TV Pampa: Fator local

Com programas ao vivo, a emissora da Rede Pampa une gerações consagradas à juventude da Comunicação

"Fazemos uma programação nossa para nossa gente." É assim que o vice-presidente da Rede Pampa, Paulo Sérgio Pinto, define a emissora de TV, que tem no hiperlocalismo o seu DNA. Seus três programas diários - todos transmitidos ao vivo - tratam das questões mais essenciais do Jornalismo: notícia, informação e opinião. Para isso, o veículo mobiliza cerca de 70 profissionais em Porto Alegre, sem falar em mais três geradoras (localizadas em Pelotas, Santa Maria e Carazinho), as quais produzem conteúdo para 106 retransmissoras.

Outro viés que buscam atuar fortemente é se fazer presente onde o público está e nos principais eventos do Estado, seja no Litoral, na Serra, na Região Metropolitana ou mesmo na Capital. É o caso das coberturas da Expointer, Expoagas, Feira do Livro, Expodireto, ou seja, o que é relevante aos gaúchos. E tudo que nessas ocasiões é produzido é, também, aproveitado na programação, com boletins, estúdios exclusivos, reportagens especiais, etc.

A TV Pampa tem uma equipe enxuta, é verdade, mas não deixa de acompanhar as principais movimentações do dia a dia da cidade, ou mesmo nos cenários nacional e internacional. Com passagens por outras emissoras, o repórter Vilson Rosa, que está no veículo há mais de um ano, entende que o ritmo é menor do que nas suas experiências anteriores, mas em nada faz perder o brilho da profissão. "Aqui, temos uma busca incessante pelo local, pela notícia estadual. Como temos apenas um telejornal ao fim do dia, dá tempo de trabalhar as informações com calma", observa, não esquecendo que há, sim, dias mais intensos e de muita correria, como é o caso de fazer o famoso bate e volta até as praias e produzir quatro matérias no mesmo dia.

Ele entende que, com duas equipes de reportagem - manhã e tarde -, é evidente que não conseguem cobrir tudo o que gostariam, mas o que determinam como relevante é feito com o maior empenho possível. A visão de Rosa é corroborada na fala da funcionária mais antiga da casa, com mais de 25 anos na empresa, e também um dos nomes consagrados do telejornalismo: Vera Armando - e, aqui, vale uma informação de Coletiva.net: o perfil dela está entre os mais acessados da história do portal! "Um dos diferenciais da Pampa é a paixão que empregamos. Vestimos a camiseta e isso nos torna grandes e fortes. Somos uma equipe que, apesar do tamanho, suprimos os números pela qualidade, dedicação e vontade de crescer", orgulha-se a jornalista.

Mistura de gerações

Em uma tarde muito agradável, a equipe do portal visitou a redação da TV, seus estúdios, sala da técnica e todos os ambientes que compõem a emissora. Pelos corredores, passam nomes notáveis do Jornalismo gaúcho, e eles dividem os mesmos espaços com a nova geração, que corre de um lado para o outro com cronogramas, pautas, laudas, roteiros e equipamentos. Essa troca é outra característica apontada por Vilson Rosa, que enxerga na mistura um ingrediente e tanto para que todos cresçam. "A troca com os mais jovens é uma marca da empresa, e começa lá na rádio Grenal, onde trabalham profissionais reconhecidos no Jornalismo Esportivo e também uma gurizada muito boa. Na TV não é diferente, e isso é muito saudável", constata.

Não importa a idade, essa turma toda é gerenciada pela diretora de Conteúdo da Rede Pampa, Marjana Vargas, e não é raro ouvir sua equipe tecer elogios a ela. "É uma liderança extremamente positiva. A direção nos dá espaço, nos deixa crescer, temos acesso. Tudo isso é especial para que cada dia seja um desafio", afirma Vera, ao reconhecer, ainda, que a cobrança é no sentido de fazer o melhor, impactar a audiência e apresentar novidades. Além disso, a apresentadora do Jornal da Pampa esclarece que todos que ali chegam são muito bem recebidos. "O que eu sei não é só meu. Não há barreiras entre veteranos e recém-chegados", completa.

O amor de Vera pela equipe é tamanha que, não raro, quando está de férias, liga pedindo para voltar antes. Ela justifica de forma muito simples: para o jornal ir ao ar, tem toda uma equipe envolvida, então, dedica-se em respeito ao trabalho de todos e, principalmente, ao telespectador. Faz questão de chegar cedo, pois também é produtora-executiva, o que a faz estar lá antes das 14h. "Leio todos os roteiros, discutimos bastante e me envolvo do início ao fim. Se der qualquer problema com o teleprompter, por exemplo, não tem problema, pois saberei do que estou falando", diz, bastante segura.

Turma do barulho

A TV Pampa possui um estúdio grande e uma área de switcher que fica no segundo andar e permite uma visão bastante ampla do local. Para acessar os cenários, é preciso passar por uma antessala. Dela, rapidamente se enxerga Vera Armando se produzindo com calma, enquanto cumprimenta colegas, discute pautas, faz brincadeiras e, quando necessário, pede ajuda ao primeiro que enxerga para arrumar algo em seu visual. Nesse mesmo ambiente, há uma sala anexa, que é onde se encontram os comunicadores que formam a bancada da noite. Trata-se da âncora Magda Beatriz - outro nome daquele grupo de conceituados - e sua turma do Atualidades Pampa, um dos programas de maior audiência da casa.

