio tão comercial como era. Há momentos em que ela é mais alternativa do que nós (da Pop Rock)". Em sua avaliação, todas as rádios mexeram no seu conteúdo nesses últimos tempos. "Eu não sei pra que lado isso vai. Naquela época era bem definido: só a Ipanema era alternativa, as outras rádios eram comerciais, e só a Ipanema tocava certas coisas. Hoje está muito misturado", comenta, dando como exemplo as emissoras que programam rock, pagode, e outras que também incluem música sertaneja.
Roqueiro funcional
Há 14 anos atuando como gerente operacional da rádio, Mauro confessa que a função teve um início complicado, mas que não o fez desistir da oportunidade: "Ainda é um pouco (complicado). Porque prefiro é ir para o estúdio fazer "A hora do Rusch", por exemplo. Eu me divirto, né? É a minha essência. Mas tive que assumir essa função, que foi oferecida e resolvi encarar, mesmo não tendo nenhuma experiência anterior. Nunca tinha administrado nada!", diverte-se.
Ele admite que teve que perguntar muito para entender do assunto: "Estou até pensando em fazer uma Pós-Graduação na área de administração", revela. E considera que há uma falta de profissionais que entendam de rádio e administração ao mesmo tempo: "Uma coisa é tu só fazer rádio, romanticamente, sem saber quanto custa, quanto ganha, quanto paga. Também não serve. Rádio é uma empresa diferenciada porque lida com música, com cultura e com mercado fonográfico. Mas é uma empresa igual às outras: paga impostos, contrata e demite funcionários", explica.
Um dos planos para o futuro é adquirir maior conhecimento na área: "Eu preciso aprender o que é isso de gestão de marketing, gestão empresarial, gestão de pessoas. Por isso, leio Exame, Você S.A. Essas revistas que falam do mundo executivo. Aliás, estou pensando em fazer um curso com esse perfil de gestão, que é o que preciso ser: mais gestor do que locutor", define.
A descoberta pós-anos 80
Da sua experiência no rádio, escreveu o livro "Prezados Ouvintes", lançado em 1996 pela Editora Artes e Ofícios, no qual conta sua relação com o rádio desde os tempos da Rádio Cachoeira: "Ta tudo no livro", fala. Já a partir de seu relacionamento com a música da década de 80, com bandas como The Cure, por exemplo, criou o programa "Boys Don"t Cry" na Pop Rock.
Mauro conta que sentia saudades das músicas da época. Assim, decidiu fazer um programa com essa seleção: "Pensei: pô! Eu quero tocar umas músicas que não tocam mais, mas que eu tocava e gostava nos anos 80. Foi um programa que eu fiz pra mim. Então descobri um monte de gente que estava com a mesma carência. Comecei sem nenhuma pretensão e acabou se tornando referência", explica. Ele descreve que viveu uma "overdose de anos 80": "Eu já estou meio de saco cheio dos anos 80", brinca: "De uma hora para outra, os anos 80 viraram moda. Agora acalmou um pouquinho, mas até uns anos atrás era uma febre", esclarece.
Foi a partir do "Boys Don"t Cry" que Mauro passou a produzir festas com o mesmo tema. Atualmente acontece uma por mês, no Teatro Cine Ipiranga. Porém, ele prevê que diminua o número delas, para deixar de comprometer seu final de semana. O motivo principal, na verdade, veio ao mundo há quase um ano: o filho Rafael. "É uma grande descoberta. Tive com a idade avançada e penso que deveria ter tido antes", alegra-se.