Michele Limeira: Discreta e plenamente realizada

Coordenadora da Divisão de Rádio da Assembleia Legislativa é movida pela paixão em contar histórias

"E hoje, quando eu rezar, eu vou agradecer. Eu já pedi muito, mas eu agradeço muito hoje." Esse é o pensamento de Michele Boff da Silva Limeira, alguém que se sente plenamente realizada. Atualmente coordenadora da Divisão de Rádio da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, a jornalista deve isso ao fato de ter o que precisa na família, no trabalho, na condição financeira e na saúde mental. Católica, ela acredita muito em Deus e por isso todos os dias acorda e agradece a Ele. Discreta, ela não costuma falar sobre a vida pessoal, nem a expõe em redes sociais. Quando posta algo, é mais como forma de guardar aquela recordação, como uma timeline. "As pessoas conhecem a Michele que trabalha, mas não a do outro lado", explica. 

Essa história de realização, no entanto, começou há 44 anos, em Ijuí. Filha da professora aposentada Izaltina e do pai Ari, falecido, ela traz ótimas recordações da infância, no interior, ao lado dos irmãos, Ana Paula, e os gêmeos Gustavo e Vinícios. Uma época livre, quando viveu solta, em meio à natureza, de pés descalços, e que ela gostaria de poder proporcionar aos filhos Bruna, de 15 anos, e Leonardo, de sete. "Gostava de brincar na rua, no pátio de casa, subia em árvore. Situações que não conseguimos mais proporcionar a eles hoje, de poder sair na porta de casa, colher uma fruta e comer direto do pé, sem nem lavar", lamenta.

Na cidade, ficou até os 20 anos, estudou em colégios de freiras, fez magistério e chegou a lecionar durante um ano. Formou-se em Jornalismo pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), em 2000. A escolha pela profissão se deu por poder se relacionar e conhecer as histórias das pessoas, o que a motiva até hoje. "Sempre fui dessa tendência de buscar um Jornalismo mais humanizado, que traz o ser humano como centro, a vida das pessoas", defende, ressaltando que é preciso lembrar que, por trás de uma história, existe uma pessoa. 

Já na graduação, foi convidada pela professora Nara Emanuelli Magalhães para ser bolsista de pesquisa e ajudar na elaboração do livro 'O povo sabe votar'. Foi quando largou o magistério e descobriu que gostava de fazer pesquisa, de criar relações entre experiências da vida concreta, do dia a dia, da atualidade, com a teoria. De analisar os fatos a partir de uma luz teórica, de um olhar acadêmico, de buscar o histórico e tentar contextualizar, conforme explica. Assim, ela terminou a faculdade decidida a ingressar no mestrado, por isso, a sua passagem pela rádio e pelo Jornal da Manhã foi curta, de cerca de dois anos. 

Apesar de ter saído da cidade há 25 anos, mantém o vínculo com a localidade e frequentemente volta à origem, onde ainda mora parte da família, como a mãe e a avó, de 94 anos. "Meus filhos adoram ir para lá, é casa, é pátio, eles ficam livres, encontram-se com os primos, andam na rua", relata. Segundo ela, as primeiras experiências da filha de andar sozinha na rua foram lá. "É um lugar que traz essas oportunidades que a gente não tem aqui", reforça. 

Do interior para a Capital

No dia em que entrou no ônibus rumo a Porto Alegre, ela não tinha ideia de que não voltaria para o Interior, pois, a princípio, ficaria o período do mestrado em Comunicação Social. No entanto, a estadia se estendeu com o doutorado na mesma área - cursos que foram concluídos em 2002 e 2006, respectivamente. Ainda, em uma saída à noite na Capital, conheceu o então futuro marido, José Luiz Limeira. "A gente casou muito rápido", comenta. Afinal, a união foi oficializada um ano e quatro meses após o início do namoro. Michele tinha 24 anos e, aos 28, teve a Bruna. Em 13 de setembro deste ano, comemoram duas décadas de matrimônio. 

Logo após terminar o mestrado, a profissional passou na seleção para ser professora da Universidade de Passo Fundo (UPF), onde começou a lecionar em Redação com a mesma idade que casou, o que considera muito precoce. Para trabalhar na instituição, viajava semanalmente ao município. A experiência na UPF durou cerca de três anos e meio. Parte deles dividida com a docência no Centro Universitário Metodista IPA, onde Michele ingressou para dar aula de redação e planejamento gráfico. Porém, durante seis anos, lecionou também disciplinas como Metodologia da pesquisa, Teorias da Comunicação e Ética. Ainda, foi docente no curso de Publicidade e na pós-graduação.

Também teve muitos orientandos para monografias, que, de acordo com a mestre, é quando se tem o atendimento mais exclusivo e se cria um maior vínculo com os estudantes. "Eu era aquele perfil de professora que trazia o aluno para dentro de casa nos finais de semana, para poder fazer orientação de trabalho de conclusão de curso (TCC) e acabar no prazo", confessa, com boas lembranças desse tempo.

Ainda na instituição, coordenou a Comunicação e o Marketing da Rede Metodista de Educação, área em que atua com Assessoria de Imprensa, de Publicidade, de Marketing e é responsável pelos vestibulares. Ao assumir o cargo, deixou a UPF. Um dos momentos vividos nessa época foi o incêndio do Colégio Centenário, em Santa Maria, ligado à rede. Um desafio, pois mexeu com a emoção das pessoas e um momento de solidariedade da imprensa com a organização, com os professores, com os pais e funcionários. 

