Empreendedorismo feminino na Comunicação: comunicadoras falam sobre busca por equidade

Coletiva.net ouviu Aline Moura, Andressa Griffante Bianca Carneiro, Camila Dilélio e Marluci Steine, Cátia Bandeira, Doda Bedin e Duda Liz

Da esquerda para direita: Aline Moura, Andressa Griffante, Bianca Carneiro, Camila dilelio, Cátia Bandeira, Doda bedin, Duda Liz e Marluci Stein - Crédito: Arquivo pessoal

O empreendedorismo feminino nas áreas de Publicidade e Assessoria de Imprensa cresce de maneira sólida, mas não sem desafios. Diferente da narrativa romantizada de que a mulher tem um 'toque especial' para os negócios ou uma 'capacidade inata de conciliação', a realidade é mais concreta: as mulheres são excelentes gestoras, estrategistas e inovadoras, desde que tenham as condições adequadas para isso. 

A reportagem de Coletiva.net conversou as seguintes empreendororas: Aline Moura, sócia da Faro Comunicação; Andressa Griffante, da RSBloggers; Bianca Carneiro, sócia da Pauta Assessoria; Camila Dilélio e Marluci Stein, da Comunica Mais; Cátia Bandeira, da Core Comunicação; Doda Bedin, Inventa Evento e Duda Liz (Somos Pluralis), para ouvir o que pensam sobre o assunto. 

Aline Moura

Há 15 anos à frente da Faro Comunicação, Aline Moura, relembrou o quanto precisou provar que tinha condições de montar uma empresa, disputar um mercado acirrado na área da Comunicação. 

"Hoje, estou vendo as coisas mudarem, vejo mulheres ocupando cargos de lideranças. Eu fico feliz quando faço reuniões só com mulheres, pois vivemos numa luta constante para ocupar nossos espaço. Os homens veem nos olhando com mais respeito e admiração, pois nós dividimos nosso tempo com a casa, filhos e outras obrigações e ainda empreendemos", exemplificou. 

A equidade ainda não é uma realidade plena, mas há uma benefício importante: quando as mulheres alcançam postos de decisão, elas não apenas mudam suas próprias histórias, mas transformam todo o ambiente ao seu redor. Mais do que nunca, o mercado da Comunicação está percebendo que abrir espaço para lideranças femininas não é uma questão de inclusão, mas de resultado. 

Um levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), baseado em dados do Banco Central relativos ao primeiro trimestre de 2024, constatou que as mulheres à frente de pequenos negócios no Brasil pagam taxas de juros mais altas do que os homens na tomada de crédito. O índice médio dos juros nos financiamentos contratados por elas é de 29,3% ao ano nos empréstimos solicitados, contra os 20,3% pagos por eles. 

Andressa Griffante

Para Andressa Griffante, idealizadora do RSBloggers, em um mercado com oportunidades ainda desiguais em termos de gênero, é preciso fortalecer a autoconfiança constantemente. "Não conseguimos controlar boa parte do que ocorre ao nosso redor, como as decisões de terceiros, mas podemos sim controlar como isso nos afeta e como transformamos isso em motor e aprendizado para ir mais longe", ressaltou. 

Bianca Carneiro

Bianca Carneiro tem lugar de fala no quanto a equidade de gêneros, apesar de distante, já é uma realidade melhor do que em um passado não tão distante. Ela tem a visão de quem é parceira de negócio da mãe, Vera Carneiro, na Sócia da Pauta, que começou a empreender há na década de 1990. 

"Percebemos a evolução de cada geração, o caminho mais próximo da equidade e precisamos valorizar quem veio antes da gente e suas conquistas", constatou a jornalista, que contou que além da empresa ser liderada por mulheres, atualmente, a equipe também é formada apenas por mulheres. 

"Para chegar onde queremos precisamos ter consciência do caminho, além de nos impor e saber que será preciso nos posicionar sempre pra enfrentar o que está pela frente. Acredito que a sororidade é muito importante também, a força de mulheres unidas é extremamente poderosa", ressaltou.

Camila Dilélio 

Sócia-diretora da Comunica Mais, Camila Dilélio defende que as mulheres desenvolvem, por uma questão de sobrevivência em um mundo tão masculino, habilidades que são essenciais para um empreendedor, como a capacidade de gerenciar e mediar conflitos. 

"Para 'chegar lá' [onde nós quisermos] é, sem dúvida, preciso saber escutar, observar, falar quando as pessoas realmente estiverem dispostas a ouvir. O meio corporativo é machista e, em um primeiro momento, os homens não nos escutam. A gente, embora tenha vontade de gritar, precisa respirar e ir ganhando espaço a partir dos nossos resultados. Com o tempo, nossa voz passa a ser ouvida. Além disso, é preciso estudar, estar em constante formação", destacou Camila. 

Cátia Bandeira

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, ratifica que não se trata de 'chororô sexista': por ano, as mulheres gastam o equivalente a 21 dias a mais do que os homens trabalhando em tarefas domésticas, apontou Cátia Bandeira, sócia-diretora da Core Comunicação. 

"Neste contexto, entra a vontade férrea de fazer o empreendimento dar certo quase no custe o que custar. Isso, nos torna teimosas o suficiente para nos galvanizarmos em pessoas resilientes, palavra que entrou para o vocabulário (e moda) nos últimos tempos. Essa teimosia para manter a integridade e conquistar talvez possa ser vista como vantagem", destacou. 

Doda Bedin

Para Doda Bedin, sócia-diretora da Inventa Evento, a intuição e a capacidade multitarefa são diferenciais que impulsionam as mulheres no empreendedorismo. No entanto, ela ressalta que o crescimento profissional e pessoal depende de movimento constante. 

"Acredito muito que o equilíbrio nos fortalece, possibilitando a ampliação do nosso repertório e, consequentemente, nos preparando para desafios maiores." Em um mercado que exige inovação e resiliência, mulheres que empreendem na comunicação não apenas ocupam espaços, mas os transformam, provando que a equidade não é um favor - é uma necessidade para o progresso do mercado. 

Em um mercado que ainda impõe barreiras invisíveis, a principal vantagem que uma mulher tem ao empreender é o desenvolvimento de uma visão estratégica apurada. Ao lidarem historicamente com a necessidade de se provar, elas aprendem a antecipar desafios, criar soluções ágeis e estabelecer redes de apoio sólidas. 

Duda Liz

"Ser mulher empreendedora significa trazer novas perspectivas, desafiar estereótipos e ocupar espaços que nos permitem inspirar e sermos inspiradas por outras mulheres a acreditarem em seu próprio potencial. O fato de ser uma mulher jovem nesse cenário também é desafiador, pois precisamos quebrar as barreiras do etarismo e escancarar a nossa capacidade", refletiu Duda Liz, fundadora da Somos Pluralis. 

Marluci Stein

Para a também fundadora da Comunica Mais, Marluci Stein, empreender é um grande desafio diário e exige não apenas coragem, mas muita resiliência. "O primeiro aprendizado é não desistir na primeira adversidade (e olha que são muitas que aparecem no caminho). Não queremos abrir mão da nossa essência feminina de gestão e não precisamos nos "masculinizar" para sermos boas líderes. E esse é também um desafio. Manter nossa identidade, sem deixar de ser firme quando necessário", acrescentou.

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