Esta sala funciona como ponto de encontro da equipe irreverente, que fala alto, ao mesmo tempo, brigando e brincando quase o tempo todo. É neste espaço de cerca de 10 metros quadrados que Magda, Roberta Coltro, Gustavo Vitorino, Karla Krieger e Airton Ruschel se abancam para conversar com Coletiva.net sobre suas rotinas na TV - ainda fazem parte do casting Ana Carolina Aguiar, Marne Barcelos e Xicão Tofani. A jornalista que fica no centro da bancada e que substituiu seu companheiro de longa data, Clóvis Duarte, após sua morte, em 2011, e não perde a liderança nem mesmo nos bastidores. Magda é quem começa a falar, questiona, chama atenção e toma para si a missão de não deixar que os colegas percam o fio da meada. Afinal, se não o fizer, as gargalhadas, alfinetadas e momentos de "bullyng", como eles brincam com frequência, tomam conta em um piscar de olhos.

Acompanhados em diversos momentos pela supervisora de Produção da Rede Pampa, Vanessa Costa, que comanda o relógio e faz contribuições pontuais, os comunicadores fazem questão de frisar que, no Atualidades Pampa, é permitido falar de todos os assuntos. Sem censura, mas com bom senso, como gosta de destacar Magda, eles garantem que sabem o tamanho da sua responsabilidade e, por isso, estão cientes de até onde podem ir. Quando os ânimos ficam muito acirrados, é hora de cuidar as palavras para não ofender ninguém, pois tudo tem limite, até o escrachado. "Além disso, o público percebe, nesses momentos de defesas de opiniões, que não somos apenas engraçados, todos aqui têm conteúdo", defende Vitorino, em um raro momento de seriedade durante o bate-papo.

Espaço ao que é inusitado

Segundo ele, "se somar todos aqui, dá em torno de 250 anos de carreira", e a brincadeira não é vazia, mas usada para deixar clara a experiência de cada um. Para Roberta, de um jeito local, eles falam do mundo e com muita autenticidade. Essa característica, aliás, é apontada por eles como uma das principais marcas da atração. A penúltima a integrar o time diz: "Recebo retornos de pessoas de diversas idades e classes sociais, e essa interação é fundamental pra nós. Ainda que não as conheçamos, somos tratados de forma muito próxima". E Karla complementa contando que, ao serem reconhecidos na rua, o público se aproxima como se da família fosse. "Tem quem chame o Atualidades de vício", afirma, visivelmente honrada.

Não ter roteiro talvez seja um dos atributos mais mencionados pela equipe. A rotina consiste em cada um chegar com uma proposta de tema para que todos possam abordar, dar opiniões, argumentar, concordando ou não. Ruschel resume quando conta que, ao ser convidado para compor a bancada, questionou como funcionava e a resposta veio em coro: "Não funciona". Para ele, começar o programa levando uma "paulada", ou conhecer assuntos que não tinham intimidade dá uma liberdade editorial que faz a diferença na TV Pampa. Com tom de voz alto e marcante, Magda sentencia: "Se mandarem mensagem dizendo que não gostam de mim, que sou grossa, uma chata, vamos ler no ar mesmo assim. Isso contribui para nossa credibilidade".

Entre tantas brincadeiras, para fazer Vitorino falar sério, basta questionar sua opinião sobre os bastidores do programa. Diz que o mais interessante da emissora é o inusitado. "As pessoas que sentam na frente da TV não sabem o que vai acontecer, nem nós. Enquanto o Ruschel trata de uma decisão judicial, o Xicão (Tofani) entra falando do relógio dele - e a gente quer matá-lo tanto quanto quem está em casa. Isso surpreende o telespectador", analisa. Ele completa a reflexão fazendo referência a uma frase dita por um terceiro certa vez: "O programa de vocês é tão maluco, que ele termina e a gente está informado sem se dar conta". Isso acontece porque a informação não é formatada, ela chega acompanhada de opinião.

Conforme Vanessa, com bastante frequência o público questiona se as brigas são montadas, se fazem parte de um roteiro. A diretora faz questão de responder que não, pois eles "se matam na frente das câmeras e atrás delas também, mas depois saem para jantar juntos". Este é o momento no qual Ruschel diz, convicto, que, apesar de qualquer discussão durante o programa, nunca alguém chegou no dia seguinte sem se cumprimentar.

Como não poderia ser diferente, Vitorino encerra a conversa, instantes antes de irem ao ar, dizendo que precisa ter estômago para estar naquela bancada. "É necessário um pouco de loucura. A verdade é que nem o nosso telespectador é muito normal." Resultado? Mais gargalhadas. E é assim que todos seguem para o estúdio, enquanto Coletiva.net vai para o segundo andar, acompanhar a programação da emissora que se orgulha fortemente de "ser daqui".

Comentários