"Todo ponto de vista é visto de um ponto"
De Letícia Baptista De Castro, para o Coletiva.net
Começo citando Leonardo Boff porque traduz em melhor forma a minha própria percepção de mundo. Sempre fui respeitosa com os sentimentos e pensamentos alheios. Talvez tenha sido insensível em algum momento e me desculpo se foi o caso com quem me lê. Mas veja, sou resultado do tempo, espaço, e, claro, escolhas. E você também é. Todos somos. Nada e nem ninguém está imune à trinca formada pelo temperamento, ambiente e arbítrio desde o dia um da vida. Então, todo ponto de vista traz uma carga daquilo que carregamos na personalidade, na rotina, nas companhias, na atenção e do que escolhemos fazer com toda a carga de expectativas que recebemos. E é por isso que opinião é artigo perigoso. Gosto mais de informação do que a leitura de alguém que não compartilhou do meu mundo. Ainda mais agora que as inteligências estão artificiais. Como dizem os jovens, são muitas camadas. E opinião, na minha própria, é a mais rasa delas.
Dito isso, para não fugir ainda mais do que me trouxe aqui, me pego entre o assombro de um novo conceito sobre as fases da vida, e me maravilho (existe essa palavra?) com a nuvem criativa que venho produzindo há mais de 40 anos - bem mais. Etarismo é o nome dela. A famigerada que parece ter dado um sacode na moral de quem já tem autorização para lançar um "no meu tempo" em qualquer situação do dia, da tarde e da noite. Etarismo é uma sentença. Mas será ela justa? Quem é juiz, quem está no VAR da vida para definir o que a experiência deprecia?
Diversidade é a nova sustentabilidade
Há poucos dias, tive a oportunidade de participar da Semana da Diversidade da Clear Channel e este tema foi abordado de forma muito leve, honesta e, acreditem, feliz. Eu, pessoalmente, estava muito feliz. Primeiro porque em pouco tempo ganhei um protagonismo involuntário ao apresentar junto a colegas de outros departamentos, a reflexão sobre as dores e delícias da convivência geracional nas companhias, mas também porque refletiu em tudo o que acredito e talvez não tenha elaborado da forma mais complexa o tanto que a idade traz na carreira profissional. É na diversidade que a gente cresce, cria vínculos e evolui. E não só convívio com pessoas mais novas ou mais velhas (usei o termo de propósito), mas de quem pensa diferente, se veste diferente, vive diferente. De quem tem a coragem de ser o que é na idade média dos anos 2000.
Não pretendo que saibam da minha vida, longe disso, mas apenas como alegoria, ofereço a minha própria jornada como exemplo do quanto a idade pode ser boa notícia no currículo. Ganhei quilos, perdi e ganhei de novo. Mas para além do peso do corpo, está o peso da experiência. Antes mesmo de estudar o estoicismo, era eu mesma uma apaixonada pela virtude de aprender. É energizante incluir no repertório novas ideias com a turma 30-. É inspirador beber da fonte serena 50+. E é uma loucura se achar nos 40+. Especialmente para quem passa por duas transições de carreira em menos de 5 anos. Sim, como disse, seria a cobaia do meu ponto, então aqui está a revelação de que vivi uma transição de carreira em 2021, que me levou a outra em 2025. Cada uma com seus desafios, mas ambas com toda a potência de me transformar nas minhas melhores versões (segundo o inspuspeito instituto de pesquisa vozes da minha cabeça).
Para que isso acontecesse, as oportunidades que meus privilégios me ofereceram tiveram a companhia dos encontros e conexões com pessoas que me abriram portas. E mente. E quanta gente me vem à lembrança. Dos vivos e dos imortais. Dos originários e dos criativos. Meu temperamento conciliador e uma matraquice genética facilitaram essas trocas, é verdade. Mas, certamente foi o que acolhi de pessoas melhores, maiores e mais experientes que eu ao longo dos quase 25 anos de carreira, me permitem espanar a assombração e enriquecer a nuvem de palavras que a idade está me trazendo.
Vem mais mudanças por aí. A Letícia de 2000 abraça a Letícia 2025 modelo 2026. Muito, muito, muito obrigada a quem me puxou, me empurrou, me incentivou, me inspirou. Vocês não sabem a loucura que fizeram, mas está dando certo. Gracias.
Letícia é jornalista, publicitária, aspirante a cientista social e executiva na Clear Channel.
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