Ahhhh, o olhar! Eis algo que jamais vai deixar de ser a base de qualquer entusiasta ou profissional da fotografia.

A fotografia talvez viva agora a sua segunda grande onda democrática. Quem se lembra da primeira câmera portátil? Lá em 1888, a Kodak colocou no mundo uma caixinha que libertou a fotografia dos laboratórios e a levou para as mãos junto às famílias. Nascia, ali, a ideia de que qualquer um podia guardar memórias. Não por acaso, a frase de Eastman virou ícone: "Você aperta o botão, nós fazemos o resto!".

E cá estamos outra vez. Agora, com a Inteligência Artificial, esse eco ressurge: basta um toque, e o resto se resolve sozinho. Hum, sozinho?! hehehe

As automações chegaram como um vendaval: simplificam, aceleram, encantam e, também, confundem. Até onde vai esse "apertar de botão" e a resposta visual que chamamos de fotografia?

Concursos e editais já sofrem com esta condição. Pois quem, com um único olhar pode distinguir hoje com total exatidão o humano da máquina? Diferenças sutis, quase invisíveis, embaralham nosso senso de real. Não é fácil, dona fotografia, segurar essa "barra que é gostar de você".

Mas confesso que adoro pegar aquela foto estilo anos 2000, saída do Orkut, com apenas 200kb, toda pixelada, e vê-la renascer em segundos, limpa, repaginada, com seus mega pixels reprogramados e nítidos. É do caralh@, né não?!

Ironias à parte, o fato é que mudamos a maneira de nos relacionar com as imagens. Do celular ao backup na nuvem, do filtro pronto ao espaço infinito de arquivamento, nunca foi tão fácil eternizar memórias. E nunca estivemos tão saturados das mesmas também.

Entre o deboche de Boris Eldagsen e a alegria da dona Carminha, que guarda cada foto do neto recém-nascido na palma da mão, a fotografia segue viva, múltipla, inquieta e, por óbvio, eternizando o momento.

Mas? O que vamos fazer com tudo isso?
Essa resposta talvez nunca seja tão instantânea quanto um clique.

A todos(as) um excelente Dia Internacional da Fotografia.

Emmanuel Denaui

Natural de Porto Alegre, Denauí é jornalista, gestor de comunicação e fotógrafo conceitual com 15 anos de experiência em diversas revistas e agências do país. Professor, mentor e curador, é apaixonado por música e arte de rua. Atualmente, fotografa para os setores corporativo, publicitário, arquitetura e fine art.