Laura Santos Rocha: Trajetória de luta e resistência

Presidente do Sindjors, ela está na linha de frente na defesa dos direitos e no fortalecimento da democracia

Crédito: Arquivo Pessoal

Seja na área sindical, profissional, acadêmica ou pessoal, Laura Santos Rocha não é estranha às batalhas da vida. Enquanto muitos preferem lavar as mãos e evitar o desgaste do envolvimento em lutas sociais e trabalhistas, pessoas como a jornalista são a linha de frente na defesa de direitos e no fortalecimento da democracia. E se alguém perguntar de onde que veio essa veia lutadora, a resposta está no berço: "Faz parte do DNA da família".

Hoje, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors), Laura é neta de Hugo Simões Lagranha, que foi prefeito de Canoas por cinco mandatos. Com esse legado de peso, a jornalista segue construindo a própria trajetória de resistência e compromisso com as causas coletivas. Desde cedo, ela compreendeu a importância de lutar por aquilo que acredita, uma lição que também foi sendo reforçada pelas experiências vividas.

Da luta estudantil ao Jornalismo

Laura iniciou a trajetória acadêmica mirando na sala de aula. Sua primeira formação, na década de 1980, foi o Magistério, período em que já demonstrava disposição para as pautas coletivas. "Fui fazer estágio em uma escola pública e quando as professoras entraram em greve, fui junto. Fiquei firme e forte com elas", conta. Na segunda graduação, mais uma vez foi atraída para as trincheiras. Matriculada em Pedagogia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), entrou para o movimento estudantil, não conseguindo levar o curso adiante. "Estávamos solicitando a alteração da base curricular, só que as reuniões eram nos horários de aula", explica.

O Jornalismo, enfim, surgiu na sequência, graças à influência de Antônio Gonzales - o Antoninho -, que foi diretor da Famecos e presidente do Sindjors. Laura o conhecia dos veraneios com a família e foi durante um desses encontros no litoral gaúcho que ela foi inspirada pelo jornalista - que também viria a ser seu professor na PUCRS. "Ele me disse: 'Tu estás sempre envolvida, investigando, tu tens que estar no meio da Comunicação'", relembra. Até hoje, a jornalista agradece por ter recebido essa "luz".

O diploma veio em 2002 e, mais tarde, em 2004, ela ingressou na redação do O Sul, jornal Rede Pampa, para atuar na área que é a sua vocação: a diagramação. "Saber que você pode pegar um texto e uma foto e deixar o conteúdo pronto para o leitor usufruir é algo que me cativa. Sem um diagramador, não existe o produto final", salienta. Naquele momento, destaca Laura, a publicação estava em alta: "Era um jornal colorido, de quase 40 páginas, com um staff de cerca de 300 pessoas envolvidas entre redação e parque gráfico".

Por um sindicalismo mais ativo

Mais de uma década depois, enquanto o O Sul efetivava a mudança para o digital, Laura também dava mais um passo na trajetória sindical. O jornal passou a ser um produto totalmente on-line em 2015, enquanto ela foi cedida para a diretoria do Sindjors em 2016 - embora já atuasse como delegada sindical há mais tempo. A jornalista foi vice-presidente de Milton Simas, entre 2016 e 2019, e também durante a gestão de Vera Daisy Barcellos, entre 2019 e 2022. "Em 82 anos, sou a terceira mulher a assumir o Sindicato. Porque é difícil as pessoas te respeitarem, simplesmente pelo fato de ser mulher. E isso é algo que dói muito", pontua.

Além do machismo, Laura aponta para outros desafios: as perdas em incentivos financeiros e a falta de engajamento dos colegas de profissão. Com a retirada do imposto sindical obrigatório na Reforma Trabalhista, a jornalista entende que houve uma grande desmotivação. Atualmente, o Sindjors também arca com duas dívidas históricas, que acabam prejudicando o trabalho da entidade. "Esperamos, no futuro, ter um valor mensal para agir com mais efetividade e trazer mais atividades para a categoria", diz.

Contudo, Laura salienta que as pessoas precisam começar a se preocupar e se envolver mais. "Todo mundo nos liga e quer saber sobre aumento salarial, relatar que o patrão não pagou o 13º ou que não teve direito às férias. Ou seja, todo mundo liga e pergunta: 'O que o Sindicato pode fazer por mim?'. Quem sabe a gente inverte a pergunta: 'O que você pode fazer pelo seu Sindicato?'", provoca. Inclusive, uma das dificuldades em conversar com as entidades patronais é justamente essa desmobilização. "Quando estamos nas mesas de negociação a primeira pergunta que fazem é: 'quantos associados vocês têm? Quem vocês representam?'", relata.

No entanto, mesmo com poucos integrantes, a gestão já conseguiu realizar lives, encontros, entrevistas e até mesmo criar um podcast, que, embora tenha sido pausado em função das enchentes de maio de 2024, será retomado em breve. E apesar das limitações e dificuldades, Laura não perde a vontade de lutar pelos jornalistas: "Sempre digo que as coisas podem se tornar difíceis, mas não impossíveis. Se está difícil é porque você ainda tem que achar uma solução. Tem que ir à luta e não cair no negativismo. Vamos ser proativos e fazer a diferença".

