Paulo Dias: Sem medo de informar

Fotógrafo, Paulo Dias vivenciou a rotina de jornais diários e assessorias de imprensa em mais de 40 anos de profissão

Por Karine Viana
Agitado, impaciente e dono de declarações polêmicas figuram entre as características que definem o fotógrafo Paulo Dias. Durante uma conversa de hora e meia, enquanto lembrava-se de uma história e outra com sua câmera a tiracolo, acendeu oito cigarros, hábito que ele justifica pela ansiedade. Firme em suas convicções, costuma bater o pé quando quer fazer valer aquilo que acredita ser o correto, mesmo que isso signifique contrariar expectativas e interesses de terceiros.
E é a este modo como leva a vida que Dias atribui a percepção que muitos fazem dele, o de ser um cara vaidoso. No entanto, garante: suas maiores qualidades são confiança, lealdade e honestidade. Lições passadas pelos pais, Franklin e Irene Dias, e repassadas aos filhos. O bom dia matinal também é característica de sua educação, exercitada constantemente. "Dou bom dia até para pessoas que nunca vi", conta.
O fotógrafo experimentou duas faces do jornalismo. Trabalhou como repórter fotográfico em diversos jornais do País e em assessorias de imprensa no meio político, além de ter sido um dos fundadores da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos (Arfoc-Brasil) e ter presidido também a entidade regional. Pelos dois lados, enfrentou, como todo profissional da área, situações curiosas e alguns apuros. Assim, alinha muitas histórias, tanto do jornalismo diário quanto na assessoria, que relata sempre com entusiasmo e uma boa dose de orgulho.
Infância
Paulo Roberto Castro Dias cresceu no bairro Chácara das Pedras, na Capital, no dia 15 de novembro de 1952. Enquanto o irmão, Luiz Cézar, sonhava em ser médico, Dias era modesto. Aos sete anos, quando as tias lhe visitavam e dirigiam perguntas típicas do tipo "Qual profissão você quer seguir?", era categórico: cobrador de ônibus. Resposta que não agradava nem às tias nem aos pais.
Na mente daquele garoto, então com apenas sete anos, ao lidar com dinheiro, o cobrador de ônibus tinha uma boa condição financeira, o que lhe impressionava. Aos 10 anos, um motorista amigo da família levou-o a fazer uma viagem em um dos micro-ônibus que fazia o trajeto até o Centro. Ao descer na porta de casa, a travessura lhe rendeu ao que chama de ?tunda?, tamanha era a fúria do pai Franklin.
Ousadia e perigo
Os colegas de trabalho costumavam chamar-lhe de impetuoso, adjetivo creditado à ousadia com a qual enfrentava algumas situações de trabalho. Uma das histórias remonta à derrubada do presidente paraguaio, Alfredo Stroessner, em 1989. Com uma ordem de última hora do chefe de reportagem do jornal Zero Hora, Dias e o colega Marcelo Rech precisaram embarcar para o país vizinho em um táxi aéreo.
Na aterrissagem, o aeroporto estava fechado e as luzes todas apagadas. As palavras do piloto não só foram proferidas como uma ordem, mas também revelando perigo: "Cara, vocês têm que descer agora ou estamos ferrados". Já fora da aeronave, a maneira encontrada pelo fotógrafo para entrar no local foi pela esteira de bagagem. "Me atirei na esteira e comecei a subir, enquanto o Marcelo vinha atrás. Eu me mantive deitado e o Marcelo, como é muito grande, tentou levantar. Foi um fiasco", relembra.
Mas foi talvez a participação quase involuntária na negociação de um assalto, também a mais ousada do fotógrafo, ainda na década de 70. Também enquanto trabalhava na Zero Hora, recebeu um telefonema na redação informando sobre um assalto com reféns na Avenida Protásio Alves. O assaltante exigia conversar com a imprensa. Paulo Dias foi o primeiro a chegar ao local e também fez sua exigência: subiria para conversar somente sob a liberação das três crianças e da senhora que estava com o braço quebrado. Ao que foi atendido, o fotógrafo subiu até o apartamento e se pôs a negociar. Com sucesso.
Faro jornalístico
