Vanessa Musskopf: A colagem da vida

Jornalista especialista em conteúdo é apaixonada pelo estudo do comportamento humano

A paixão pelo comportamento humano guia as escolhas profissionais e pessoais de Vanessa Musskopf, que adora ler e escrever sobre o tema. Mas é entre revistas, imagens, tesouras e cola que a head de Conteúdo da Global se desconecta do celular e foca no presente. Mais do que um hobby, a colagem é um momento de reflexão. A atividade foi ensinada por uma amiga. "Porque é o momento que eu tô ali, conectada com aquilo, recortando, vendo os encaixes, vendo o que dá certo e o que não dá. É quase uma metáfora da vida".

O primeiro recorte da vida da comunicadora foi em Manaus, onde nasceu, em 6 de janeiro de 1984. Ela, no entanto, considera-se gaúcha. "Nascer fora do Rio Grande do Sul foi apenas um acidente geográfico", brinca. Isso porque veio ao Estado, terra natal da família, logo em seguida do nascimento. Filha única da psicopedagoga Mirian Musskopf e do militar Milton Meira, a profissão do pai explica o nascimento no Norte do Brasil. Ela tem três irmãs por parte de pai, mas teve pouca convivência - laço que está estreitando. Dos tempos em que era criança, recorda a vivência com os avós maternos, Nelson e Liselote. "Toda a minha infância está recheada de sabores e cores que vêm deles."

Na terra da garoa

Logo após se graduar em Jornalismo, pela PUCRS, em 2007, mudou-se para São Paulo em busca de oportunidades. Foi onde começou a carreira como analista de Conteúdo do Itaú, após um ano. No banco, atuou no projeto 'TV Itaúrade' - uma plataforma de vídeo exclusiva para investidores pessoa física. "Eu fazia as pautas, montava os programetes, o que a gente ia falar, como íamos ensinar a investir." Para ela, ocupar esta área foi um processo natural, pois, ao entrar na faculdade, pensava em ser repórter. A vida, porém, levou-a para outro lado, mesmo tendo atuado na área de Marketing, sempre esteve focada em conteúdo. Além disso, seu perfil mais criativo a deixava cada vez mais longe do padrão mais sério de repórter. "Eu me sentia presa no Jornalismo."

Por estar em uma área formada por muitos publicitários, a principal dificuldade encontrada no início da carreira foi justamente a comunicação, com o que ela chama de 'publicitares'. "Eu não tinha o idioma ainda. Foi o primeiro grande desafio. Depois, fui pegando o jeito e me adaptando ao modo de operar dentro da profissão." Na capital paulista, iniciou um projeto que mudaria a vida: o blog 'Santa Dieta'. Sentindo-se gorda, começou uma reeducação alimentar, além de estudar sobre nutrição. Com vontade de compartilhar o conhecimento, criou o espaço on-line. "Na época, chegou a ter quatro milhões de visualizações mensais. Isso, para 2012, era bastante coisa."

Depois veio o Instagram, onde ela também passou a postar sobre o tema. A escrita funcionou como um portfólio, que rendeu convites para trabalhos. No entanto, viveu a pressão da internet de ter que produzir muito conteúdo e viver cerceada em uma rigidez de alimentação que não achava legal. Dessa forma, cobrava a si mesma, tal qual seus seguidores. Após sete anos em São Paulo, retornou a Porto Alegre por razões familiares. Seus avós estavam ficando mais velhinhos, e ela queria muito estar junto e cuidar deles, pois família é uma peça muito importante nesse quebra-cabeça de sua vida.

Tudo bem encaixado

A jornalista diz que viveu a busca de um objetivo inatingível. "O fitness é aquela busca incessante por um corpo que nunca vai estar dentro de um padrão, porque este padrão de beleza está toda hora mudando." Então, vieram a depressão e a compulsão alimentar. Para melhorar, passou a fazer terapia e consultas com uma nutricionista comportamental. "Foi um mergulho para dentro, com o objetivo de trabalhar a depressão. Hoje, ainda estou em tratamento, mas muito melhor, conseguindo identificar meus gatilhos, trabalhar e ter uma vida supernormal", comemora. Para ela, o distúrbio apareceu para que ela pudesse enxergar o que tinha valor na vida.

Ao acreditar que "falar é a maior cura", Vanessa compartilha esses acontecimentos, aprendizados e outros pensamentos nas redes sociais. Na sua visão, é preciso expor esses assuntos para desmistificá-los, bem como mostrar que não está sozinha. Por isso, acredita que, para ser feliz, é necessário se aceitar. "E está tudo bem ser como a gente é. Não somos nós que estamos errados, é o mundo que está." Por isso, hoje, quando tem vontade, permite-se comer doces sem se martirizar. "Acho que essa é a grande mensagem do meu aprendizado: sem culpa."

Quem ajuda Vanessa a se manter na linha é o cachorro da raça jack russell terrier, o Guri. Ela ganhou o peludo ainda em São Paulo, depois de ter se separado do marido. "Ele foi esse símbolo de parceria, de estar sempre junto. É o meu amuleto de sorte e xodozinho." Com oito anos, ele a acompanha até na agência e foi peça fundamental para enfrentar a pandemia, pois estava sempre mantendo nos eixos e com rotina. "Cachorro gosta de rotina. Então, ele é o meu ponto de equilíbrio."

