Rodrigo Giacomet: um radialista completo

Comentarista, narrador, repórter e apresentador, o diretor da Rádio União se considera um radialista realizado com sua carreira

Rodrigo Giacomet

Apesar de ter se formado em Direito, a vocação dele sempre foi a Comunicação. Desde moleque, Rodrigo Giacomet demonstrava aptidão para ser jornalista. Inventou uma publicação da família, na qual entrevistava os parentes e montava a edição manualmente. Também criou o impresso do colégio, intitulado 'Nossa Geração', em que escrevia sobre jogos interséries e atividades culturais.

Natural de Novo Hamburgo, cresceu em uma casa onde se ouvia muito rádio, em especial a Guaíba, que nos anos 1970 estava no auge. Como se não bastasse, escutava a emissora no caminho de ida e volta da escola. Nos jogos de botão, era narrador da partida. Segundo a avó materna, ainda por cima tinha a mania de fazer o mesmo nos confrontos de futebol transmitidos pela televisão. Presencialmente, de antemão já olhava nos jornais Correio do Povo e Zero Hora quais eram os profissionais que narrariam o embate, e passava mais tempo olhando para a cabine do que para o campo. Desta forma, aprendeu a admirar radialistas como Haroldo de Souza, Armínio Antônio Ranzolin, Edgar Schmidt e Lauro Quadros.

Rádio: um (feliz) caminho sem volta

Aos 16 anos, inspirado em nos ídolos, deu início a sua caminhada no rádio. Tudo começou quando Rodrigo, nas idas a Porto Alegre, para ir ao cinema ou aos jogos do Grêmio, estendia a rota até o Centro, na Praça da Alfândega, com o objetivo de olhar a Caldas Júnior, em especial a rádio Guaíba. Foi então que, por meio de um amigo que conhecia o gerente da rádio Progresso, e sabia da paixão do menino, surgiu a primeira oportunidade. Laerte Santos, o gerente da emissora, foi quem abriu as portas para o jovem estreante. Rodrigo lembra da data até hoje: 24 de abril de 1988, o dia em que estreou no microfone. "O Laerte me mandou cobrir o Novo Hamburgo em Igrejinha, na segunda divisão do Campeonato Gaúcho, como comentarista de arbitragem. Na época, o veículo era forte na cidade", conta saudoso. Carregando pilhas de pastas com anotações, o mais novo radialista começou a produzir programas. A rotina se transformou em aula no colégio Pio XXII pela manhã e rádio Progresso à tarde. Apesar de não ganhar salário na época, para um estudante de Ensino Médio, ganhar cachê já estava de bom tamanho.

Outra cobertura marcante de início de carreira foi o Campeonato Brasileiro de Vôlei, em um final de semana prolongado no Flamengo, Rio de Janeiro. Cobrir este esporte não era comum e, portanto, nem sequer havia verba prevista para isso. Filho de mãe que jogava vôlei quando menina e pai que trabalhava na área comercial, Rodrigo deu um jeito. Uniu a paixão materna pelo esporte com a veia de negociação paterna e conseguiu patrocínios para a viagem, que foi a primeira de avião. Na época, Bernardinho, ainda jogador, concedeu-lhe uma entrevista. Quando retornou, devido ao fato de não ter diploma e não ser radialista, precisou ser afastado. Por conta disso, fez o curso de radialista da Feplam. Então, pôde voltar às atividades. Não demorou muito para que ganhasse um programa só seu. A partir dali, a trajetória profissional só iria decolar.

Momentos que marcaram a carreira

Foi trabalhando em rádio que Giacomet vivenciou experiências que jamais teria em outra profissão. Em 1989, teve a felicidade de estar presente na primeira eleição democrática. Nesta época, entrevistou personalidades políticas como Olívio Dutra, Alceu Collares, Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola. "Eles eram os inatingíveis no meu imaginário", argumenta. Ainda na Política, mediou debates com os candidatos aos governadores do Estado, no período pré-eleitoral de 2014.

No mesmo ano, em 6 de dezembro, foi capa da Zero Hora, em uma foto entre Lula e Brizola. "Era um comício em Novo Hamburgo com mais de 10 mil pessoas, e eu só queria uma palavra deles. Quando vi, o ex-presidente petista me abraçou e começou a discursar, e aí foi tirada a foto", lembra, achando graça.

