Miguel de Luca: Gestor da propaganda

Miguel de Luca conta como foi de contínuo no Correio do Povo para Empresário de Comunicação do Ano

Quem conversa com Miguel de Luca sai a convicção de que ele tem paixão pelo que faz. Não poderia ser de outra forma, já que são mais de 30 anos dedicados ao mercado de Comunicação e quase 25 à frente da Escala - onde compartilha a direção com Alfredo Fedrizzi, Fernando Picoral, Reinaldo Lopes e Paulo Melo. Poucas são as empresas que figuram em seu currículo, mas a trajetória sólida, construída em cada um dos lugares que passou, contribuiu para que alcançasse neste ano o reconhecimento de Empresário de Comunicação do Ano, pela Associação Riograndense de Propaganda (ARP). Deslumbrado com o título? Não. Na verdade, faz questão de dividir os louros e creditar o mérito à equipe. "Não é um prêmio para o Miguel de Luca, é para a Escala", diz, modesto. "O reconhecimento é muito mais pela empresa que eu represento do que para o profissional."
O publicitário não esconde o gosto pelo negócio e, em especial, pela gestão. "Gosto de trabalhar com a segurança do negócio, com o olhar de manutenção, de sustentabilidade. Isso me deixa bastante motivado", garante. Recorda que, na adolescência, a instituição de ensino em que estudava, o Colégio Marista São Pedro, trazia no hino a seguinte frase: "Colégio São Pedro avante, com fé progredir, vencer". Talvez por isso olhar sempre para frente, manter os pensamentos voltados ao futuro, seja algo com o qual se acostumou a fazer.
Um acaso que perdura
Um ano ruim nos estudos foi o impulso para o início da trajetória profissional de Miguel, aos 16 anos. Certo de que não passaria de ano, viu no trabalho uma maneira de amenizar o impacto da notícia junto à família, uma vez que o pai era bastante rígido com relação às notas na escola. Um vizinho o indicou para uma vaga na rádio Guaíba e, ao chegar lá, foi encaminhado para outro cargo, esse no Correio do Povo. Ao se deparar com uma vaga para contínuo, uma espécie de office boy para serviços internos, não hesitou em aceitar a oportunidade.
Não foi reprovado naquele ano de 1971 e o emprego que era para ser temporário permaneceu. "Comecei a ganhar um dinheirinho e disse: "Não quero mais parar"", relembra. Acabou fazendo carreira no jornal e, cinco anos mais tarde, tornou-se o primeiro executivo para atendimento Comercial do Correio, passando a intermediar o relacionamento com o mercado, o que, até então, nunca havia sido feito no veículo. "O Correio tinha uma dificuldade muito grande de se relacionar com o mercado. Na visão do acionista, esse tipo de relação comprometia a independência do jornal. Não era legal vender anúncio, o anunciante tinha que ir lá e comprar", recorda. E a primeira visita como executivo foi à extinta Exitus Publicidade, na época comandada por Luiz Coronel, Plínio Monte da Rocha e Ricardo Rizzo Campos.
Aos poucos, o desejo de cursar Oceanologia em Rio Grande, que mantinha junto com dois amigos, deu espaço ao gosto pelo negócio. E, em 1980, deixou o jornal para se associar ao amigo e padrinho Ney Silveira, e abrir as portas da Ney Silveira e Associados. Em pouco tempo, a agência foi incorporada pela Escala em um processo de fusão, que o colocou entre os sócios minoritários. Era 1988, quando passou a ser um dos sócios controladores da empresa e, ainda que acredite na propaganda como um desafio constante, considera a mudança de posição como um momento de superação. "Tínhamos 30 e poucos anos, éramos muito jovens, e tínhamos o controle de uma empresa madura, com robustez, que já era líder de mercado", recorda, destacando que os primeiros passos na organização com os sócios e a definição de papéis foram pontos importantes na vida de empresário.
Lembranças de guri
Filho da dona de casa Marisa Rosa e do comerciante Paulo de Luca, Miguel é o mais velho entre seis irmãos. Natural de Porto Alegre, deixou a cidade com a família aos seis anos rumo a Esteio, onde viveu até os 11 anos. Entre as recordações da infância está o petiço Nick, que ganhou logo que a família se mudou para a nova cidade. "Meu pai achou que para o desenvolvimento da gurizada, o bom era morar em um lugar mais amplo. Fomos para a chácara e eu ganhei o petiço. Era como um cachorro para mim. Vivia com ele", conta. Também lembra com carinho a movimentação provocada pelas reuniões de família na chácara aos fins de semana, "uma verdadeira função". O retorno à Capital foi motivado pelos estudos.
