Sabedoria de Almanaque

Por José Antônio Moraes de Oliveira

 
Meu avô colecionava almanaques antigos, alguns de seu tempo de estudante, com páginas amareladas e sinais de manuseio. Aquilo me intrigava - por que consultar almanaques quando tinha pilhas de enciclópedias e livros de medicina em seu quarto. Em um daqueles longos verões do Passo Grande, tentei saber sobre os tais almanaques. O que ouvi foi uma aula e muitas estórias.

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Ele começou contando que os almanaques eram anteriores à Bíblia de Gutenberg. Que a palavra vem de al-manakh, o lugar onde árabes nômades se reuniam para contar de suas viagens. 

E que os primeiros almanaques surgiram na Europa por volta de 1455, chegaram no Brasil como contrabando, já que a coroa portuguesa proibia a circulação de impressos em suas colônias. 

Desde o início, os almanaques publicam receitas de poções e remédios caseiros, chás com ervas e calendários lunares de plantio e colheita. E biografia de grandes figuras da História, Ciência, etc. Contou muitom mais e ao terminar, me deu um exemplar do almanaque do Biotônico Fontoura de 1934. Fiquei encantado mas sem esconder que ardia de curiosidade para ler o que dizia o almanaque do ano de meu nascimento. 

que nasci. Nas páginas de horóscopo e astrologia, fiquei sabendo que os nascidos no meu signo são destinados a conhecer lugares distantes e exóticos, mas que sempre voltam ao local onde nasceram. Na hora, não dei atenção, pois ainda não sabia que profecias de almanaque costumam acertar.

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Segui adiante por folhas amareladas até uma lista de ditos e provérbios antigos, daqueles usados por nossos avós para justificar situações e explicar obviedades:

"Quando estamos tristes, o melhor lugar do mundo é o colo da vovó".

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"Quando a mamãe está brigada com o papai, não peça para ela escovar seu cabelo".

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"Se sua irmã bateu primeiro, não reaja. A culpa é sempre de quem bate de volta".

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"Nunca espirre quando estão cortando seu cabelo".

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"Rir é como fazer ginástica por dentro, sem sair do lugar".

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"Quando sonhamos, viramos crianças de novo".

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"As canções dos povos tristes são alegres e as canções dos povos alegres são tristes".

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 "O tempo cura tudo, menos as rugas e as dores nas juntas".

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"É triste quando você sabe todas as respostas, mas ninguém mais faz perguntas".

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"Nunca dê um tomate maduro para seu irmãozinho de 3 anos segurar".

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                      "Não confie no cachorro para tomar conta do teu sanduiche".

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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