No esporte, além de todas as narrações, comentários e reportagens dos campeonatos gaúcho, brasileiro e mundial, em 1990, cobriu o Campeonato Mundial de Vôlei, quando nem se olhava muito para esse esporte. Também narrou a abertura da Arena e a reinauguração do Beira-Rio.

Em 2007, fez a primeira cobertura internacional. Foi para Espanha, Portugal e Marrocos, em uma visita aos parques tecnológicos. Em 2008, foi para a Índia. No ano seguinte, o destino foi a África do Sul, onde acompanhou os sorteios da Copa do Mundo. Em 2011, embarcou com o governador Tarso Genro em uma missão para a Coreia do Sul. Já em 2012, foi novamente para a Espanha e depois à Alemanha, para cobrir feiras calçadistas. A viagem mais recente, em 2019, foi ao país germânico novamente, a fim de cobrir um evento sobre a imigração alemã.

Para Rodrigo, seu ápice foi quando teve a oportunidade de entrevistar Sérgio Moro, em setembro de 2016. "Trouxe ele para palestrar, foram dois mil ingressos em 48 horas, e eu que faria as perguntas", relembra. Em meio a veículos como Folha de São Paulo, Estadão, Terra e Gaúcha, o público enviava a ele mensagens, pedindo para que fizesse uma pergunta a Moro, que poderia ser a glória ou a derrota. Ousado, foi lá e fez: "Quando você vai prender o Lula?". Foram 90 segundos de aplausos seguidos da resposta: "Eu não posso falar porque matérias estão em julgamento". O vídeo deste momento rodou o Brasil inteiro e teve várias visualizações.

Entre o Jornalismo e o Direito

No final de 1990, Rodrigo deixou a rádio Progresso para começar uma nova história no Grupo Sinos, no jornal NH. O editor de Esportes fez um convite para que ele cobrisse suas férias nos meses de janeiro e fevereiro. Após cumprido o período, seguiu na redação por apenas um ano: "Não era muito a minha praia, sempre gostei mais da comunicação falada". Na época, ele estava na faixa dos 20 anos e dizia não se imaginar em outra atividade que não a Comunicação. Porém, naquela década, havia poucas opções. Na região de Novo Hamburgo, era apenas o NH e a Progresso, e em Porto Alegre, a Gaúcha, segundo lembra. Além disso, o Jornalismo começou a consumi-lo muito. "Todo domingo ficava trabalhando até 22h para baixar jornal. Eu queria namorar, ser feliz", revive.

Desencorajado pelas pessoas que diziam não ter mercado para radialista na região, acabou indo para o Direito. De 1991 até 1995 ficou distante estudando na Unisinos. Advogou por dois anos nas áreas Civil, de Família e de Acordos Bancários. "Saí do Direito porque não era feliz. Juntei mais casais do que separei. Me olhava lá na frente como um velho frustrado", conclui.

Em 1995 se casou e foi para Fortaleza passar a lua de mel. Lá, o destino mostrou que ele não abandonaria o Jornalismo de vez. Coincidentemente, encontrou Laerte, seu primeiro chefe. "Contei que estava afastado e ele me convidou para voltar, mas agora, para a rádio Cinderela (1470), emissora que o grupo Sinos havia comprado", explica. A veia da Comunicação falou mais alto, e ele escolheu seguir profissionalmente na área que não era de sua formação. "Voltei e nunca mais me afastei do rádio", orgulha-se. Depois de quatro anos como comentarista, o convidaram para ser narrador: "Aceitei, mas disse que eles estavam ganhando um narrador e perdendo o comentarista e o repórter".

Novos desafios, crescimento e reconhecimento

Após a história com o Grupo Sinos terminar, foi convidado para trabalhar na Progresso de São Leopoldo (1530). "Em 2003, foi a grande virada da minha vida, porque ali a gente começou a competir com a minha antiga rádio, a 1470. Formamos uma equipe muito forte, e com a minha habilidade de vendas fui buscando patrocinadores", conta. Em 2005, o Novo Hamburgo acabou disputando a série C do Campeonato Brasileiro e Rodrigo foi com a nova casa cobrir o campeonato por todo Brasil, o que acirrou a rivalidade com sua ex-casa.