Maternidade, um capítulo à parte

Além do trabalho, o que mais ganha dedicação de Michele é a família, em especial os filhos. Ser mãe é, com certeza, um capítulo à parte na vida. Desde o nascimento da primogênita, a vivência nesse contexto continua muito forte. "É desafiador, é difícil, mas eles são uma transformação para melhor, obviamente." Isso porque ela crê que eles a ensinam todos os dias. Para a comunicadora, essa intensidade é uma fase e precisa ser vivida da melhor forma possível, porque não voltará. Então, é com o esposo e os herdeiros que passa a maior parte do tempo de lazer, além de buscar contato com a natureza e estar ao ar livre, apesar de confessar que é "aquele tipo de pessoa que não sabe o que fazer nas horas em que não tem que trabalhar".

Nos raros momentos a sós, gosta de ler e assistir a filmes. 'O amor nos tempos do cólera', de Gabriel García Márquez, é uma obra que está relendo, mas diz que a casa é repleta de publicações. Entre os exercícios frequentes, estão caminhada e pilates, que pratica após o trabalho e antes de chegar em casa. Já a rotina do trabalho acontece de forma híbrida. Pela manhã, dedica-se ao home office e, à tarde, ao presencial -  ela assume que, muitas vezes, acaba levando trabalho para dentro de casa no turno da noite também. Ela também gosta de cozinhar, um hobby que trouxe da mãe. 

Assembleia, grande parte da história

Michele trabalhava no IPA quando recebeu a ligação de que havia passado no concurso para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS). Ela confessa que até tinha esquecido da situação e nem pensava em assumir, fez isso apenas no último dia possível, depois de conversar com pessoas como Carlos Bastos, Celso Augusto Schröder e Marcelo Nepomuceno, que atuavam lá e que se tornariam referências. Além deles, Batista FilhoAntônio Hohlfeldt também são importantes, assim como colegas da UPF, do IPA e os atuais da Assembleia. A principal, no entanto, é a sua mãe: "Ela foi a base de tudo".

O único pedido que fez a Nepomuceno, que era diretor de Jornalismo, foi de não atuar na televisão. Assim, começou como redatora na agência de notícias, onde aprendeu muito sobre os trâmites da Casa e a linguagem técnica. "Se eu puder linkar a minha vida acadêmica com a Assembleia, digo que lá se faz, sim, um Jornalismo especializado", avalia, em referência a disciplinas que lecionava no IPA. 

No entanto, ao tentar ter um segundo filho e perdê-lo durante a gravidez, ela saiu da faculdade. Foi quando sentiu a necessidade de reorganizar a vida, definir o que era a prioridade naquele momento. A jornalista sentiu que precisaria de uma vida menos corrida, de mais tempo para si e para a família. Foi o que a fez se desligar da docência em 2018. "Fui para a vida acadêmica de uma maneira bastante rápida e saí em um processo bastante lento, de desconstrução e redefinição dos objetivos da minha vida pessoal e profissional." 

Depois de um ano na área administrativa, voltou para a Comunicação, em 2011, no setor de Rádio. Em 2013, foi para a coordenação da TV, onde ficou por 10 anos. Nesse período, cita três realizações como destaques. A primeira delas foi a digitalização da emissora em 2019, deixando de lado as fitas analógicas. As transmissões simultâneas e os eventos híbridos foram outras conquistas, que, de acordo com ela, também promoveram uma valorização do veículo. "Ela ganhou um significado diferenciado dentro da Assembleia na pandemia, porque o Parlamento precisou da TV para funcionar", analisa.

Isso porque, sem poder realizar as reuniões presencialmente, era preciso transmitir simultaneamente as reuniões de todas as comissões. Sem estar preparada para tal, a solução encontrada foi utilizar câmeras com operação remota que a ALRS adquiriu em 2019 e instalou nas salas no início de 2020. "Foi o momento em que, em definitivo, a TV teve que se aproximar da Informática e da área de Tecnologia." Os eventos híbridos foram uma evolução, quando era possível colocar um número de pessoas no ambiente físico e o restante nas casas. 

Subcapítulo recém-começado

Há pouco mais de quatro meses, Michele começou um subcapítulo dentro do título maior, que é a Assembleia: ela passou para a coordenação da Divisão de Rádio. Apesar do pouco tempo, gerenciou a grande mudança que foi a criação da redação multimídia, integrando rádio e TV. Aos poucos, essa união também ocorre na produção de programas com os podcasts e videocasts, assim como na cobertura diária, que é feita para os dois meios. "De certa forma, eu me desliguei da TV, mas sigo lá, muito próxima, porque trabalho na pauta integrada", completa. 

Ao lembrar do que a move na profissão, reconhece na Comunicação da ALRS um espaço com infinitas possibilidades para produção de conteúdos humanizados. "Passam pelo Jornalismo muitas histórias de vida e é com isso que trabalhamos lá todos os dias. Isso me motiva!"

Sem títulos para os próximos capítulos

Procurar fazer o melhor possível é o que guia Michele. Além disso, aprendeu no Parlamento gaúcho a ter paciência, olhar para o acontecimento e esperar o tempo que for necessário para que se possa tomar uma decisão mais acertada em relação a essa situação. 

Não sendo uma pessoa de fazer planos a longo prazo, sabe, entretanto, que não é também de se acomodar. Por isso, a intenção dela é, sempre que puder, trazer algo que possa ajudar a Assembleia a melhorar a estrutura de Jornalismo. Dentro daquilo que ela tiver para oferecer como profissional, como servidora pública, ela estará disponível para fazer.  

Então, confessa que, neste momento, não tem um planejamento estabelecido. "Eu já fiz tanto, muito precocemente. Cheguei aos meus 44 anos com uma história pra contar. Então, acho que eu quero aproveitar isso que fiz até agora. Essa é minha condição", conclui.

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