William Mallet: O valor das ideias

Desde cedo, a criatividade integra a vida do fundador da 3.ag e do Clube de Criação do Rio Grande do Sul

Ainda criança, com 10 anos, ele se interessou mais pelo programa dos melhores comerciais do ano do mundo do que pelos desenhos. Ao assistir a atração, William Schneider Mallet decidiu que queria criar uma propaganda. Inventar, aliás, parece ser a sua missão. Aos oito anos, sugeriu o nome da irmã, Camila, que foi aceito pela mãe Susana Schneider e pelo pai Marcos Mallet. Pegar a caçula no colo, logo após o nascimento, aliás, é a maior recordação de infância do porto-alegrense nascido em 5 de novembro de 1982.

O gesto se repetirá quando ela segurar o sobrinho Matheus, que está prestes a nascer - entre final de maio e início de junho. "Será como um 'renascimento'", diz. A vinda do menino não era um sonho, mas um desejo sem muito planejamento, pois ele nunca achou que estaria preparado. A proximidade dos 40 anos, completados em 2022, no entanto, o motivou. "É agora ou nunca", pensou. Ele confessa, porém, que, quando soube que a companheira estava grávida, ficou nervoso. "Aquela sensação da montanha-russa quando tu estás lá em cima e tu já vais descer. Tu arregalas o olho e diz: 'vai ser agora'!"  

A "namorida", como ele chama, Monique Monsú, já é mãe de dois filhos. O relacionamento começou em 2018 e, no início da pandemia, em março de 2020, ela o convidou para passar a quarentena na mesma casa. A pandemia chegou ao fim, conforme decretado pela OMS, mas a vida a dois permanece até hoje.

Pai de cachorro

Antes da chegada do filho humano, William experimentou ser pai de cachorro, ao ser tutor do Pingo e do Berlim. A vontade de ter um pet veio quando ele saiu da casa dos pais. O profissional sempre se imaginou com um companheiro pet nos mais diversos ambientes: assistindo ao jogo do Grêmio, nos passeios, nos restaurantes e eventos de rua. Assim, em 2017, ele adotou Pingo junto ao Projeto Anjos de Patas, de Viamão. Ele foi a terceira tentativa de adoção para o vira-lata, que já tinha sido devolvido duas vezes. 

O cão tinha três meses e virou seu filho, conforme reforça. O publicitário discorda das pessoas que diziam que, quando ele virasse pai de humano, mudaria esse pensamento. O cachorro tem um perfil no Instagram e tornou realidade o sonho de companhia, até mesmo se tornando o mascote da 3.ag, agência fundada pelo comunicador, onde ele ia trabalhar e participava de reuniões. "O Pingo é o meu parceirão. Onde eu vou ele vai."

Paixões tricolor e musical

O Grêmio e a música são outras duas paixões do profissional. William lembra o primeiro jogo que assistiu do Tricolor Gaúcho no estádio: foi em 1989, vitória gremista por 6 a 1 em cima do Flamengo, em partida válida pela Copa do Brasil. O sentimento vem de berço - desde o avô, que jogou no antigo Renner -, ele transmitiu para a irmã e espera dar continuidade com Matheus. Outro legado que deseja passar ao filho é o apego musical. Com instrumentos como violão, guitarra, teclado e amplificador, hoje em dia, a prática acontece mais em casa, sozinho. No passado, no período entre colégio e faculdade, já teve uma banda que tocava Red Hot Chili Peppers e algumas canções autorais, que ele também compunha, usando a criatividade. 

Além de assistir, o comunicador também joga futebol. O encontro com os amigos ocorre uma vez por semana, mas já foram três. Essa é a rotina esportiva atualmente. Na infância, porém, ela era ainda mais frequente. As atividades de esportes começaram com o judô, aos oito anos. Chegou a ser campeão estadual na categoria infantil pela Associação Cristã de Moços do Rio Grande do Sul (ACM). Ele também fez atletismo, ginástica olímpica, esgrima e handebol. "Isso no tempo de colégio, depois que entrei na faculdade, ficou só o futebol com os amigos".

Publicidade: criar profissionalmente

Para atender o desejo da criança que queria criar um comercial, em 2004, William entrou na faculdade de Publicidade Propaganda da Escola de Comunicação, Artes e Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Famecos/PUCRS). Uma das primeiras atuações na área foi em um estágio para lançar um curso de Educação a distância, "que não saiu do papel, porque na época não tinha a facilidade da internet como hoje". 

Um dos primeiros trabalhos como profissional em agência foi em 2007, na São Jorge Comunicação, onde fez amigos e conheceu Fabiano Bonetti, para ele, uma referência na área. "Ele é o meu grande mentor como redator", declara, ao completar que Bonetti o ensinou, na prática, e, por isso, tem muita gratidão. Esse foi o início da atuação no setor, que seguiu na Martins+Andrade e na W3Haus. Além de redação publicitária, ele executava o planejamento criativo e a geração de conteúdo.

Depois de alguns freelas para a Duplo M e a extinta Dez Propaganda, em 2011 o publicitário foi convidado por Fabiano Wainberg para assumir, junto com Ike Becker, o Marketing da Rainha das Noivas e remodelar a house. A proposta foi aceita com a condição de que o espaço viraria uma agência independente. E, assim, em 2012, eles se mudaram para a Cidade Baixa e nasceu a Agência 3 Comunicação. O nome se relaciona ao fato de ter sido fundada por três pessoas: William, Ike e Fabiano. "'Marqueteiramente' falando, tinha um monte de explicação, como porque três é ímpar e as ideias serão ímpar", completou.

