Patrícia Fraga: Protagonismo que agrega

Casa cheia, família, amigos, viagens e muito amor pelo trabalho. Tudo isso move a vida dela

Patrícia Fraga - Crédito: Jefferson Bernardes/Agência Preview

A frase que muito circula na internet "Eu não vim ao mundo a passeio" pode ser facilmente empregada na vida dela. Patrícia da Silva Fraga não gosta de ser coadjuvante, nem na família, nem entre amigos, tampouco no trabalho. A linha de frente é naturalmente seu habitat preferido e onde ela sente que faz a diferença. No dicionário, um dos significados da palavra líder é "pessoa cujas ações e palavras exercem influência sobre o pensamento e comportamento de outras". É disso, afinal, que a diretora-executiva de Mercado e membro do Comitê Executivo do Grupo RBS gosta mais.

O cargo atual ela assumiu ainda neste ano, mas a trajetória na empresa tem mais de duas décadas. "Tenho muito orgulho de estar conseguindo, em poucos meses, entregar resultado com o nosso time, bater meta, cumprir o que planejamos", enaltece. Entendendo que é uma líder próxima, disposta a ajudar a resolver problemas, a dar protagonismo para as pessoas encontrarem seus caminhos, Pati, como é conhecida, gosta de provocar sua equipe a sugerir soluções, permitir que errem e que se arrisquem. "Foi assim que cheguei até aqui. Acho que é justo e honesto da minha parte proporcionar o mesmo às pessoas que trabalham comigo", avalia.

De sorriso fácil, ela fala rápido, tem um surpreendente poder de síntese, mas há sempre clareza nas explanações. Pati também tem a gratidão como sentimento permanente enquanto recorda sua trajetória. Ao garantir que teve gestores que a ensinaram muito e viram nela talentos que nem a própria percebia, diz que tenta extrair o melhor do seu time. Sabe, porém, que maturidade pessoal vem com o tempo, pois há coisas que só se aprende com a vida. E por falar em aprendizados, não deixa de citar quem tanto lhe ensinou. Elenice Pires Franco, Flávio Steiner, Marcelo Leite e Andiara Peterle são alguns dos nomes exaltados pela executiva. "Gostaria que me vissem como um mix deles, pois são pessoas a quem admiro."

Alguns feitos

Ainda que Pati tenha muitas convicções, a trajetória não foi desenhada ou planejada, mas soube aproveitar cada oportunidade que surgiu e fazer suas escolhas em cada uma delas. Nem mesmo entrar na RBS foi um sonho. Com 18 anos e iniciando a faculdade de Administração com ênfase em Finanças na Ufrgs, a jovem precisava de uma colocação que lhe permitisse conciliar os horários confusos da graduação. Encontrou no call center de assinaturas da organização a chance que precisava, com horários bastante flexíveis. Começava, então, as duas faculdades, como brinca: a teórica, na federal do Estado, e a prática, no conglomerado de mídia. 

Empreendedorismo individual, foi nisso que ela consolidou o caminho percorrido no grupo, buscando conhecimentos que agregassem, aceitando os desafios propostos e aproveitando cada brecha que encontrava para contribuir e crescer. O segundo passo foi virar facilitadora de vendas, momento em que passou a trabalhar com indicadores e entender termos como KPI's, produtividade e otimização. Vendas foi o chão dela por longos anos - ela nem sabe quantificar ou especificar datas. Ajudou a criar áreas, produtos, processos e soluções.

Do Comercial para o Marketing, passou por diversos setores dentro dele, assumindo o planejamento comercial, criando uma área de Produto para os jornais (a exemplo das plataformas Destemperados e Donna). Nas palavras dela, era muito divertido poder empreender nesses ambientes. Além da liderança, definiu como um caminho a área de Negócios e fez especializações. Participou do grupo de trabalho que atuou na chamada virada comercial do Grupo RBS, quando a equipe passou a olhar o cliente como um todo e não de forma compartimentada, e também fez parte do lançamento do projeto GaúchaZH. Como trabalhava muito próxima à área de Mercado, com uma espécie de dupla com Marcelo Pacheco, com a saída dele, o caminho foi natural.

