Roberto Lopes: Plantando boas sementes

Diretor-criativo e sócio da Escala, ele sonha com Cannes

"Sou um cara que não consegue fazer grandes textos, geralmente. Sou bem objetivo. Então, acho que não conseguiria me definir muito bem." É assim que Roberto Reckziegel Lopes, mais conhecido como Beto Lopes, atualmente diretor-criativo e sócio da Escala, afirma como ele mesmo é. O publicitário, graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), acredita ser "um sujeito super simples", pois, dos gostos aos hobbies, leva uma vida bem básica.

O profissional diz que busca ser verdadeiro e honesto, com ele e com as pessoas, pois acredita no ditado 'Você colhe o que planta'. "Então, tento plantar coisas boas, não só para a minha colheita, mas para a dos outros também. Tento seguir em uma boa com todo mundo, fazendo o bem."

Essa simplicidade, garante, aprendeu com a família, em especial, com a da mãe, Maria Aparecida Reckziegel, que, ao lado do pai, o comerciante Fernando Carlos Pastro, criou ele e a irmã, dois anos e meio mais velha, Fernanda. Ele ainda teria uma mais nova, que morreu devido a uma alteração cardíaca quando ele tinha quatro anos. Essa é uma das recordações da infância do menino que nasceu em Porto Alegre, em 6 de novembro de 1983. Mas esse período é, acima de tudo, recheado de lembranças positivas. 

Com família numerosa e unida, de ambos os lados, recorda dos grandes encontros. Com os avós maternos, rememora os momentos na praia, em Rondinha, no litoral norte gaúcho. Uma curiosidade é que, por parte de pai, ele era o caçula dos primos, já pela mãe, era o mais velho. "Então, cresci nesse universo aprendendo bastante, tanto com os mais velhos, quanto sendo responsável pelos mais novos." Além da felicidade com os parentes, as amizades feitas na escola também são marcantes. Isso porque Beto entrou cedo no Colégio São João, onde viveu todo o período escolar e, de lá, traz amigos até hoje.

Adubos para a plantação

Casado com a também publicitária Carolina Weber Santos, ele a conheceu em uma festa de um amigo em comum, em outubro de 2015. O namoro começou um mês depois. Apesar de trabalharem na mesma área, nunca haviam se cruzado pelas ações profissionais. O casamento foi três anos após. Se o filho humano é um sonho, o canino já é realidade. Adotado, Cannes é um vira-lata preto, com cerca de sete anos e meio e 10 Kg. Com uma página no Instagram criada pela Carol, o pet também domina os posts dos perfis pessoais. 

O nome vem, sim, do Festival Mundial de Publicidade, mas, em especial, por uma história do casal. Em 2018, antes do casamento, Carol viajou ao evento por ter participado do programa Young Lions. Ela já havia falado no interesse em adotar um cachorro. Por conta da rotina agitada dos dois, Beto era um pouco resistente. No entanto, durante a viagem da companheira, adotou o cão em segredo. No retorno da namorada, ele a esperou com o pet e lhe fez uma surpresa "bem emocionante", conforme lembra.

Por ter sido atropelado ainda filhote, enquanto ainda vivia nas ruas, Cannes tem uma limitação, pois sofre uma pressão nas patas. Contudo, é extremamente dócil e "a sombra dentro de casa". O cão também é, segundo seu dono, "alucinado por passeio" e, por isso, a rotina do casal foi adaptada para levá-lo três vezes ao dia para rua e na fisioterapia. Beto, inclusive, descobriu essa característica no dia em que foi adotá-lo, o que não o impediu de torná-lo membro da família. 

Além das atividades com o Cannes, a corrida é um dos hobbies do publicitário, que, eventualmente, participa de provas para amadores. Além disso, voltou a estudar inglês e assiste a séries. Essa atividade é compartilhada com a esposa, assim como a paixão pelo tricolor gaúcho. "Vou a jogos do Grêmio porque sou bem 'doente', infelizmente. Não gostaria de ser tanto, mas sou", confessa. Quanto à leitura, admite que é um hábito que precisa colocar em dia, pois tem muitos livros, em diferentes lugares do lar. Caseiro, nos finais de semana ele gosta de ficar na residência. "Boa parte do tempo eu uso para ajeitar a casa, lavar a louça, tarefas que não dá tempo para fazer na rotina corrida." 

A rega diária

"Acho que sou uma pessoa boa em construir relações e conectar pessoas em volta de algo." Essa qualidade vê, especialmente, no ofício, como quando uniu pessoas, produtora e demais necessidades para realizar um projeto que nem era dele. Já um defeito que o incomoda e atrapalha é o fato de 'explodir' de vez em quando. 

Falando em trabalho, o interesse pela profissão acredita que vem desde criança, pois gostava de assistir aos comerciais e ficava fascinado com as histórias contadas em 30 segundos. Influenciado pela irmã, cursou um semestre de Hotelaria, porém o interesse pela Criação o levou à Publicidade e Propaganda. O direcionamento para a direção de Arte ocorreu naturalmente, com o primeiro estágio já nesse setor, no segundo semestre da faculdade. Apesar de, como ele diz, não ter nenhum dote artístico, como ilustração, fotografia ou pintura, Beto lembra que, na infância, gostava de desenhar algo com significado. "Eu gostava de desenhar coisas que as pessoas me falavam, ou coisas que tinham representado aquele ano. Lembro que fiz alguns desenhos para o meu pai nesse sentido", explicou. 

