Diversidade e Comunicação: Mariana da Rosa e o propósito de um mundo diverso
Jornalista, que assina artigo em Coletiva.net, conversou com Luan Pires nesta sexta-feira
Falando com a Mariana da Rosa percebi como a palavra propósito surge como base para o seu olhar de mundo. Não é à toa. Mariana tem especialização em Gestão de Crises e Marketing Digital, é mestranda em Indústria Criativa, onde pesquisa a diversidade nas organizações, além de trabalhar com Comunicação desde 2010. Junto com Francine Malessa, desde 2021 é sócia da Alteritat - Consultoria de Comunicação e Diversidade, que tem o intuito de ajudar a promover a inclusão nas empresas com apoio de uma equipe multidisciplinar. E essa busca por inclusão, ou pela inclusificação (conceito que as sócias se alinham, que fala sobre a inclusão com olhar para a necessidade de cada um), vem desde cedo.
A pauta da diversidade e inclusão é muito presente pra você. Você sempre sentiu que esse seria um assunto importante na sua trajetória?
Eu lembro de muitas situações de quando eu era mais nova. Na verdade, sempre fui muito questionadora porque nunca me encaixei numa caixinha, principalmente do que era exigido de uma menina: gostar de rosa e todos esses clichês. Então, o assunto sempre foi presente, embora não pensasse exatamente nisso. Quando eu era criança, queria ser jornalista e trabalhar com futebol. Focava nisso. Mas, com o tempo, as coisas começaram a fazer sentido. Eu cheguei a trabalhar com a pauta do futebol na rádio, mas ainda era um universo cheio de dificuldades para as mulheres (pior do que é hoje em dia). Eu era mais nova e, naquela época, não estava disposta a quebrar aquela barreira. Se eu parar pra pensar, nunca quis ser a desbravadora, a que vai quebrar todos os mitos do Jornalismo Esportivo, que vai bater de frente? Eu só queria que fosse algo igualitário.
Essa necessidade, que já surgia naquela época, de alguma maneira, acabou ganhando corpo agora com a empresa?
Isso. Desde 2019 gostaríamos de construir uma empresa sobre diversidade, que é um assunto que sempre nos interessou. A empresa nasceu em abril de 2021 e, de lá para cá, trabalhamos muito em consultoria, letramento, treinamentos, cursos em vários campos e espaços, como escolas e empresas. A empresa está em uma crescente muito positiva até porque a pauta aqui no Estado também tem crescido. Em outros estados brasileiros o assunto já está mais avançado, aqui ainda percebemos uma barreira maior. Fizemos alguns trabalhos em outros locais também. Mas, aqui, foi bem a questão de plantar pra começar a colher.
E o que vocês têm colhido de aprendizado nesse tempo?
A gente percebeu que as grandes empresas, as mais tradicionais, acabam precisando mais que as menores. Ainda vemos muitas lideranças com o mesmo padrão e sem essa percepção de colocar outros grupos identitários em cargos de liderança e/ou de crescimento. Até nessa parte de Recursos Humanos, a gente trabalha com psicólogas parceiras que nos ajudam a levar para as empresas a necessidade de pensar uma área de RH com esse direcional. Agora, estamos na fase de lançamento de um banco de talentos que tem justamente a proposta de aproximar as empresas dos grupos minorizados. Já temos uma primeira versão que estamos validando.
Uma fala da Luana Daltro, neste mesmo espaço, me chamou a atenção e queria saber a sua opinião sobre: ela disse que evita ir em alguns lugares porque o preconceito a atravessa. E não é em todo o momento da vida que estamos dispostos a lidar com a pauta, às vezes a gente só quer viver?
Me convidaram, quando comecei a faculdade e ainda pensava em trabalhar com Jornalismo Esportivo, para escrever em um blog de mulheres que falam de futebol. E eu pensei: não quero falar de futebol do ponto de vista feminino, eu quero falar de futebol, ponto final, independentemente do meu gênero. Então, seguindo nessa mesma linha do preconceito que nos atravessa, em toda a minha vida essa pauta foi barreira para mim: eu sempre fui a menina do futebol. Os amigos faziam piada, perguntavam coisas e isso sempre foi abordado com preconceito. Então, hoje eu quero trabalhar com essas questões, da importância, inclusive, das mulheres estarem em todos os espaços. Isso, afinal, é diversidade.
E aí estamos falando de diversidade e inclusão de fato, né? Hoje em dia se fala muito no assunto, mas se formos olhar com lupa vivemos mais um simbolismo (token) do que é a diversidade do que de fato vivendo-a em sua plenitude.
Sim, isso é muito do conceito da inclusificação. É muito mais que incluir. Não é só trazer a pessoa para dentro da empresa, mas dar espaço para ela crescer e se desenvolver interagindo com todos os temas. O mundo é diverso, mas a gente não enxerga essa diversidade nas empresas.
E o home office pode contribuir ou não pra isso, né? Afinal, tem pessoas que podem fazer, outras não. Ao mesmo tempo que dá oportunidade das empresas terem pessoas de diferentes locais do Brasil, por exemplo.
Sim, olhando pelo lado da estrutura: se a pessoa não tem luz, uma boa cadeira, um local para se concentrar? Isso é uma forma de discriminar também porque algumas pessoas que poderiam trabalhar em home office não conseguem porque não tem esses pontos. Tudo isso ajuda a afastar bons profissionais que, às vezes, não conseguem ou podem se equipar. Por isso, as empresas precisam entender cada colaborador, se faz sentido para ele tal regime. Para um colaborador que tem quatro filhos e não tem silêncio ou espaço em casa, fica difícil trabalhar para uma empresa que só manda ele pra casa sem pensar na estrutura. Se estamos falando de inclusão de talentos, tudo isso precisa ser pensado.
Para finalizar, o que é diversidade e inclusão para você?
O mundo é diverso e esse trabalho que fazemos é um processo. Um processo de caminho até a utopia. Se o mundo é diverso, a gente tem que botar isso em todos os espaços. As pessoas precisam se enxergar. Então diversidade e inclusão, para mim, é esse processo para chegarmos nesse mundo ideal. Para que as empresas sejam tão diversas quanto o mundo é.
Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as semanas, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Mariana da Rosa, clique aqui.