Diversidade e Comunicação: Evane Becker e a construção do conhecimento
Colunista desta sexta-feira em Coletiva.net, profissional foi entrevistada por Luan Pires
Evane Becker é sócia e diretora, ao lado da filha, Martha Becker, da agência de Comunicação Martha Becker Connections. Atuando há 23 anos ao lado de Martha, sua base de sustentação sempre foi a educação e a pedagogia. Por isso, a vontade permanente de continuar conquistando novos horizontes fez com que acabasse construindo com êxito uma agência que tem um pacote completo de soluções de Comunicação, mas, mais do que isso, tem uma professora de essência olhando nos olhos de cada um dos seus colaboradores.
Estar há 23 anos atuando como diretora de uma agência de Comunicação, ao lado da Martha, deve exigir um esforço, já que tudo muda muito rápido e o mercado pode ser cruel com a sua geração que, mais do qualquer outra, precisou se adaptar, se atualizar, desaprender e aprender coisas. Como você vê isso?
Um desafio muito grande. É natural ir se acomodando com a idade, mas sempre encarei de forma muito apaixonante. Sabe, fazer algo por alguém me faz muito feliz. Dentro da minha influência na agência, por ter uma experiência pedagógica, atuo na área de gestão de pessoas e administrativa-financeira de uma forma muito humanizada. Quando comecei a agência com minha filha foi um grande giro na minha vida. Eu recém tinha começado um mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e atuava no colégio João XXIII, mas decidi embarcar nessa aventura. Toda essa minha trajetória anterior foi o que me fez querer construir um ambiente de trabalho que gere conhecimento. Fazer trabalhos voluntários, olhar para as pessoas, ensinar os mais jovens, aprender com eles, também. Tenho toda humildade em admitir que nunca vou parar de aprender.
Você lida com diferentes gerações sendo gestora. Como é conviver com essa diferença de pensamentos?
Essa questão de trabalhar como professora orientadora educacional lá no João XXIII, com adolescentes no colégio Cruzeiro do Sul, e também em outros momentos com turmas de adultos me deu uma bagagem incrível para entender que todos podem ensinar e aprender. As pessoas só precisam ouvir e ver de fato a outra pessoa, e não só esperar a sua vez de falar.
Estamos em um momento em que muitas pessoas mais velhas estão permanecendo no mercado de trabalho. O que fazer para continuar a aprender, a se adaptar, e a ensinar ao longo dos anos? Queria que você desse um recado para os baby boomers que estão atuando e enfrentando tantas mudanças no mercado de Comunicação.
Eu sempre sou espontânea, não abro mão em nenhum momento de ser quem eu sou. Isso é importante. Claro que a gente fica mal com preconceitos de idade, mas eu penso muito que envelhecer tem mais ganhos do que perdas. E é vital ter isso em mente. É que envelhecer te dá um poder que é preciso administrar com humildade, já que com o tempo vamos ganhando visão e compreensão que o jovem ainda não tem em totalidade. Não ter vergonha de dizer 'não sei'. E olha que eu estudei muito na minha vida, mas eu sei que eu não sei de tudo e o verdadeiro conhecimento é esse. Eu diria para os meus contemporâneos criarem o prazer do conhecimento. A maior aprendizagem é a construção do conhecimento. A teoria te dá luz, mas tu constrói com que tu planta dentro de si e colhe com os outros.
Mas e quando acontece um conflito?
Primeira coisa, respirar fundo. O que tu ouve tu tem que administrar. Porque acontece em tudo que é lugar. Eu sempre fui uma pessoa de me posicionar. Uma época, tempos atrás, em um local em que eu estava, começaram a fazer demissões, principalmente dos colaboradores mais velhos. E eu não deixei de me posicionar. 14,7% da população residente no Brasil em 2021 é de pessoas de 60+. Quando tu quer uma cultura humanizada, de acolhimento, de aprendizagem, de compartilhar experiência entre outros, tu precisa considerar essa parcela da população nas empresas, hoje em dia.
Vocês têm coordenadores, gestores, e outras pessoas de diferentes marcadores sociais. Como você acha que isso agrega para a empresa?
A gente nunca admitiu preconceito aqui. Isso, antes mesmo da pauta ser mais discutida recentemente. Sempre foi espontâneo para gente, mas com o tempo vimos que precisávamos estruturar e continuar promovendo ativamente e conscientemente essa cultura que já estava na nossa essência. A gente já ouviu de diretores de outras empresas que eles 'já tentaram' fazer isso [ter mais diversidade] e não conseguiram. E eu penso: 'como? Se você foca no talento, na energia, na sinergia, e dá mais ferramentas para todos se desenvolverem de acordo com suas necessidades específicas, vai ser sempre possível'.
Acredito na verdadeira inclusão a partir da postura. Acredito na conscientização da importância de contribuir para mudar a postura de viver em sociedade, seja sendo inspiração, exemplo ou oportunizando e participando de debates sobre o tema. Trago escolas como o exemplo porque também influenciam na formação do indivíduo e foram nelas onde atuei por muitos anos. Sempre senti o compromisso de trabalhar estas questões na busca da contribuição na formação do indivíduo e que isto aconteça sempre em conjunto com família, escola e comunidade.
O que seria Diversidade e Inclusão para você?
É uma caminhada. Respeitar e conviver. Olhar para a pessoa além do que se vê. Ir além dos rótulos da sociedade e da gente mesmo. É olhar pessoas na sua essência.
Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as semanas, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Evane Becker, clique aqui.