Cinco perguntas para Natália Leal

Comunicadora gaúcha relata que se tornar diretora na Lupa é um ponto de inflexão na carreira como jornalista

Jornalista gaúcha Natália Leal agora é CEO e diretora de Produto da Lupa - Divulgação

1 - Quem é você, de onde vem e o que faz?
Eu sou jornalista pela Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Fabico - Ufrgs) e especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atualmente, curso especialização em Gestão Empresarial pela FGV-Rio e sou diretora-executiva da Lupa, plataforma referência em combate à desinformação através da checagem de fatos e da educação midiática no Brasil. Tenho 34 anos, sou gaúcha, nascida e criada em Pelotas, na metade Sul, e trabalhei por seis anos em Zero Hora, onde fui redatora, editora-assistente digital e de Esportes e editora de Notícias. Em 2015, assumi a edição digital de Notícias do Diário Catarinense, em Florianópolis, onde, mais tarde, fui coordenadora de redação e chefe de reportagem. De lá, tive uma rápida passagem por Brasília, onde trabalhei como editora-assistente no Poder360, site que cobre o poder em diferentes frentes na capital federal. 

Desde dezembro de 2017 atuo no Rio de Janeiro, coordenando a produção de conteúdo jornalístico na Lupa, primeiramente como editora e, a partir de 2019, como diretora de Conteúdo. Na agência, também tive a oportunidade de ministrar palestras, workshops e oficinas sobre desinformação e fact-checking, além de discutir formas de combate à desinformação junto aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Atuo há mais de 12 anos com gestão de conteúdo e de pessoas e tenho convicção de que o fortalecimento do jornalismo significa também o fortalecimento da democracia. Neste ano, fui escolhida pelo International Center for Journalists (ICFJ) para receber o 'Knight International Journalism Award' por conta do meu trabalho de combate à desinformação no Brasil à frente da Lupa. Também fui premiada seis vezes na equipe que desenvolveu a aplicação 'No Epicentro', feita pela Lupa em parceria com o Google News Initiative, para dimensionar o desastre da Covid-19 no país.

2 - Por que escolheu trabalhar na área de Jornalismo?
Não sou dessas pessoas que sempre souberam que queriam ser jornalistas. O jornalismo foi uma construção na minha vida e tive muitas dúvidas de que era isso que eu queria, de fato, fazer. Mas, a partir do momento em que comecei a trabalhar, ainda durante a faculdade, tive certeza de que estava no lugar certo. Eu tive o privilégio de crescer em uma família na qual as discussões políticas sempre foram muito presentes e isso me despertou um grande senso crítico, além de me dar a oportunidade de desenvolver noções de empatia, compromisso e responsabilidade social. Desde muito pequena aprendi a reconhecer a desigualdade, as histórias não contadas e os vieses existentes na cobertura jornalística. Meus pais, com grande esforço, me deram uma ótima educação básica, o que me permitiu ingressar na universidade pública e trilhar esse caminho do qual colho frutos atualmente. 

E acredito que tudo isso contribuiu para que eu entendesse que o jornalismo deve ser um espelho da realidade, com objetividade, pluralidade e diversidade em todos os âmbitos. O meu caminho não é o de um grande repórter, com um texto excelente, grande contador de histórias. Eu sempre atuei mais na "cozinha", organizando coberturas, editando textos e dando suporte para que os repórteres fizessem o seu trabalho. E durante muito tempo tive dúvidas se o que eu fazia era mesmo jornalismo. Mas acredito que estar onde estou hoje é a minha resposta.

3 - Como você enxerga hoje precisarmos de profissionais especialistas na checagem de notícias?
O jornalismo, como qualquer atividade profissional, está sujeito às mudanças do tempo e da sociedade. Os profissionais de checagem sempre foram necessários nas redações, assim como a prática da checagem, mesmo que feita diretamente pelos repórteres. O checador de fatos é um repórter, afinal. É claro que as mudanças tecnológicas têm grande impacto na dimensão que essa prática tomou a partir de 2016, principalmente por conta de conceitos como pós-verdade e fake news. Mas a desinformação sempre existiu e sempre foi combatida pelo jornalismo, pela ciência e pela academia em diferentes frentes. Hoje, com a checagem transformada em gênero jornalístico, o formato de checagem se sobressai, o que dá a impressão de ser algo novo. Mas o compromisso da checagem é o que já conhecemos no jornalismo: levar informação qualificada às pessoas para que elas tomem melhores decisões para as suas vidas e para a coletividade. Precisamos lembrar que a desinformação como vemos hoje não é um problema do jornalismo, mas sim um problema da sociedade. O jornalismo é uma ferramenta que temos para combatê-la, mas a solução para isso passa por outras frentes, como a diminuição da desigualdade social e uma educação emancipadora no que diz respeito às vivências digitais. Todos nós somos produtores e consumidores de conteúdo e precisamos fazer isso com responsabilidade.

4 - Quais são suas expectativas diante do novo desafio na Lupa?
Este é um momento bastante desafiador para mim, porque é um ponto de inflexão na minha carreira como jornalista. Aos poucos, estou me afastando da cobertura diária e isso não é fácil. Estar mais atenta à sustentabilidade financeira do negócio e às estratégias de marca, monetização e crescimento é uma novidade para mim. Ao mesmo tempo, quem me conhece sabe que flertei com essas áreas em muitos momentos da minha trajetória e não posso esconder que sempre foi um objetivo me tornar uma executiva. Sempre convivi com líderes mulheres e todas elas foram inspiração para mim e, certamente, contribuíram para que eu me tornasse o que sou hoje. Então, eu me sinto bastante realizada profissionalmente em ocupar esse lugar e ter a oportunidade de contribuir com o crescimento da Lupa. Estamos preparando a empresa para os próximos anos e temos um longo caminho a traçar e muito espaços para ocupar com o nosso trabalho.

5 - Quais são os seus planos para daqui a cinco anos?
É difícil fazer previsões ou mesmo desejos para daqui a cinco anos, ainda mais levando em conta que há cinco anos eu nem sequer imaginava estar onde estou. Nada na minha vida foi fácil, mas tudo foi, de certa forma, inesperado. Eu pretendo me especializar cada vez mais na gestão executiva de negócios de Comunicação e contribuir para um ambiente de sustentabilidade financeira mais proveitoso para o jornalismo. Mas me dando a liberdade de imaginar, em cinco anos eu gostaria de estar no mesmo lugar, como CEO da Lupa, liderando uma empresa ainda melhor em todas as suas frentes de atuação, referência nacional e internacional em combate à desinformação, porém em um cenário social muito menos afetado por esse problema do que o que vivemos hoje. 

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