"Menininha, não!"

Mais uma peça desta colagem foi o encerramento do blog, em 2015, e o começo de outro tema nas redes: o feminismo. Isso por perceber o quanto as mulheres ficavam sujeitas ao machismo, ao tratarem-nas como frágeis ou apenas preocupadas com a beleza. Vanessa defende que todas podem muito mais do que isso e entendeu melhor ainda quando começou a parar de se preocupar com dieta e conseguiu reforçar outros aspectos da vida. Parou de ser um pilar central e ela colocou o tema no lugar que ele deveria estar: "É só minha alimentação." Os exercícios também são feitos pela manutenção da saúde, não mais pela busca do corpo perfeito. Dessa forma, sobrou tempo para, por exemplo, fazer mais cursos, mais contatos e, assim, crescer profissionalmente.

Infelizmente, contudo, ela vê o preconceito na profissão, tanto com colegas quanto com clientes, em situações como: ideias das colaboradoras faladas como se fossem dos homens ou eles explicando situações que são óbvias - conhecido como mansplaining. "Eu sou a líder dessa área. Não precisa me explicar como faço meu trabalho", argumenta. Então, começou a tentar implodir o conceito e mudar aos poucos essa percepção de que mulheres não podem ou não têm capacidade. "Temos, sim, e estamos fazendo por onde", garante.

Outro momento que a incomoda é quando a tratam como "menininha". "É bem difícil se colocar, tem que ter um jogo de cintura bem grande. Não passei por nenhuma situação específica, é tudo muito velado. Mas tenho que provar o tempo todo que consigo e sou capaz", desabafa. Para superar esse preconceito, sempre leva dados e fundamenta bem suas colocações, o que, na visão dela, tornou-a uma profissional mais capacitada e completa.

A doida da pauta

'Combinado é executado.' Esse é o lema da profissional, que também se considera ansiosa e "a doida da pauta". Foi assim que a jornalista evidenciou suas passagens nas diferentes empresas em que atuou, como a Unimed Porto Alegre e Paim Comunicação - período que recebeu o Prêmio Discovery de Criatividade e Inovação em Mídia, com um case da Camicado: um conjunto de minivídeos que inspiram como montar uma lista de casamento.

Na HOC - House Of Creativity, ela já trabalhou duas vezes, em 2018, quando a agência ainda se denominava Morya, e em 2021. Duas foram as passagens também pela Paim. Na segunda oportunidade, foi estrategista de conteúdo do YouthLab para a varejista jovem Youcom. Na W3haus, durante nove meses, liderou uma equipe de 15 profissionais de conteúdo digital do Boticário e enfrentou o período de contingenciamento de Covid-19. Além de agências, Vanessa ainda ministrou a disciplina 'Como nascem os influenciadores e como usá-los', como professora convidada, no Programa de Especialização da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Dessas experiências, o enfrentamento da pandemia foi o que mais a marcou, por envolver a gestão de um trabalho que era feito presencialmente, e passou a ser on-line. "Foi uma grande loucura, mas que deu certo, porque aprendemos na marra", destaca, afirmando que o fato também mostrou a relevância da área. "As empresas e as agências perceberam o quanto a internet e as redes são importantes."

Ao escolher onde trabalhar, a comunicadora analisa os desafios que terá e como pode contribuir. Ela preza por estar em lugares onde terá espaço para levar ideias e melhorias, não só aos clientes, mas também às agências. "Gosto muito de processos, porque sou uma capricorniana metódica. Então, aprecio estar em lugares que abrem essas oportunidades", aponta, ao salientar que a Global tem sido uma grata surpresa, com portas abertas para a inovação.

Paixão por comportamento humano

A cola que une os recortes da vida de Vanessa é a paixão pelo comportamento humano. É o que a faz buscar novos conhecimentos. Esse desejo por aprender a levou a começar a faculdade de Psicologia, em 2021, na Atitus Educação. O aprendizado, conforme aborda, contribui para o trabalho dela na Publicidade, pois tem o objetivo de criar conteúdos que engajam e chamam atenção do público. Ela ainda brinca que é "campeã sul-americana de fazer cursos aleatórios", visto que entende que são dessas vivências que surge a criatividade. "Eu adoro aprender: do chinês ao ponto cruz, estou sempre inventando."

Além de estudar, também gosta de ler e escrever sobre o comportamento humano, assim como romances, a exemplo de 'Boa sorte', de Rosa Monteiro. A escrita se dá já no ritual da manhã, quando anota palavras sobre a vida, com temas como amor e momentos, sempre de forma bem-humorada e leve. "São crônicas do dia a dia. Pequenos acontecimentos do cotidiano que vejo e escrevo. Mas ficam só para mim", comenta, ao dizer que sente saudades de ter um site. "Acho que isso não morreu e tem espaço ainda para escrever na internet."

Neste futuro projeto, as pautas abordadas seriam o cotidiano, e, claro, o comportamento humano. "O que estamos vendo acontecer, pois tudo está acontecendo tão rápido. Então, é legal lançar o nosso olhar sobre isso." Além do espaço virtual para registrar os pensamentos e a conclusão da graduação em Psicologia, a profissional ainda tem um sonho a realizar: "Estar em um cargo de gestão de pessoas criativas dentro de uma agência muito legal".

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