Exercitar a diversidade

Por Jaques Machado, para Coletiva.net, em especial de Diversidade e Comunicação

Jaques Machado - Alessandro Quevedo

Instigado a pensar sobre diversidade e comunicação, me coloquei no momento de reflexão e me questionei: o que é diversidade? Para além de todas as definições já exploradas, e da real necessidade de inclusão de temas e debates dos mais variados grupos e manifestações sociais, constatei que o conceito da palavra, para mim, está completamente ligado à multiplicidade. Logo, lembrei dos últimos anos que vivemos e percebi o quanto as pessoas estão se fechando para o múltiplo, para o diálogo, para escutar a multiplicidade de versões e fatos. Portanto, escutar, questionar e debater as mais variadas diversidades/multiplicidades do cotidiano é, hoje, um dos maiores desafios da sociedade.

A minha construção social é de um homem branco, cisgenero, gay e pessoa que vive com o vírus HIV há 12 anos. Nasci em Porto Alegre há 37 anos, fui criado e educado em escola pública e por pais que vieram do interior do RS e se estabeleceram na cidade de Alvorada, como o porto seguro de uma família classe média. Mesmo com um cenário não favorável, atendi aos apelos dos meus pais e me formei em jornalismo pela Unisinos, com bolsa de estudos em 2010. Hoje, trabalho profissionalmente como jornalista na Rádio Gaúcha, ator, produtor e diretor de teatro, além de dezenas de outras atividades que já exerci nessa vida. Fiz essa breve descrição da minha história justamente para dizer que, mesmo pertencendo ao grupo de pessoas LGBTQIAPN+, vivendo com HIV, tendo acesso a informação e alguns outros privilégios, preciso constantemente exercitar o poder se atender a diversidade na minha rotina.

Na minha rotina como jornalista na Rádio Gaúcha, constantemente me questiono sobre cada entrevistado que coloco no ar. Ouvir pessoas pretas, trans, gays, mulheres, políticos de direita, esquerda, centro, movimentos sociais e todas as multiplas visões que um fato pode ter, é exercer rotineiramente a democracia e exercitar o ato de escutar e atender a diversidade. Talvez, por isso, estejamos em um momento da sociedade onde debater a diversidade ainda é complicado. A tarefa exige que estejamos abertos a aceitar críticas e perceber que falhamos todos os dias, pede que estejamos abertos a questionar as nossas verdades absolutas e que possamos, da nossa bolha, ouvir o que outras bolhas e realidades clamam, principalmente quais necessidade impliquem em poder viver e ser o que de fato se é, sem risco a vida e com direitos igualitários por uma sociedade justa.

Por mais que eu tente fazer do meu trabalho jornalístico e da minha produção artística no teatro, um espaço de constante desconstrução pessoal de paradigmas e preconceitos, muitas vezes eu falho. Mesmo que todas as camadas que me formam socialmente, me coloquem em uma posição diferente da que a sociedade determina como "convencional", ainda assim eu preciso todos os dias batalhar para contemplar a diversidade na comunicação e na arte.

Jaques Machado é jornalista com quase 10 anos de atuação no Grupo RBS, diretor, produtor cultural e ator. Escreveu, produziu e dirigiu o espetáculo autobiográfico 'Sobrevida', que retrata a rotina de uma pessoa após o diagnóstico de HIV.

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