Liderar é mágico

Foi sendo supervisora de vendas, e migrando para publicidade, que começou uma história de amor com a liderança. "Nessa área, tive certeza que queria ser gestora de pessoas, independentemente do setor, achei aquilo mágico. Liderar um time e ter entregas de equipe é incrível pra mim", diz, argumentando ainda que o sucesso não pode ser individual, mas compartilhado. Antes do atual cargo, ainda trabalhou como gerente comercial e foi nessa época que recebeu o convite de Leite para montar uma área de Inteligência de Mercado, que ainda não existia na unidade de jornais, apenas uma corporativa.

Para Pati, a liderança tem um caminho interessante. Hoje, enxerga seu papel menos importante em desenvolver e mais relevante em apoiar, construir junto. "Quando os subordinados são mais jovens, sei que tenho muito a ensinar e orientar, mas quando se trata de pessoas com carreiras mais consolidadas, foco em dar espaço e autonomia para que elas também encontrem o caminho", reflete. Mas engana-se quem pensa que ela "só" lidera. A diretora adora executar, "tirar uma maluquice do papel e transformar em algo que dê receita, despesa e lucro". Gosta quando volta de uma reunião com um cliente que tem um problema sem uma solução pronta. "Encontrar essa solução é o que brilha meu olho."

Estudar também está entre as atribuições que considera imprescindíveis para um líder, e não apenas formalmente. Ainda que saiba a importância de uma graduação e suas complementações, acha que, atualmente, existem muitas formas de adquirir conhecimento. Por entender que vivemos num mundo de negócios que é muito dinâmico, o que se aprende nunca é suficiente. Então, é preciso se atualizar frequentemente e com temas que façam sentido para si. Uma das formas ela encontra na Literatura e gosta dos títulos técnicos, mas também aqueles que inspiram séries. 

A propósito, não gosta de ver na TV a mesma história que leu, pois geralmente se decepciona. A parte curiosa é que, sozinha, diz que escolhe mal as obras, então, prefere receber indicações. O livro atual da cabeceira é 'A coragem para liderar', de Brenè Brown. Para assistir, confessa que vê poucos filmes e séries, pois prefere priorizar a leitura ao final do dia, para desacelerar. Quando se propõe a acompanhar algo na televisão, opta pelas produções "mais água com açúcar" e a última que viu foi 'Amigas para sempre'. "Não posso indicar nenhuma série, pois acho que passaria vergonha", brinca.

Casa divertida e barulhenta

Filha de pais separados, Pati tem mais dois irmãos de sangue e outro tratado como tal. É que ela é a segunda de uma prole de três - a enfermeira Carla é a mais velha e o administrador Adriano, o caçula - mas seu pai casou novamente e o enteado dele, Rafael, é considerado por ela como irmão. O aposentado José Nilo era vendedor e trabalhou boa parte da vida na extinta CGA - Companhia Geral de Acessórios, da GM. Por muitas ocasiões levou a herdeira para o ambiente de trabalho e ela achava o máximo girar em sua cadeira de escritório e desenhar no risque e rabisque que tinha em cima da mesa. 

Já a mãe Zilma trabalhava num banco quando teve a irmã mais velha, mas decidiu sair do emprego quando percebeu que a menina estava se apegando mais à babá. Pati tem cinco anos de diferença de Carla e oito de Adriano, mas, apesar da diferença de idade entre eles, garante que se tornaram muito companheiros. Na infância, além do trio, muitos primos e amigos completavam os momentos de lazer, e é dessa época, especialmente na praia do Imbé, que ela guarda as lembranças mais gostosas. "Minha casa era divertida e barulhenta. Sempre muito cheia, era frequentada por multidões, especialmente aos finais de semana e nos veraneios, que duravam de dezembro até março", recorda. 

A casa, aliás, é a mesma até hoje, mas não tinha portões, a exemplo das construções vizinhas, o que faz a executiva lembrar que passavam por entre os pátios de todos para chegar à beira do mar, passavam o dia na rua, andando de bicicleta, praticando esportes. Tudo isso sem celular, o que não era motivo dos pais surtarem. Ou seja, admite que sente saudade dessa liberdade inimaginável nos dias de hoje. 