Nesse meio tempo, na sua equipe de profissionais, atuava com o repórter Sérgio Iosti, dono da Revista Expansão, de Novo Hamburgo. Encantado com o trabalho de Rodrigo, convidou-o para assumir a gerência comercial da publicação. "Isso foi em 2006. Topei o desafio e deu super certo", celebra. Apesar do foco ser vendas, a pulguinha jornalística pedia por coberturas, tarefa que passou a exercer assim que atingiu as metas de comercialização, em apenas três meses.

No início de 2007, uma nova proposta: "Fui convidado para assumir a gerência da rádio ABC, do Grupo Sinos. Recusei, porque ainda não tinha conquistado o que ambicionava onde estava". Muitos o criticaram dizendo que havia perdido uma grande oportunidade. Porém, em setembro de 2007, um dos diretores do conglomerado midiático o convidou para ser diretor da rádio: "Em meio ano consegui um aumento de cargo e de salário que talvez não conseguisse se tivesse ido na primeira vez". Conhecido no mercado por gostar de dar sua cara e criar sua história por onde passa, criou um dos produtos de que mais se orgulha, o Ponto e Contraponto, um programa de entrevistas com personalidades públicas de nível municipal, estadual e nacional. "A rádio ABC foi a minha trajetória mais longa. Foram quase 10 anos", contabiliza.

Quando o jornalista percebeu que já tinha contribuído tudo que desejava e estava em uma situação de ponta, começou o namoro com a rádio União, onde está atualmente. Predominantemente musical, muitos diziam que não iria aguentar o distanciamento do Jornalismo. Quase acertaram, visto que depois de 30 dias de ter começado na emissora, aconteceu o triste acidente da Chapecoense, e ele sentiu a latente necessidade de noticiar o fato. Rodrigo precisou se reeducar e entender que a rádio era de música e não de news e, portanto, mudou seu perfil, criando produtos como o 'PicNic', um evento que acontece nas praças, e o seu favorito, 'Lado B'. "O único suspiro para continuar na minha veia jornalística", aborda. O então apresentador afirma que um veículo desse tipo precisa ser diferente, porque só os hits se encontra no Spotify. Ele acredita no neologismo que chama de Infotenimento (informação com entretenimento). Assim, nas noites de terça-feira, recebe convidados como Fabrício Carpinejar, Amyr Klink, Leonardo Meneghetti, Tinga, Thedy Côrrea, Roberto Cabrini, Eduardo Leite, Ruy Carlos Ostermann, Lauro Quadros e João Carlos Belmonte.

Lembranças inusitadas da rotina jornalística

Além dos marcos da carreira, que ele emolduraria como certificados, também coleciona momentos engraçados. O primeiro de que se recorda foi a primeira reportagem de campo, cobrindo NH e Inter de Santa Maria. "Eu fui fazer os retornos do Inter no estádio. Era guri e não estava acostumado, cercado dos fios do fone e do microfone. Quando fui fazer uma entrevista, um outro jogador pisa no meu cabo e arranca os meus fones. Fiquei vermelho, azul, amarelo, pensei que tinha tirado a rádio do ar. E lá de cima me faziam gestos para eu pegar o fone e eu não me dava conta. Até que olhei para trás e vi o fone no chão", diverte-se.

Outra vez foi quando levou um safanão do Fernando Collor de Mello ao se aproximar dele com o gravador: "Pedi uma palavra e acabei levando um empurrão. Vi a raiva dele ao ranger os dentes me dizendo para sair". Na cidade aquilo se pulverizou, de que o jovem repórter havia sido agredido pelo Collor. "Então, Dona Leda Collor foi convidada para um chá comigo e mais 50 senhoras para que pedisse desculpas para mim em nome de seu filho", lembra.

Por último, destaca uma narração sua que ficou muito célebre. O Novo Hamburgo havia se classificado na Copa do Brasil, com um gol aos 46 minutos do segundo tempo, e ele comemorou de maneira entusiasmada, engraçada e singular. No outro dia, a Sport TV noticiava: "Narrador gaúcho enlouquece com gol do NH".

