Diversidade e Comunicação: Valéria Luna vive a diversidade desde pequena

Relações-públicas assinou o artigo desta sexta-feira em Coletiva.net e conversa com Luan Pires

Valéria valoriza a diversidade onde quer que vá - Arquivo Pessoal

Valéria Luna trabalha há mais de 23 anos com Comunicação. Há quase 10 é analista de Comunicação e coordenadora das ações estratégicas da Martha Becker Connections. Mãe, nordestina, negra e com uma vivência diversa desde pequena, ela trouxe um mix de visões sobre os diferentes recortes diversos que habita e como tenta trazer a pauta para onde quer que ela esteja, seja em casa com a filha ou no trabalho com os colegas.

Em que momento da tua vida tu conseguiu tangibilizar o conceito de diversidade?

Eu me considero privilegiada, sabe. Demorou para eu parar e pensar no conceito em si porque eu cresci num contexto diverso. Filha de um pai artista, trabalhando desde cedo com o mercado de moda, depois da Comunicação e com uma criação totalmente liberal para os padrões da época? Isso me deu uma percepção diferenciada do mundo.

Mas, como foi quando tu encontrou outras pessoas que não tiveram a mesma criação e contexto? 

No próprio mercado da moda. Uma coisa que eu acho interessante é que mesmo em mercados ditos mais diversos, como da moda, do relacionamento ou mesmo da Comunicação, existe gente com uma visão preconceituosa das coisas. Claro que todo mercado é composto de pessoas que fazem coisas diferentes e têm histórias diferentes. Por isso, é natural que eu tenha convivido com o cara mais tático do agreste, até com o cara de viés mais artístico. Mas, o que eu quero dizer é que a grande questão disso é que se as pessoas não se abrirem elas vão conviver, mas não vão aprender umas com as outras. 

Teve algum momento que tu sentiu de fato um preconceito por algum dos recortes que tu representa?

Eu não sei o quanto é consciente ou não, mas é mais ou menos como eu li no artigo do Daniel. A minha criação me fez tão segura que eu demorei a problematizar pequenas situações. Claro que durante toda a minha trajetória tiveram episódios de preconceito, principalmente sexistas. Aquela piada, aquela falta de confiança por ser mulher, aquela necessidade de se impor mais do que um homem faria? Mas, eu demorei pra identificar e estou neste trabalho de cada vez mais entender isso. É complexo. 

Hoje tu trabalha na Martha Becker?

Então, até nesse ponto fui privilegiada porque trabalho numa agência com duas diretoras como líderes. Por causa da figura da minha mãe, que sempre foi muito ativa, me fez ser assim também e pode ser que isso me deixou menos atenta a algumas situações. Mas, é óbvio que isso não me faz cega ao preconceito existente - por mais "aparentemente" inconsciente que ele seja. Tanto que eu vou fugir um pouco do foco aqui, eu sou mãe de uma menina de nove anos. Eu preciso levar essa pauta para minha filha. Preciso falar das pressões que a sociedade bota na mulher e que não são da mulher. Nem toda mulher precisa ser assim ou assado. Ela precisa ser respeitada e ficar atenta para exigir esse respeito.

Tu falou muito que tu tem um perfil mais impositivo, muito por causa da tua criação? Mas, se tu fosse um homem, tu acha que a percepção que as pessoas têm de ti seria a mesma?

Quando tu tá numa reunião com muitos homens, tu sente uma intimidação, não vou mentir. E tu precisa demonstrar uma segurança. Se fosse um homem, talvez esse "preciso" nem estivesse na cabeça dele. Para ele seria natural aquele ambiente. São coisas pequenas, às vezes, mas que representam coisas importantes. Algum cliente novo, por exemplo. Se tu é mulher, rola algumas perguntas do tipo: tu vai dar conta disso? Não sei se a pergunta seria feita desse jeito para um homem, sabe. Para mulher, é difícil saber o quanto a gente tá sendo nós mesmas e quanto somos nós reagindo a preconceitos enraizados. Até enraizados na gente mesmo. Já aconteceu de eu ir pra uma indústria ou algo assim e pensar bem na roupa que eu ia escolher. Não sei se as mesmas preocupações que eu tenho escolhendo uma roupa nessa situação seriam as mesmas de um homem. As preocupações são diferentes. Pra ti ter uma ideia, eu falo da hipersexualização com a minha filha, já, por exemplo, porque ela já está exposta a isso no Tiktok, no mundo, como um todo. 

E como é ser mãe e profissional de Comunicação? 

Claro que rola cansaço, estresse, e tudo isso. Mas o que pega pra mim é que eu estou na faixa dos 40 anos e eu sinto que a sociedade dá um prazo de validade menor pras mulheres. Mas, poxa, eu ainda estou ainda no meu auge, eu ainda tenho projetos, tenho experiência com vontade. Eu não estou terminando, não!

E como tu enxerga todos esses recortes diversos que tu ocupa e o que tu acha que ele pode ensinar pras outras pessoas?

Eu sempre busco trazer a conversa pra mesa, onde quer que eu esteja. Todos os tipos de preconceito, a gente tem que falar: seja com preto, suburbano, mulher, de idade? Claro que eu não posso falar de recortes que eu não sei como são, mas eu tento chegar pro outro e mostrar o quão especial são nossas especificidades. É importante que todas as minorias exijam respeito, não só para si, mas para todos os recortes. Poxa, gente! Trabalhamos com Comunicação! Acolhimento é a palavra, seja enaltecendo, seja apoiando, seja fazendo coro com recortes que tu não pertence, porque todos sabemos como nos sentimos em situações que minorias enfrentam. Principalmente no momento em que vivemos, onde vimos coisas voltando que não se imaginava mais que voltasse a acontecer. Diversidade pra mim é acolher, onde quer que tu esteja.




Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as sextas-feiras, o jornalista publicará uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Valéria Luna, clique aqui.

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