Jorge Polydoro: "Meu trabalho é quase um hobby"

"Arquiteto por formação, jornalista por ofício." Assim se define Jorge Alberto Sedrez Polydoro, porto-alegrense nascido a 16 de maio de 1949

Polydoro - Reprodução

"Arquiteto por formação, jornalista por ofício." Assim se define Jorge Alberto Sedrez Polydoro, porto-alegrense nascido a 16 de maio de 1949. Desde cedo, ele queria ser designer, mas esse curso não era oferecido no Brasil e suas lições de alemão nunca foram muito longe, de forma que não pôde garantir uma vaga na Escola Superior da Forma, na Alemanha, que depois inclusive foi fechada. Assim, ingressou na Faculdade de Arquitetura da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), mas logo se decepcionou com a atividade acadêmica.

Foi no início de 1969, já decretado o AI-5 (Ato Institucional 5), quando seus professores começaram a ser cassados, inclusive um com quem trabalhava como desenhista, num escritório de arquitetura. O jovem acabou abandonando o curso, que só retomaria dez anos depois, na Unisinos (Universidade do Vale dos Sinos). Quando se afastou da faculdade, Polydoro abriu uma loja, que apresentou um conceito moderno para a época: vendia roupas, lanches e livros. A loja não durou muito tempo. Em seguida, foi convidado para "gerenciar o 'Pato Macho'", um jornal alternativo criado no Estado, no final da década de 60, por Luis Fernando Verissimo, o arquiteto Cláudio Ferlautto e o publicitário Sérgio Rosa, entre outros. "Me chamaram na segunda fase do jornal, quando estava sendo editado pelo José Antônio Pinheiro Machado e dirigido pelo Ruy Carlos Ostermann", lembra.

O nome de Polydoro foi lembrado, pois ele poderia atuar na parte gráfica e já tinha alguma experiência financeira, graças à sua atuação no comércio. Logo que chegou, no entanto, já foi convocando uma reunião para sugerir o cancelamento do projeto, "enquanto ainda havia dinheiro para pagar as contas". E foi o que aconteceu, pois a publicação era mantida pelos sócios, que já estavam ficando sem recursos. Mas o fim do 'Pato' não encerrou sua carreira em jornal. Em 1972, Polydoro foi contratado pela Folha da Manhã, como diagramador. Paralelamente, desenvolvia outros trabalhos de programação visual e design gráfico. Depois de dois anos, ele e Elmar Bones, que era editor da Folha, deixaram a Caldas Júnior para abrir a Verbo, empresa que atuava na edição de jornais e revistas para empresas. "Tivemos clientes importantes, como o Sport Club Internacional", cita como exemplo.

A união faz a força

Na mesma época, começava a surgir entre os jornalistas da cidade a idéia de formar uma cooperativa de trabalho. O projeto, que tinha como objetivo principal a criação de um jornal nos moldes de outra publicação italiana, começou já com a participação de diversos profissionais, como o próprio Bones, José Antônio Vieira da Cunha, que foi eleito seu primeiro presidente, Luiz Cláudio Cunha e Rosvita Saveressig. Polydoro e Elmar decidiram apostar na iniciativa que tomava corpo, e abandonaram a Verbo para se dedicar às atividades da Cooperativa dos Jornalistas, a Coojornal, que no seu início especializou-se na edição de publicações para terceiros, sejam empresas ou entidades.

A cooperativa cresceu e, em 1976, seu boletim interno, chamado "CooJornal", chegou às bancas. Polydoro assumiu ainda as funções de direção de arte e da área comercial, até 1978, quando, por razões pessoais, deixou a publicação e passou a fazer parte da cooperativa apenas como "uma espécie de conselheiro". Ele sentia que precisava diminuir sua carga de trabalho, dedicar mais tempo à família, mas guarda boas lembranças da época. "O CooJornal cresceu e se tornou um jornal nacional. Num determinado período, tivemos mais exemplares vendidos no Rio de Janeiro que no Rio Grande do Sul."

Outro fato recordado por Polydoro foram as visitas feitas pela Polícia Federal aos anunciantes do jornal. A publicação sofreu repressão por divulgar uma lista dos mais de 4 mil políticos cassados no Brasil até aquela data. Algumas empresas não deixaram de anunciar, como a Unimed. Outros empresários, temerosos em relação a eventuais represálias, tiveram que suspender sua publicidade no veículo, porém se comprometeram em ajudar a cooperativa de outras formas. Foi o caso do Grupo Gerdau, por exemplo, que investiu o mesmo valor de seus anúncios em um novo projeto.