Um outro espaço

Há 12 anos com o engenheiro mecânico e de produção Lucas Krauspenhar, Pati conta que o programa favorito do casal sempre foi viajar. Percorreram muitos lugares no mundo e foi, inclusive, essa paixão por desbravar novas culturas que os fizeram adiar algumas vezes os planos de aumentar a família. Mas esse dia chegou há dois anos e sete meses, quando nasceu Sofia. Antes da opção pela maternidade, admite que se questionou muitas vezes por ser intensa no lado profissional, temia que um bebê mudasse radicalmente a sua vida. Hoje, porém, percebe que superestimou as tais mudanças e garante que Sofi, como chama carinhosamente a pequena, tem um lugar enorme que é só dela, sem que cause prejuízos a todos os outros amores.

A chegada da filha deu uma ampliada na vida, ganhou extensão, criou espaços que não existiam antes. Quando voltou da licença-maternidade, apesar do aperto no peito que toda mãe sente, diz, com muita tranquilidade e convicção, que foi bom retomar o que a fazia tão bem. "Percebi que é possível a gente se realizar de diferentes formas. Como mulher, é importante mostrar que há espaço para que sejamos eficientes e reconhecidas, sem que precise abrir mão de algo que nos preenche - e isso não tem a ver exclusivamente com a decisão de maternar, mas com tudo na vida."

Gremista daquelas de ir ao estádio, conta que já levou Sofi duas vezes à Arena e que a menina nasceu já tendo sua carteirinha de sócia. Outra paixão que ainda pretende passar para a filha é a de viajar, pois, depois de fazer a sua primeira internacional, percebeu que o mundo é gigante demais para ser vivido em uma bolha. "Esses momentos nos ensinam muito sobre pessoas, sobre valorizar as diferenças. Planejamos muitas viagens com a Sofi, mas a pandemia veio quando ela tinha apenas um ano. Ainda realizaremos", garante ela, contando em seguida que não é apegada a bens materiais, tanto que nem carro mais tem, pois reserva investimentos mesmo é pra botar o pé no mundo.

Amigo é coisa pra se guardar...

Além de falar de trabalho e da família, tem outro assunto que faz os olhos de Pati brilharem: amizade. Lembram daquela casa divertida e barulhenta? Então, é a essa época que ela atribui um dos valores mais preciosos que carrega. E tem amigos de todas as tribos: da praia, da infância, do colégio na zona sul de Porto Alegre, da faculdade, da RBS. Entendendo esses laços como uma âncora na vida, ela sabe que só pensa assim pois um ambiente propício foi criado para isso. 

Ao longo da vida, aliás, essas turmas muitas vezes se misturaram, criando novos grupos de amizades, independentes dela. "Diferentemente da família, onde todos crescem com os mesmos valores, os amigos têm um papel de sempre nos mostrar realidades diferentes das nossas, são os que abrem a janelinha da vida", ensina. Valoriza demais os momentos em família e a sua casa é o QG das comemorações, sejam aniversários, encontros ou os tradicionais churrascos - item favorito na gastronomia, e não apenas pela comida em si, mas pelo ritual. Inclusive, cozinha nem é um ambiente muito familiar para ela, quem o domina em casa é Lucas. "Sou muito formiga, e ótima para degustar pratos e beber, mas aprendi a fazer arroz neste ano", confessa, rindo. 

Com formação católica, Pati não se apega a doutrinas únicas, gosta de ler sobre diversas religiões, pratica ioga e descobriu a meditação durante a pandemia. Na verdade, a crença maior é que tudo que traz boas energias é válido. Não tem lema de vida, mas certas partes lhe são caras, como os amigos, a família e o amor pelo trabalho. A característica agregadora talvez seja a mais marcante dela, que prefere curtir a jornada do que se preocupar com o final do caminho. "Sou inquieta e valorizo meu protagonismo no que faço, mas isso não teria sentido nenhum se não fosse para ajudar as pessoas na minha volta a também serem protagonistas das suas histórias."

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