Zé De Lazzari: Gringo mão na massa

Com passagens pela DCS, AMA e Escala, publicitário mora atualmente na Itália

Zé De Lazzari, diretor de Criação na agência italiana Educom

* Por Cleidi Pereira, correspondente de Coletiva.net em Lisboa, Portugal. A jornalista assina conteúdos para Perfil de profissionais gaúchos da Comunicação que estão espalhados pelo mundo.

Attraversiamo. A expressão italiana significa, literalmente, "vamos atravessar". Cruzar fronteiras e, por vezes, um oceano requer muito mais do que carregar uma dose extra de coragem na bagagem. É preciso renunciar, desapegar e ter disposição para recomeçar. Movido pelo desejo de voltar às origens, o publicitário José Luis De Lazzari fez o caminho inverso dos seus antepassados. Num impulso, deixou para trás uma carreira bem-sucedida e um apartamento recém-mobiliado, além de amigos e família. Foi chamado de louco por aqueles que não entenderam a urgência daquela travessia. Em novembro de 2018, acompanhado pela noiva, a também publicitária Fernanda Corso, desembarcou no Velho Continente, para um (re)encontro com a Itália e com suas raízes.  

Zé, como é mais conhecido, diz não ser muito bom com datas. Por isso, não sabe ao certo se foi em 2010 ou 2012 a primeira vez que pisou no país que povoou o imaginário de sua infância. Mas lembra bem da sensação do insight que teve na ocasião. De repente, tudo fez sentido: os gestos, o tom de voz, o dialeto vêneto falado pela avó? Alguns anos depois, a cidade de Bergamo, no norte da Itália, foi escolhida para ser o novo lar do gringo de Erechim, nascido em 19 de março de 1983. Filho mais velho da professora Joice e do comerciante Enedir, tem duas irmãs: a advogada Maria Luiza e estudante de Medicina Ana Julia.

Formado em Publicidade e Propaganda pela PUC-RS, com MBA em marketing digital pela ESPM, o criativo acumula passagens por agências como DCS, Escala e AMA, tendo trabalhado em uma série de campanhas políticas e também como professor na Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs). No Brasil, Zé atuou como diretor de Arte e de Criação agora, em solo italiano, reinventou-se diante da nacessidade de gerenciar um time multidisciplinar de um outro setor e em novo idioma. Desde abril de 2019, atua na Educom, uma agência especializada nos mercados Pharma, Healthcare e Medical Device.

Do forte de livros para o mundo

A criatividade, assim como a cultura italiana, sempre se fez presente na vida do publicitário. O pai e os tios eram proprietários de uma editora, e ele cresceu em meio aos livros. Uma das brincadeiras preferidas, quando criança, era fazer fortes com as pilhas de obras recém-impressas, que aguardavam a distribuição. Pensou em ser médico, psiquiatra, mas, como sempre teve computador em casa, foi natural que os primeiros passos da trajetória profissional fossem dados no "quintal" de casa. O adolescente, que gostava de assistir às propagandas na TV, fez um estágio em editoração, uma espécie de intensivo que permitiu que aprendesse a usar programas como o InDesign e Photoshop.

Quando se mudou para Porto Alegre, aos 17 anos, para fazer faculdade, seguiu trabalhando um tempo para a Edelbra, como representante comercial. Na Capital, por pouco não abandonou os planos da carreira publicitária para ser instrutor de yoga, no curto período em que se tornou vegetariano, algo incomum nos idos dos anos 2000. Sanado o período de indecisão, Zé estava determinado a experimentar a rotina de agência, o que o levou a escrever um e-mail para o publicitário Eduardo Axelrud, ex-Escala. "Eu disse que era o cara que eles precisavam, e o Axel lembrou desse e-mail alguns anos mais tarde, no meu primeiro dia na agência", conta. Na Escala, o criativo entrou como assistente e saiu como diretor de Arte.

Audácia e dedicação talvez sejam duas das características mais marcantes do profissional. "Eu me entrego de corpo e alma, não tenho medo dos desafios", diz. Foi assim também ao chegar na Itália. Em apenas seis meses no país, entrou na agência e precisou superar o "italiano macarrônico", muitas vezes estudando à noite o que falaria no dia seguinte. "Tinha aquela memória afetiva do dialeto vêneto da minha avó, o que eu havia aprendido na Sardenha (no processo de buscar a cidadania) e em algumas aulas online", conta. A estratégia, claro, funcionou.

Imersão culinária na quarentena

Bérgamo ganhou destaque nos noticiários no início de 2020 devido à pandemia do novo coronavírus. No epicentro mundial da primeira onda, o confinamento privou Zé e sua companheira, Fernanda, de duas das atividades mais prazerosas para o casal: viajar e frequentar bons restaurantes. A solução foi uma imersão culinária caseira, já que inspiração e produtos de qualidade não faltam na cidade, que é considerada a capital italiana do queijo. "Aqui, as pessoas levam a comida muito a sério mesmo", diz ele, que costuma ser presenteado com ingredientes para suas receitas pelos colegas da agência, pois sabem e compartilham do gosto pela culinária.

Assim que for possível, pretende retomar a rotina de viagens pela Europa. Por enquanto, Zé tem explorado - de moto, muitas vezes - a Itália de ponta a ponta. Antes da pandemia, os roteiros incluíam visitas frequentes às 'cantinas', com degustação de vinho e conversas com produtores locais. Apaixonado por fotografia, câmera e drone são itens essenciais na mochila de viagem. "O Washington Olivetto dizia que a publicidade se alimenta de vida, não de teoria. Então, um criativo tem que estar sempre vivendo. Tudo contribui para o trabalho depois", defende.

Multifacetado

Juntos há sete anos, Zé e Fernanda se conheceram na agência AMA, em Porto Alegre. Um chocolate trazido de uma viagem foi o pretexto para puxar conversa com a então colega recém-contratada. O casal tem dois gatos, Vito e Sereno, brasileiros, que precisaram fazer passaporte e seguir uma série de protocolos para acompanhá-los na mudança para a Itália.

Seja nos relacionamentos ou nas atividades do dia a dia, o publicitário mergulha de cabeça. Zé é o tipo de pessoa que vive fases intensas, nada lineares. Quando criança, chegou a ser faixa marrom em Karatê (uma antes da preta). Na adolescência, passou pelo momento skatista, e era o cabelo, dessa vez, que mudava de cor. Depois, veio a fase do yoga e dos estudos do hinduísmo - os mantras, aliás, ele ainda lembra de cor.

Possivelmente, o maior dos seus hobbies seja o de acumular cultura, o que o torna um profissional multifacetado. Muita leitura e visitas a museus colaboram, mas o principal é se cercar de pessoas e culturas diferentes. "Eu saía da loucura da agência, no horário de almoço, e ia no Clube do Comércio participar de uma reunião do Rotary Club, como secretário, com um senhor de 90 anos. No final de semana, ia dar um rolê com o grupo da Harley-Davidson ou almoçava em um lugar vegetariano com meus amigos do yoga", lembra, aos risos.

Com o yoga, que voltou a praticar durante o confinamento, aprendeu a viver o momento presente. "Acredito na lei da atração: se tu fazes o bem, te comportas bem e te dedicas, acontecem coisas boas contigo. Então, só quero ser feliz um dia por vez. Daqui a cinco anos, quero estar feliz, com mais amigos, cozinhando melhor. Se estiver com mais dinheiro, ótimo. Se não estiver, ótimo também. Espero estar com saúde e tranquilidade de estar feliz com que eu tenho." Felicidade que, para ele, pode se resumir a uma mão na massa e outra na taça - de um bom vinho, claro.

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