Há vida além do Rádio

Irmão das gêmeas Giovana e Luciane, que trabalham com seguros e imóveis, respectivamente, filho de Rejane Giacomet, professora e dona de casa, e Carlos Alberto Giacomet, representante comercial, Rodrigo não herdou a veia jornalística da família. Entretanto, a filha está seguindo seus passos. Mariana, 19 anos, é estudante de Jornalismo na Feevale. Segundo o profissional, ela tem propensão para a televisão. "Sou muito crítico, sempre digo que não vou indicar ela e me queimar no mercado", brinca. Mariana é gremista, do tipo que vai na geral, louca por futebol como o pai.

Rodrigo é casado há 25 anos com a esposa Adriane Piepper Giacomet, engenheira e professora na Feevale. A ela, só dedica elogios. "É uma grande parceira. Casar com um profissional da Comunicação, não sendo da área também, é muito complicado, ainda mais com alguém tão dedicado como eu. Fui ausente em muitos momentos, então procuro superar em intensidade quando estou", justifica. Mas Adriane, que era sua colega de escola, já devia saber onde estava se metendo. A primeira vez em que iriam sair, em uma sexta-feira de carnaval, Rodrigo foi escalado para viajar para Cruz Alta de última hora, a fim de reportar a partida entre Novo Hamburgo e Guarani de Cruz Alta. Dessa forma, não pôde comparecer ao primeiro beijo.

Nos dias de folga com a família, gosta de passear de carro. Inventam viagens para o interior, como Missões, Antônio Prado e Santa Cruz. Mudam de estado e dão alguns pulos em Santa Catarina. E com mais tempo e disposição estendem até o Uruguai. Uma outra paixão do radialista é a fotografia. "Tenho 18 mil fotos impressas, em álbuns, coladas organizadamente", se exibe.  Outro hobby é a cozinha: "Adoro ir para as panelas e tenho preferência por massas". Sentados à mesa apreciando sua comida gosta de ter amigos e família reunidos.

Como todo comunicador que se preze, ama literatura e coleciona mais de 300 títulos. Costuma ler dois livros ao mesmo tempo e, no momento, tem na mesa de cabeceira 'Cem anos de Solidão', de Gabriel Garcia Márquez, e 'Quem Matou Getúlio Vargas', de Jô Soares. Quanto a séries, destaca 'The Crown', 'House of Cards' e 'Scandal'. E, obviamente, não poderia ficar de fora a programação esportiva, em especial futebol e vôlei. Falando em esportes, quando mais jovem, jogou tênis, mas, atualmente, caminha e pedala bastante. Para fechar, em termos de música, se considera eclético. Vai do Rock dos anos 1980, seu favorito, ao Sertanejo. "Já fui no Universo Alegria e no Vila Mix, assim como no show do Thiaguinho, porque também curto pagode", acrescenta.

Futuro: recomeçar um plano do passado

Sobre o futuro, apesar de toda a experiência na área da Comunicação obtida ao longo de sua trajetória profissional, deseja voltar para os bancos da faculdade e concluir a graduação de Jornalismo, que iniciou, mas abandonou naquele momento de desilusão estudantil. Quanto ao trabalho, diz estar feliz, realizado e apaixonado. Ainda assim, não descarta a possibilidade de mudar completamente de linha um dia, como abrir um restaurante ou uma pousada. "Ter algum negócio meu, com a minha história, ou algo em parceria com a minha filha", elucida.

Rodrigo é assim, um completo apaixonado pelo que faz, assim como pela família e seus momentos de lazer. Quando conta sua história, é fácil perceber o entusiasmo, a paixão e a realização. Dedicado a tudo que faz, entende que essa é a maior qualidade dele. Quanto ao maior defeito, diz que não gosta de ficar em cima do muro: "Tendo a me posicionar, sou contestador, complicador e encrenqueiro". Comentarista, narrador, repórter e apresentador, Rodrigo Giacomet está deixando sua marca na história do radialismo gaúcho. Com tanta experiência, não há quem diga que não se trata de um radialista completo.

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