A estreia ocupacional foi como assistente em uma agência pequena, onde atuava também como redator. Com a saída do superior, indicou um colega de universidade, também inexperiente. Assim, Beto rememora muitos erros cometidos nas tarefas, mas também informa que aprendeu bastante. Depois de um ano e meio, experimentou outro escritório pequeno, onde se tornou diretor de Criação. Entretanto, percebeu que, para entrar em uma empresa grande, deveria voltar a estagiar. Foi quando, em 2005, iniciou essa fase como assistente de dois diretores de Arte na e21, onde recorda ter passado muitas madrugadas trabalhando, mesmo após as aulas. "E eu gostava disso. Óbvio que não era saudável estar sempre dentro da agência, mas no fundo era bom", admite. 

Para Beto, isso não foi exatamente uma dificuldade, mas um caminho. "Sempre gostei muito de aprender na prática, então, vivenciar aquele universo, ficar ali com as pessoas, escutar histórias de quem já tinha mais experiência era legal." Depois de seis meses, o profissional foi para a Overcom, chamado pela Claudia Schroeder, ainda como assistente. Meses depois, veio o primeiro contato com a Escala, com um freela para a Renner. 

Em 2006, surgiu o início de cerca de quatro anos de dedicação para a Dez Propaganda, onde o profissional saiu de um cargo júnior para o pleno. De lá, partiu para a QG Propaganda, agência de São Paulo com escritório na capital gaúcha. Apesar do período curto - não chegou a fechar um ano -, "foi de bastante aprendizado e muita maturação". Em busca de um trabalho diferente, atuou no escritório de Design Sacramento. Depois de mais algumas tarefas esporádicas para a Escala e atuações na Competence, Novacentro e Brivia, ele se estabeleceu de vez na empresa na qual hoje integra o quadro societário e está há quatro anos e meio. 

Beto não consegue destacar apenas um feito de toda essa trajetória, porém de todos os lugares que passou, traz aprendizados importantes. "Percebo que sempre avancei em determinados aspectos. Acho que sempre consegui progredir na minha formação como criativo de agência", elucida, ao destacar que isso lhe deu bagagem para chegar onde chegou. Afinal, para o profissional, a trajetória rápida de ascensão na Escala foi permitida pelas experiências adquiridas em outros períodos. O comunicador defende que, quando assumiu o posto de diretor de Criação, lidava pior com muito do que hoje lida melhor. "Então, vários aprendizados nesse meio do caminho sigo tendo até hoje, e eles que me colocaram nesse exato momento. Espero seguir aprendendo bastante", completa. 

Referências na plantação

Se, por um lado, não consegue destacar um momento em especial, por outro, não são poucas as referências que o influenciam no trabalho. Para Beto, vários profissionais o ajudaram desde o início da carreira. Como na e21, com o André Menna e o Marco Boni. "Foi um momento superimportante para mim, aprendi muito com eles sobre direção de arte."

Entre os diretores, cita Marcelo Firpo. As duplas com quem trabalhou também contribuíram para o seu crescimento, como Eduardo Pandolfo, na Centro, e Cauã Teixeira, na Escala. Atualmente, admira o time todo da agência onde está. Por exemplo, mesmo não sendo do mesmo setor, Beto diz aprender diariamente com Renata Schenkel, além do lado profissional, como amigo. O gestor ainda lista Fernando Picoral, Miguel de Luca, Paulo Melo, Roberta Selister e Rodrigo Dipp. "Além de pessoas que fui encontrando lá, algumas já saíram, outras permanecem, outras saíram e voltaram. Muitas ajudaram muito na minha evolução", completa, ao falar também de Alessandra Vieira e Grazi Kellermann. "Mas, principalmente, a equipe de Criação hoje é um time que eu sou bem feliz de ter reunido, de poder ter comigo."

Apesar de ser clichê, o publicitário diz que se sentiu em casa na agência desde a primeira semana, o que também contribuiu para a ascensão. "Sempre percebi um ambiente sem muitas fronteiras. E acho que fui aproveitando bem isso pra colocar minhas ideias, trocar com as pessoas e evoluir." 

Colheita do futuro

Feliz com a vida que tem, se esse for o entendimento de uma pessoa realizada, ele se considera uma. No entanto, admite que ainda tem muitos feitos a realizar, tanto profissional como pessoalmente. "Não sei se dá pra dizer planos, porque acho que isso é quando você planeja exatamente como vai fazer, e isso eu não tenho, mas tenho muitos sonhos". Entre eles, está o desejo de conquistar um Leão em Cannes com a Escala e "participar de forma ativa dos próximos 50 anos (de sucesso) dessa agência sensacional".

Beto não se considera um indivíduo que projeta o futuro, pois imagina que no momento atual é difícil se planejar plenamente, em especial, no âmbito profissional. Isso porque o comunicador acredita que há mudanças constantes no cenário. "Então, espero que, daqui a 10 anos, eu esteja bem com a minha família, talvez com filho, ou filhos, que a Escala esteja muito bem, cada vez mais forte, com projetos criativos sendo reconhecidos", finaliza. 

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