Apesar de reservado quando o assunto é vida pessoal, não esconde o orgulho ao citar a família. Há quase 20 anos, é casado com a publicitária Rosana Tomazini. "Ela trabalhava numa empresa que fazia produção. Fui levar um trabalho para um cliente que eu atendia e me apaixonei. Fácil assim", brinca, ao resumir a história do casal. Aos 55 anos, é pai de Carolina, 33, e Mariana, 30, do primeiro casamento. Completa a família o enteado Camilo, de 25 anos.
O cotidiano começa cedo, mais precisamente às 7h, e entre as primeiras atividades está a prática de ginástica. "Odeio fazer, mas é uma questão de saúde, tenho que fazer. Pura obrigação", confessa. Às 9h é o início dos trabalhos na agência e também o fim da rotina. "A partir daí, cada dia é novo, tem um assunto novo, um briefing novo, uma oportunidade nova de mercado", diz.
Longe da propaganda, gosta de viajar, apreciar um vinho e conviver com os amigos. Cozinhar está entre as atividades de lazer que considera quase uma terapia. Compra os ingredientes, vai ao mercado, à feira, mas não se considera um exímio cozinheiro, "faço porque gosto", comenta, revelando que entre os favoritos estão a paella e pratos típicos da culinária gaúcha. Quando o assunto é esporte, se diz um gremista não praticante, ao lembrar que a última vez que o ato de torcer pelo time o levou a um estádio tinha 11 anos.
Sem enrolação
As canções preferidas são de música popular brasileira, rock antigo e contemporâneo. Pagode, eletrônico e sertanejo universitário são os gêneros que passam longe do playlist de Miguel. Já o cinema, apesar de gostar, não é uma especialidade. "Minha cultura sobre cinema é muito restrita. Não sei nome de filmes, de diretores". Sempre  que o questionam sobre algum filme, ou seu diretor, a resposta é um simples "não sei". Na literatura, além de assuntos de interesse para o negócio e os clientes, o último livro foi "Incrivelmente Simples", escrito pelo ex-diretor criativo da Apple, Ken Segall. Aliás, um presente do sócio Fedrizzi.
Como um bom virginiano, gosta das coisas organizadas e acredita ser alguém de fácil relacionamento. Por outro lado, crê que, por vezes, é um pouco ansioso, gosta que os problemas sejam resolvidos da forma mais breve, "sem muita enrolação". Objetivo, diz que com frequência é visto como "simplificador da situação". "Sou direto na decisão. Para mim, as coisas devem ser decididas em cima de fatos. Não gosto de muito rodeio", explica.
Certa vez, questionado por um amigo terapeuta sobre por que fumava, não hesitou em responder: "Porque eu gosto". Imediatamente foi diagnosticado: "O próprio egossintônico". O termo é usado para definir personalidades em que a atividade mental está em conformidade com o ego. Para essas pessoas, portanto, as decisões são encaradas sem muito conflito. O vício ele abandonou, mas o diagnóstico ainda o acompanha e frequentemente é lembrado entre os amigos.
Desafio e inspirações
Entre as referências de Miguel está Adão Juvenal de Souza, figura que marcou época como um dos pioneiros no mercado publicitário gaúcho. "Um cara com quem convivi muito pouco, mas tive um aprendizado grande. Era um homem espetacular, de uma transparência e maneira de se relacionar, que serviu de inspiração para a minha conduta empresarial e profissional", explica.
Cita também os sócios e valoriza a complementariedade das personalidades distintas. "O jeito de pensar, encarar a vida, essa soma multifacetada de perfis fazem da Escala o que ela é". Mas nem sempre a consonância prevaleceu no convívio. Confessa que no início da sociedade precisaram da ajuda de uma consultoria externa para harmonizar as relações entre os sócios. Tinham uma média de 30 anos quando assumiram o controle da agência, "todos muito jovens, impetuosos, com muita energia, todo mundo dono do negócio. Queríamos fazer mais, mas primeiro era preciso manter o negócio, para depois evoluir".
Talvez esse tempo tenha chegado. O principal desafio de Miguel, no momento, inclui o crescimento da agência. "Tenho a visão de que, para manter a empresa na liderança e dar oportunidade para talentos, pessoas que têm condições de fazer a diferença para o nosso negócio, precisamos crescer. Estamos investindo desde 2008 numa operação em São Paulo, e o desafio agora é crescer por lá". A transparência e a ética também são constantemente defendidas por ele. "Acho que a gente tem que trabalhar para ter uma relação transparente, ética, sempre querendo fazer o melhor possível pelas pessoas que trabalham com a gente", argumenta.
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