Devido a esse episódio, Polydoro fez inúmeras visitas a seus anunciantes e, assim, conheceu os empresários Jorge Gerdau e Luiz Otávio Vieira, então presidente do Sesi (Serviço Social da Indústria). "Se não fosse por isso, talvez hoje não existisse a revista Amanhã", conta. Porque foi desse encontro com Vieira, que viria a presidir a Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul), que surgiu o projeto RS Anos 90, que "não decolou como programa para estimular debates sobre o desenvolvimento do Rio Grande do Sul". Então, Polydoro sugeriu que o projeto fosse desenvolvido através de fascículos semanais, que debatessem temas relativos ao crescimento do Estado.

Nasce a Amanhã

Em 1981, já definitivamente afastado da cooperativa, pôde então se dedicar a uma publicação em forma de livro, chamada Oitenta. Editada pela L&PM, tinha ainda as participações de José Antônio e Ivan Pinheiro Machado, José Onofre e Eduardo Bueno, o Peninha. Antes, a editora chama-se Ciclo e Polydoro atuava lá fazendo capas de livros, como 'O Analista de Bagé' e 'Velhinha de Taubaté', de Verissimo. No ano seguinte, fundou a Plural, que no início se especializou em produzir catálogos para empresas. E, em 1986, foi a vez do projeto da Fiergs. Sua proposta de desenvolver fascículos foi aceita e ele se tornou consultor do projeto. Assim nasceu a revista mensal Amanhã, produto da Federação, desenvolvido por sua empresa.

Em dois anos, a Fiergs já tinha esgotado os temas que pretendia debater na publicação e, de comum acordo, Polydoro assumiu o título, que passou a ter o apoio da entidade. A revista Amanhã, que no início era só mais um projeto da Plural, no período entre 1991 e 1993, começou a crescer e a missão foi torná-la uma revista de economia e negócios, com foco regional e circulação nacional. A meta foi alcançada e hoje é a principal revista brasileira editada fora de São Paulo, cidade onde a editora abriu um escritório nesta semana. Surgiu, então, um novo núcleo editorial na Plural, que passou a contar com José Antônio Vieira da Cunha como sócio.

Diversos veículos passaram a ser desenvolvidos para empresas e foi criada a revista Aplauso, especializada em cultura, que receberá uma série de mudanças em sua próxima edição. Ainda são produzidos pela Plural os fascículos que vêm encartados, no Estado, na revista de economia, referentes ao projeto Cenários de Amanhã. Primeiramente publicados no corpo da revista, os fascículos foram ganhando cada vez maior importância. O projeto ainda envolve reuniões e eventos, das quais participam jornalistas, empresários e lideranças políticas. No ano passado, a Plural criou o Instituto Amanhã, uma organização localizada ao lado da editora e que utiliza a mesma logomarca da revista.

O surgimento da instituição se deu no momento em que a publicação mudou seu foco para a gestão. Por isso, o Amanhã tem como posicionamento ser um instituto dedicado à transmissão de conhecimentos na Região Sul.

Atitude do jornalismo

"Agora sou empresário, embora seja um empresário que se comporta muitas vezes como um jornalista. É que ser jornalista é ter um tipo de atitude diante das coisas e eu prefiro ter a atitude do jornalismo", avalia Polydoro, que completa: "Não tenho formação acadêmica em Jornalismo, mas acho que ninguém aprende a profissão fazendo o curso. Se aprende a ser jornalista trabalhando com o jornalismo." O empresário-jornalista tem uma intensa agenda de trabalho, mas tenta sempre achar um tempo para dedicar à família. Ele mesmo se considera um "pós-casado" e tem dois filhos com a ex-mulher, Beatriz.

O jornalista Felipe é diretor de redação adjunto das revistas e Manuela é formanda em Biologia e está de malas prontas para Nova Iorque, Estados Unidos, onde fará doutorado em Neurociência, na Universidade Albert Einstein. Por enquanto, os dois continuam morando com o pai. Os três compartilham momentos de lazer em casa, mas Polydoro também tenta manter atividades intelectuais nesses raros instantes. "Meus momentos de lazer são ainda para exercitar esse lado." Ele ocupa esse tempo lendo, indo ao cinema ou participando do Cafe Filó, projeto desenvolvido no Café do Porto, sempre no último sábado de cada mês, para debater um tema qualquer. Também gosta de praticar esportes, especialmente, futebol e caminhadas.

Polydoro é nervoso e aponta isso como seu maior defeito. "Ainda não tenho o controle emocional para me comportar como um líder deveria. Mas todos reconhecem que já fui muito mais autoritário e que agora estou mais aberto e compartilhando mais as decisões." Mas, por outro lado, se quer controle emocional deverá conseguir, pois como qualidade diz que é muito perseverante. "Coisa de taurino", brinca. E é brincando que diz o que pensa de si mesmo: "Meus conhecidos acham que eu trabalho demais, eu acho que trabalho demais, mas é que, parafraseando um amigo, eu gosto tanto do que eu faço que é quase um hobby."

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