Jornal do Comércio: Um jornal familiar
Prestes a completar 86 anos de circulação ininterrupta, o impresso continua sendo familiar e harmonioso
Quem passa pela movimentada avenida João Pessoa não se dá por conta de quantas notícias já saíram daquele prédio no número 1.282. É ali que está localizada, desde 1968, a redação do tradicional e familiar Jornal do Comércio. É o primeiro endereço do periódico fora do Centro Histórico de Porto Alegre, que, desde sua fundação, já passou por cinco sedes, rua da Ladeira, Mercado Público; Palácio do Comércio e uma casa na rua Siqueira Campos.
O editor-chefe Guilherme Kolling, há quase 12 anos no jornal, explica que alguns funcionários remanescentes daquela época comentam que, quando o veículo veio para esta sede, muitos reclamavam que era muito longe, pois estavam acostumados com a região central. Hoje, depois de 50 anos na sede, a casa do JC, como é conhecido em função das iniciais do nome, é uma referência no bairro e conta até com uma parada de ônibus chamada Estação Jornal do Comércio.
Ao entrar no pequeno estacionamento que dá acesso ao prédio, a placa com a logomarca nas cores azul e branca indica que estamos na sede do impresso. Passando pela recepção, uma sala de visitas, que é cheia de histórias, antecede a redação. Em anexo, à esquerda, está a sala da presidência; e à direita, uma máquina de impressão meia-folha, a Mercedes Original Glockner, adquirida em 1953 e, ao fundo, uma estante de vidro, que expõe centenas de troféus. Mais ao lado, é possível ver uma mesa de centro redonda com quatro poltronas antigas. Na parede, alguns quadros de fotos de governadores, políticos e personalidades empresariais lendo o JC. A mesma sala, no lado esquerdo, conta com uma mesa de reuniões com seis lugares e alguns exemplares dos cadernos do jornal.
Invadindo a redação
Com 53 funcionários, entre jornalistas, fotógrafos, motoristas e etc, a redação é dividida em ilhas de acordo com as áreas Fotografia; Site; Cultura e Colunistas; Economia e Cadernos; Geração E e Diagramação, ainda ali dentro, está a sala do editor-chefe. Passando pelo corredor, outro salão abrange as equipes dos Cadernos Especiais; Geral; Esportes; Política e Revisão.
Ao todo, 57 jornalistas, divididos em 45 atuando na redação e 12 colaboradores que enviam materiais regularmente, atuam gerando notícias e informações dos mais diversos assuntos. Em maio, o JC completa 86 anos de circulação ininterrupta e, ao longo do tempo, foi ampliando os temas, mas o foco até hoje é economia e negócios. Por outro lado, é um jornal que publica periodicamente várias páginas de política, suplementos culturais e econômicos diários, cobertura de cidades, esportes e coluna social.
O diferencial, segundo Guilherme, é que o JC traz um panorama informativo das principais questões econômicas, políticas e do mundo dos negócios no Rio Grande do Sul, tratando isso de uma maneira aprofundada e objetiva. "O Jornal do Comércio tem esta linha editorial séria, com noticiário aprofundado, em busca das informações relevantes, sem sensacionalismo, com o indicador da credibilidade que é marca do jornal ao longo destes anos todos", orgulha-se.
DNA familiar
O DNA do JC é de uma empresa familiar com foco na seriedade da informação com credibilidade - e esta premissa persiste com a quarta geração no comando. Começa com Jenor Cardoso Jarros; passa pela viúva dele, Zaida Jarros, chega ao filho do casal, Delmar Jarros; até o atual presidente, Mércio Tumelero, e, agora, o bisneto do fundador, Giovanni Tumelero, que é diretor de Operações.
O clima da redação é citado por todos como harmonioso. "Na redação, o pessoal tem uma convivência muito tranquila. Aqui, pode-se dizer que temos certa estabilidade, sem muita rotatividade, o que faz com que as pessoas já se conheçam há anos e tenham uma convivência boa. Mesmo estando em um ambiente profissional, existe uma proximidade bacana entre os colegas. Acho que este é o diferencial", aponta Guilherme.
A opinião é corroborada pelo editor da multipltaforma Geração E, Mauro Belo Schneider, que destaca que, no JC, existem muito respeito e união. "Aqui, não tem esta coisa de um tentar derrubar o outro. Somos um grupo muito unido", elogia, confidenciando que muitos dos amigos que tem hoje fora do trabalho já estiveram na redação do jornal.