Paulo Dias ingressou no mercado de trabalho como office boy numa agência de publicidade, a Quadrante. Na época, começou a aprender fotografia com um profissional que trabalhava na Rua dos Andradas. "Até que saí da Quadrante e fui para a Símbolo Propaganda trabalhar no departamento de artes como foto-traço", recorda. Quem dividia a bancada com o fotógrafo era Alfredo Fedrizzi, hoje um dos sócios da Escala. Dali, seguiu para a Fotocontexto, onde o volume de trabalho o incentivou a estudar mais. "Foi ali que me enveredei para o jornalismo e gostei".
O início da carreira fotojornalística de Paulo Dias foi no jornal impresso. Ainda nos anos 70 ingressou na Zero Hora, onde ficou por pouco tempo até receber o convite para trabalhar na Caldas Jr, voltando, poucos anos depois, à casa anterior. Seu envolvimento com o meio político aconteceu no final dos anos 80, com o movimento Diretas Já, que pregava eleições diretas para presidente da República. Ao voltar de Brasília, foi para o litoral norte gaúcho, onde prestava assessoria para os prefeitos da região.
Após a emancipação de Imbé, em 1989, Dias recebeu do então prefeito eleito, João Carlos Wender, a tarefa de pensar numa imagem para o município. Incomodado com a rotina de fotos de golfinhos e peixes que identificavam praias, Wender queria algo mais ousado. Numa conversa despretensiosa com pescadores da região, descobriu a época de acasalamento dos botos. Durante alguns dias de junho, sentou-se à beira da lagoa até conseguir fotografar os tais botos. O resultado do trabalho, diz, lhe deixou "famosão".
Para Paulo Dias, a fotografia precisa ser jornalística. Uma imagem precisa informar. Sua maior gana, afirma, é a possibilidade de denunciar. Ainda no trabalho como fotojornalista, no jornal caxiense Folha de Hoje, logo após deixar o litoral, no início dos anos 90, fez um retrato dos vereadores do município da serra vestindo camiseta e chinelo na Câmara de Vereadores. Levando o conceito de imagem em consideração, aquilo representaria o descaso com a população. A fotografia estampou a primeira página do jornal e um dia após a repercussão, todos os vereadores vestiam terno.
Reconhecimento
Foi em 1994, na campanha do ex-governador Antônio Britto, com quem já havia trabalhado na Caldas Jr., que Paulo Dias entrou, de fato, na assessoria de imprensa política. Após a eleição, no entanto, tirou férias, até ser convidado para assumir a chefia do Departamento de Fotografia da Assembleia Legislativa gaúcha. Dali, também exerceu a função no Palácio Piratini, durante a gestão de Germano Rigotto. Em 2006, a então governadora Yeda Crusius, decidiu homenageá-lo por suas contribuições ao departamento fotográfico, denominando de Paulo Dias uma das salas do setor de Comunicação Social do Palácio Piratini.
O gesto realizado por Yeda é, para Paulo Dias, um dos maiores prêmios que poderia receber. Segundo ele, a placa com seu nome em uma das salas dos porões do Palácio, assim como os prêmios Vladimir Herzog e outro de Direitos Humanos, constituem o maior incentivo para continuar a carreira. Ao todo, alinha 12 troféus, contabilizados recentemente enquanto colocava a casa em ordem.
Para o amanhã
Divorciado e pai de dois filhos, Paulo e Tiéli Rodrigues Dias, que trabalham na área de marketing, o fotógrafo hoje é casado com a comerciária Leila Schinato. Sua ocupação atual é de fotógrafo na equipe do deputado federal Onix Lorenzoni (DEM). Nas folgas, confessa gostar de ir para a cozinha enquanto desfruta de um espumante. A dança é também uma de suas manias, mas "nada dessas coisas de remexer", brinca. Para ele, dança tem que ser um samba, um bolero ou um tango.
Paulo Dias brinca ao dizer que seu "código de barras já está quase apagado", mas ainda não consegue ver um fim na sua carreira. Acredita que continuará atrás das lentes por mais três ou quatro anos. "O desafio é o que me move, mas se em dez anos o cara lá de cima não me chamar, acho que não quero fazer mais nada. Estou com 62, estou querendo viver o outro dia. Que nem AA, um dia de cada vez.", finaliza.
Imagem

Comentários