Enchentes no RS: "Quem está vivendo, não esquecerá", afirma Bárbara Lima

Repórter e fotógrafo do Jornal do Comércio relataram suas experiências na cobertura

13/09/2023 15:00
Enchentes no RS: "Quem está vivendo, não esquecerá", afirma Bárbara Lima /Crédito: Diego Vara/Reuters

?É uma cobertura desgastante e quem está vivendo, não esquecerá?. Foi isso que Bárbara Lima, jornalista do Jornal do Comércio, relatou ao Coletiva.net sobre o trabalho de reportagem realizado nos locais afetados pelas enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul na última semana. Além de visitar as cidades de Arroio do Meio, Lajeado, Muçum e Roca Sales, ela também esteve presente nas ilhas das Flores, do Marinheiro, do Pavão e da Pintada, em Porto Alegre.

Tanto a repórter quanto o fotógrafo Evandro Oliveira ainda acompanharam a comitiva do presidente em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), que ocorreu no domingo, 10. Também em conversa com o portal, o profissional descreveu o ambiente como uma ?zona de guerra?. ?Houve um momento em que eu estava fotografando e, realizando um giro de 360 graus, só se encontrava tragédia. Nada do que estava ali, ao meu alcance, poderia ser reaproveitado?, explicou. 

Bárbara compartilha da mesma experiência: ?Tu olhas para o lado e não vê nenhuma saída?. Para ela, apesar do anúncio de medidas de emergência, tudo parece estar distante da normalidade. ?Eram cidades que tinham tudo e agora não têm nada. As pessoas precisam começar do zero, com o agravante de terem perdido entes queridos, pois, como são municípios pequenos, todo mundo se conhece?, salientou.

Questionada sobre as histórias que ouviu, a jornalista contou que ficou tocada ao conversar com uma idosa em Muçum que, no encerramento da entrevista, comentou que precisaria tomar um antidepressivo, pois havia três dias que não conseguia dormir. Isso porque ainda conseguia ouvir os gritos das pessoas que estavam em um telhado pedindo socorro. ?É difícil até de fazer perguntas?, pontuou a repórter.

Ao relatar sua experiência, Evandro destacou que, enquanto estava trabalhando na visita presidencial, foi mais difícil perceber a totalidade da tragédia. ?Foi quando nós retornamos para as cidades, após a coletiva, que a ficha caiu?, explicou. Na ocasião, já havia se passado quase uma semana do ocorrido, então ?as pessoas não tinham mais o que chorar?. ?Em virtude disso, tu começas a olhar tudo e a se dar conta da situação desesperadora?, afirmou.

Esforço coletivo

Carlos Villela, subeditor do site do Jornal do Comércio, é um dos profissionais que encabeça os trabalhos. Ele relatou ao Coletiva.net que toda a equipe da publicação está envolvida de forma direta ou indireta. A editoria de Geral atua no contato com órgãos de apoio aos atingidos e acompanha os locais afetados, enquanto os jornalistas de Economia reportam os impactos e as crises na cadeia econômica. Além disso, a repercussão política no Rio Grande do Sul e em Brasília e as ações dos meios cultural e esportivo também ganham espaço. 

No trabalho in loco, além de Bárbara e Evandro, também está presente o motorista Douglas Rachor. Carlos parabenizou a atuação do trio pela ?dificuldade e pelo impacto emocional da cobertura, que exigiu um profissionalismo extremo em uma situação análoga a um campo de guerra?. ?Produzir um jornal é um esforço coletivo, e, por isso, destaco ainda a participação do pessoal da diagramação, pré-impressão e impressão nesse processo, viabilizando que nossa cobertura chegue a todos os cantos possíveis?, salientou.

Questão de escuta

Para Bárbara, o trabalho de reportar acaba exigindo certo distanciamento do fato. Porém, em momentos como esse, isso se torna impossível. ?É muito importante ter cuidado no que será exposto. O momento é tão delicado que, às vezes, o melhor é silenciar e não mostrar?, ponderou. A jornalista considera que, dependendo do modo como o fato é mostrado, a tragédia se torna um marco muito maior na vida dos atingidos. ?Estamos mostrando o sonho destruído de uma pessoa?, mencionou.

Não desdobrar muito o ocorrido também é uma questão de sensibilidade para a repórter. ?Eu conversei com muitas pessoas, mas no meu texto eu trouxe duas ou três. Não se precisa de todos os depoimentos, uma pessoa exemplifica tudo. Então não precisamos ficar pressionando mais. É o que eu penso?, defendeu. Nos momentos de entrevista, Bárbara também optou por deixar a conversa fluir: ?Às vezes a gente só pode escutar?.

Na última semana, o Rio Grande do Sul foi atingido por um ciclone extratropical, que resultou em enchentes em diversas localidades. Desde então, a imprensa gaúcha trabalha para levar ao público informações sobre os acontecimentos, além de mobilizar uma corrente do bem para ajudar as famílias afetadas, especialmente no Vale do Taquari. Nesta série especial, Coletiva.net acompanha o trabalho dos jornalistas que mostram ao Estado e ao Brasil a dimensão desta tragédia.

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