Alguns detalhes que não passam em branco é que o lugar preferido é onde fica o café. Por ali, o tempo todo tem alguém se servindo, conversando em pé ou até mesmo ajustando a gravata do colega. Além da separação do lixo, que é respeitada por todos na redação, os copos de plásticos foram sendo substituídos pelas canecas pessoais, que chamam a atenção em cima das mesas. Também há um espaço de coleta de tampinhas plásticas, que são doadas para algumas instituições beneficentes. Além disso, a visita de Coletiva.net aconteceu em um dos dias que parte da equipe se exercita durante a ginástica laboral, oferecida três vezes por semana.
Os personagens do JC
Como em toda redação que se preze, o JC também tem seus personagens. Guilherme cita o editor de opinião Roberto Brenol e o colunista Fernando Albrecht, que, segundo ele, tem uma linguagem leve. "Até quando não está muito bem, surge com umas tiradas interessantes e bem-humoradas", compartilha. Os mesmos nomes aparecem também nas referências de Mauro, acrescentando, ainda, o editor-chefe, pois, segundo confidencia, é gestor com perfil de dar liberdade e de depositar confiança nas pessoas, o que facilita e dá entusiasmo ao trabalho.
Editor de economia há 12 anos, Luiz Guimarães destaca também o jornalista e colunista Danilo Ucha, que faleceu em 2016, como um colega que todos adoravam. "Ele era competentíssimo, acima do bem e do mal. Muito rápido, perspicaz, capaz. Eu tinha um carinho especial por ele como colega e uma admiração absurda como profissional", homenageia.
De ontem para hoje
Com 58 anos de profissão, Brenol é uma das figuras mais conhecidas no JC. Há 50 anos na casa, conta que foi convidado por Homero Guerreiro para trabalhar e de lá para cá atuou como repórter, chefe de reportagem, editor-chefe e editor de opinião. "O Jornal do Comércio é uma empresa que admiro e a qual sou grato, pois me possibilitou crescimento profissional e sustento", relata. Destacando que o impresso está em franca recuperação de equipes, tece elogios aos colegas. "Temos muitos jovens competentes aqui, que são o nosso futuro. Fico feliz em saber que nós, os mais antigos, podemos trabalhar juntos com esta nova geração."
Já o colunista e colega Albrecht, editor da página 3, 'Começo de Conversa', atua há 22 anos no Jornal do Comercio. Foi interino da coluna Espaço Vital no início dos anos 1980, até que surgiu a oportunidade de ser colunista e, segundo ele, assim começou um amor sem fim.
Com mais de 50 anos de Jornalismo, Albrecht não tem horário, "tem que encher a página". "Geralmente, aos sábados venho aqui adiantar alguma coisa e só saio quando está tudo concluído. Bem CAXIAS mesmo", brinca, explicando em seguida que o sonho de todo colunista é fazer de cada nota uma obra de Arte. "Claro que a gente nunca chega lá, mas é a meta", diz. A relação com o Jornal do Comércio, afirma, é de troca, pois, para ele, o segredo do colunismo é a informação que há com o colunista veterano.
Reunião de pauta
Às 16h40 acontece a reunião de pauta diariamente, quando participam o editor-chefe e editores de algumas áreas para debaterem sobre as pautas do dia e pré-pautas do dia seguinte. "Tá certo que o noticiário mais imediato pode mudar o dia de pernas para o ar", admite Guilherme. Pela manhã, a partir das 7h30, a redação já conta com a equipe do online, que abastece as redes sociais e o site, e alguns outros jornalistas. Dependendo da pauta do dia, há também repórteres espalhados pelos eventos que estiverem acontecendo na cidade e fora dela.
A rotina acontece relativamente com dois fluxos, a agenda e o noticiário imediato, e o material mais exclusivo, que é produzido pela equipe dos Cadernos Especiais. A primeira impressão da edição ocorre às 21h, e a segunda, até o horário que for necessário, como em dias de jogos da dupla GreNal ou de alguma votação importante em algum dos três poderes.
Embora seja um senhor de 85 anos, o JC modernizou diversos setores e, aos poucos, foi se introduzindo no mundo digital. Mauro participou do processo desde o início. "Foi um desafio transformar um jornal impresso tradicional, de mais de 80 anos, e trazer a linguagem dele para o mundo digital. É desafiador até hoje", compartilha.
Há 10 anos no JC, Amanda Jansson, subeditora do site, explica que trabalhar com jornalismo online é outra dinâmica. "Temos o deadline do agora. Temos um desafio diário de trazer a multimídia, a apuração bem feita e responsável", relata. Atualmente, o podcast é a nova mídia, que inclui tanto o trabalho essencial da redação, quanto o do online. "Trabalhamos com as redes sociais do jornal - Facebook, Twitter e Instagram -, infográficos, galerias de fotos, etc. Sempre trazendo um pouco mais", explica. E completa que o online é onde se tem um canal mais direto com o leitor, que manda comentários e mensagens pelo whatsapp. Ou seja, uma nova era no jornalismo e no JC.