Além de ter qualidade e entrega, o diretor de Criação acredita que consegue ser próximo das pessoas. "Esse é meu DNA, de abraçar muito as causas." E, assim, consegue manter uma relação positiva com quem é ou não cliente. Em 2017, com a saída de Ike da sociedade, começou um processo de remodelação, com o encurtamento do nome para 3.ag e a reestruturação na equipe. Um dos orgulhos do sócio foi ter trabalhado, por cerca de dois anos, com Luciano Maciel, diretor de Arte. Isso até a chegada de Camila 'Juba' Mariana, a atual dupla de William e "braço direito, esquerdo, as duas pernas", como brinca, ao ressaltar a importância da profissional para ele.

Um clube para enaltecer a criação

'Valorizar o valor das ideias', é esse o mote do Clube de Criação do Rio Grande do Sul (CCRS), do qual o publicitário é um dos fundadores. Conforme ele, o grupo nasceu em um momento em que a propaganda estava ainda mais departamentalizada. "No tempo em que eu não trabalhava em agência ainda, na época em que eu via o Festival de Cannes, era o departamento de Criação que comandava tudo", analisa. Hoje, o criativo vê que as agências estão em queda, menores e o departamento de Marketing está cada vez maior. Dessa forma, crê que a área foi "escanteada" e deixou de ter o protagonismo que tinha. Além disso, era desunido por não ter quem a representasse. Com esse intuito, surgiu o CCRS.

A ideia de unir os criativos veio de Carlos Saul Ritta Duque, da Dez. A primeira reunião foi convocada por Zeca Honorato, em 2016. Das dezenas de participantes, sobraram cinco que aceitaram o desafio de desenvolver o Clube: além de William, Alessandro Carlucci, Beto Schmidt, Cado Bottega e Dreyson Queiroz. A principal motivação é fazer as pessoas entenderem que, "quando tu tens uma ideia muito bem pensada, consegue gerar mais valor para todo mundo. Para quem cria, para quem está aprendendo sobre isso e para quem vai pagar", explica. Dessa forma, entende que o mercado cresce criativamente e passa a ter novamente campanhas e identidades marcantes. 

"É um trabalho de formiguinha", pondera, ao explicar que, para mostrar essa importância, a organização faz reunião com setores comerciais, associações e veículos de mídia; ministra cursos e palestras em universidades e outros ambientes; e realiza parcerias como, por exemplo, júri em concursos, curadorias e trabalhos conjuntos.

No portfólio

Uma das iniciativas destacadas pelo fundador é o troféu que o CCRS criou para o 'Prêmio Colunistas Sul', como o grande destaque da distinção. A campanha do 'Aluguel Solidário' para a prefeitura de Porto Alegre também é referendada, pois teve muita repercussão. "Era mais uma campanha que nos chamaram, sem verba, e a gente tinha que botar a ideia em primeiro lugar", explicou.

O publicitário também ressalta a ação para a Santa Casa de Misericórdia para agradecer aos profissionais pelo trabalho na linha de frente durante a pandemia de Covid-19. Nela, os atores da série 'Sob Pressão', da rede Globo, Júlio Andrade e Marjorie Estiano, gravaram vídeos que foram enviados por WhatsApp aos médicos, enfermeiros e motoristas. As campanhas do 'ARP Academy', da Associação Riograndense de Propaganda (ARP), também são parte importante do portfólio do grupo e da 3.ag - que cria o layout.

Alguns projetos também estão em andamento, como ações de diversidade, para integrar mais negros, mulheres e trans no CCRS e no mercado. "A gente quer ativar as ideias dos outros e fazer a coisa acontecer", exaltou. O 'Sala de Brain' também é uma iniciativa em desenvolvimento. Em parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o clube produziu um podcast, com um formato mais radiofônico, e, com a Cubo Filmes, um programa de televisão de debate com o mercado.

Muito ainda para criar

"A gente nunca sabe o dia de amanhã". Com essa frase, o profissional esclarece que faz planos para o futuro, mas também deixa a vida o levar, conforme seus esforços. Por exemplo, se quer montar uma agência, trabalhará com esse objetivo. Se a vontade é ter filho, terá e se preparará para isso. Se deseja reunir criativos do mercado para elaborar iniciativas legais, vai chamar os amigos e fazer isso acontecer. "Meus planos são sempre de curto e médio prazos. Isso porque o mundo é cheio de variáveis e muitos fatos podem fugir do controle."

William acredita que ainda tem muito a aprender como ser humano. "Para muitas pessoas, a vida só começa depois dos 40. Antigamente, quem tinha essa idade estava encaminhando a vida, antes de chegar na parte idosa dos 60", reflete. Também nem pensa em aposentadoria, pois quer crescer profissionalmente, capacitar-se, e ser bom no que se considera médio e excelente no que se considera bom. "E, obviamente, deixar de ser fraco e ruim naquilo em que eu me considero inferior", completa.

Ainda, tem muitos desejos a realizar, como ganhar bastante dinheiro com a profissão para viver confortavelmente e ter uma vida melhor organizada para conciliar tempo de trabalho com vida pessoal. Voltar a tocar com uma banda e a compor músicas também estão nas metas. Além de desenhar quadros e escrever um livro infantil. "Quero continuar praticando esportes e ter saúde para isso por muito e muito tempo."

Já o objetivo profissional mais próximo é ter um programa de TV, rádio ou internet. Nessa área, anseia por trabalhar sempre com os melhores ao lado, para poder aprender com ele. Aliás, essa aspiração vai ao encontro do pensamento que o guia: "Gosto de me cercar de pessoas que me ajudem a crescer e evoluir. Gosto de me divertir com os meus amigos. Acho que, se desse para reunir tudo isso de uma vez, seria excelente".

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