Família, cultura e conexões

Nascida em 18 de dezembro de 1966 em Canoas, Laura é filha de Lauro e Nara Eliane, de 87 e 81 anos, respectivamente. A mãe ainda hoje trabalha como artista plástica, além de dar cursos na área. O pai, formado em Administração de Empresas e Engenharia Mecânica, atuou como assessor parlamentar, além de ter sido presidente da extinta Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). Inclusive, foi durante o mandato do pai na empresa de telefonia, que a jornalista - antes de ser jornalista - passou por um momento inusitado. Os funcionários da CRT entraram em greve e ela, que na época trabalhava como telefonista, aderiu ao movimento também. "Um colega teve que avisar meu pai: 'Olha só, o pessoal está em greve, e sua filha está lá na primeira linha de frente'", relata.

Apesar de terem suas divergências, Laura garante que sempre houve respeito e boa convivência dentro de casa. A filha é quem completa a base familiar da jornalista. Hoje com 20 anos, Lavínia nasceu com uma mutação cromossômica que afeta a interação social e o tônus muscular, o que gerou um atraso intelectual. "Costumo dizer que ela é autista, porque é mais fácil explicar", justifica. Para atender às necessidades da filha, a jornalista teve o cuidado de entrar com um processo de curatela quando Lavínia fez 18 anos. Sendo assim, ainda hoje Laura é a sua responsável. "É uma menina linda, que sabe todas as músicas do Tom Jobim, mas não sabe que dois mais dois é igual a quatro. Mas ela vai chegar lá, ela tem o tempo dela", conta.

Lavínia ainda preza por ter uma agenda cultural movimentada, o que a jornalista faz questão de incentivar: "Procuro fazer com que ela participe socialmente de muitas coisas". É por isso que quem dita a programação para os momentos de folga é justamente a filha. As duas frequentam concertos, teatros, apresentações, restaurantes e até o centro espírita, pois Lavínia gosta de receber passe. No entanto, muitas vezes a programação é dentro de casa mesmo. "Sou bem família, gosto de ficar em casa, vendo um filme e comendo pipoca", conta.

Nas telas da residência, o conteúdo mais frequente é a programação da Disney, além de desenhos e musicais, que Laura aproveita ao lado da filha. Em relação à Literatura, a jornalista gosta de textos cativantes. "Admiro quem consegue fazer um suspense que te prende do início ao fim", afirma. Já quando o assunto é Música, a MPB é o ritmo favorito: "Preciso entender o que estou ouvindo". E como uma boa gaúcha, é claro que ela prioriza sempre as produções artísticas do Rio Grande do Sul. "Incentivo muito a economia local e acho que todo mundo deveria fazer o mesmo. Temos muitas coisas boas aqui", destaca.

Juntos somos mais

Lidando com questões familiares complexas e tantas situações intrincadas como presidente do Sindjors, Laura luta, pois fugir jamais foi uma opção. Diariamente bombardeada com os problemas da categoria, a jornalista abraça até mesmo os sufocos individuais. "As vezes me perguntam por que tanta dedicação para uma única pessoa, mas cada problema é um problema e você tem que respeitar. Se me procuram, vou ajudar da melhor forma e tentar fazer com que tenha um desfecho positivo", afirma.

Infelizmente, esta disposição para o bem já rendeu alguns aborrecimentos para Laura. "Não sei se é um defeito, mas tenho a mania de achar que todo mundo merece uma chance. Acredito que, assim como eu procuro fazer o bem, todos farão o mesmo. Mas a humanidade não é assim", pondera. No entanto, ela não acha que isso seja motivo para mudar, pois acredita que a sua missão é quebrar o ciclo: "Tento fazer com que as coisas fluam e se desenvolvam, sempre com muito respeito".

É por isso que, apesar das dificuldades, Laura garante que se sente muito realizada, principalmente por poder dividir as lutas com os colegas que estão no dia a dia do Sindjors. Entre tantos nomes que colaboram diariamente com a entidade - mesmo de regiões diferentes do Estado e do mundo -, ela destaca: Adroaldo Corrêa, André Zenobini, Bel Clavelin, Carla Seabra, Carlos Bastos, Cátia Quaresma, Celso Augusto Schröder, Eliane Silveira, Jonas Campos, Jorge Leão, Katia Marko, Letícia Castro, Luciamem Winck, Marcos Santuário, Maristela Pastore, Matheus Azevedo, Moisés Mendes, Mônica Cabanãs, Niara de Oliveira, Paulo Gasparotto, Pedro Dreher, Renato Dornelles, Silvia Fernandes, Télia Negrão, Thais Bretanha, Thamara Costa Pereira, Vera Spolidoro, além dos apoios dos escritórios Direito Social e Cardeal Contabilidade.

Junto a essa equipe, a missão atual de Laura é otimizar o Sindicato para a futura gestão, seja dela ou de outra chapa, especialmente por ter percebido que aqueles que entraram recentemente não têm conhecimento sobre o funcionamento da entidade. "Isso não pode ser assim, precisamos ter mais pessoas que queiram se envolver e conhecer o dia a dia", afirma. E aos que julgam e alegam que "o Sindicato não faz nada", a jornalista ressalta: "Tem dias que eu trabalho das 9h até às 22h. Porque não tem hora pra acontecer o cerceamento da liberdade de imprensa, a agressão física, verbal ou psicológica".

Para Laura, lidar com esse tipo de situação exige que a saúde mental esteja em dia, além de, claro, a união da categoria. Segundo a jornalista, o funcionamento do Sindjors depende de uma teia colaborativa entre todos os colegas da diretoria, que emprestam sua força para que a entidade continue viva. É por isso que seu lema máximo é: "Juntos somos mais". "Para mim é um mantra, porque sozinho ninguém faz nada. Precisamos de mais união, solidariedade e respeito para fazer com que as coisas se desenvolvam cada vez mais", finaliza.

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