"Vento é vento?"

Por José Antônio Moraes de Oliveira

Por mais de uma vez, lamentei não ter aproveitado melhor a sabedoria dos velhos campeiros que frequentavam a fazenda do Passo Grande. Eu devia ter ouvido meu avô, que contava ter aprendido mais com os campeiros do que decorando tratados de medicina. Alguns deles eram experimentados domadores ou ex-tropeiros que conheciam campos, matos e bichos como a palma da mão.

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Lembro o Coronel Picurra falar que um dos peões, o negro Edu, era o mais sabido de todos, apesar de seu ar de sonso. Era a ele a quem os mais novos recorriam na hora de apartar um   potro para domar ou encontrar uma ovelha doente no meio do rebanho. Para mim, guri de cidade, aquelas ciências eram um tanto misteriosas. Como eles sabiam os nomes de árvores e passarinhos sem consultar um livro ou um almanaque rural? E o Edu ainda respondia com provérbios às perguntas que eu fazia. Quando quis saber se ia chover, ele apontou para um  ninho de João-de-Barro: 

"- Se o ninho tiver com a entrada pra nascente, 

não vem vento nem chuva.

Se virado para o outro lado, é chuva na certa".

No entanto, minha avó Ana Augusta não dava importância para as conversas dos peões. Quando o Edu falou que ia chegar um vento quente chamado Pampero, ela resmungou:

"- Vento é vento - tudo igual"

Mas depois e por cautela, mandou fechar as janelas da casa e recolher as roupas no varal. Mas para o tio Deoclécio, não era demais aprender com sabedoria campeira. E citava as tiradas que ouvira de um campeiro criado nos banhados do Itaim:

"Formiga de asas, pode apostar que tem chuva".

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""Carancho em moirão, vento pela frente". 

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"Bugio roncando no mato, sinal de chuva".

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"Boi lerdo bebe água suja."

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"Cavalo manso é pra ir à missa."

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"Cachorro comedor de ovelha, só matando."

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"Touro em rodeio alheio é vaca." 

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"Mocotó de colar beiço."

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"Hombre, como cavalo tem seu lado de montar."

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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