"Dever cumprido": Eduardo Matos se despede da rádio Gaúcha

Em conversa com a reportagem de Coletiva.net, jornalista comentou sobre a decisão e avaliou a atuação na emissora

Eduardo afirmou que levará consigo os amigos que fez e as boas lembranças - Crédito: Reprodução/Facebook

Após pouco mais de duas décadas de casa, o jornalista Eduardo Matos anunciou a saída da rádio Gaúcha no final da tarde desta segunda-feira, 13. Procurado pela reportagem de Coletiva.net, ele contou que, apesar de ter rejeitado diversas propostas para deixar o Grupo RBS ao longo dos anos, sentiu que, desta vez, a "hora chegou". Embora ainda não tenha revelado qual será o próximo destino, o jornalista assegurou que deixa a emissora com a sensação de "dever cumprido".

Eduardo afirmou que levará consigo os amigos que fez e as boas lembranças das últimas duas décadas. Foi enquanto integrante da Gaúcha que viu o filho Vitor, hoje com 15 anos, nascer. "Ele cresceu vendo o pai se dedicar de corpo e alma ao Jornalismo. Sempre entendeu quando o pai precisava viajar e até se arriscar pela profissão", revelou. O jornalista ainda destacou que sempre tentou ser um "bom colega", ajudar quem estava começando e ouvir os mais experientes, pois, para ele, esse equilíbrio é "fundamental".

O profissional acredita que alguns "picaretas" que denunciou em reportagens e acompanhou os processos, "cobrando medidas das autoridades para evitar a impunidade", podem estar felizes com a saída. "Mas a hora deles chegará. Confio na justiça", completou. Eduardo entende que o Grupo RBS é uma "vitrine", mas sempre rejeitou novas oportunidades de trabalho devido ao gosto pelo que fazia na empresa. Contudo, sentiu-se "balançado" por duas propostas recentes.

"Refleti bastante, conversei com amigos confidentes e decidi que aceitaria. Mas para isso precisei me desvincular da empresa para tomar essa decisão sem qualquer tipo de dúvida sobre foco profissional", salientou. Além disso, ele entende que sai do conglomerado midiático no "melhor momento" da carreira. "Encerro esse ciclo com 125 prêmios de Jornalismo. Quero esperar a oficialização do novo destino para poder divulgar a todos que sempre me acompanharam", explicou.

Momentos marcantes

Eduardo elencou algumas coberturas como as mais marcantes que fez. Entre elas está a tragédia da boate Kiss, que acompanhou desde o incêndio até a anulação das condenações, assim como o velório na Arena Condá após o acidente aéreo da Chapecoense, quando ficou horas no ar sob a chuva. "A morte do menino Bernardo, no noroeste do Estado, também foi dolorida. Ver pessoas comendo biscoito de barro no Haiti para matar a fome me chocou bastante", relembrou.

Uma das ocasiões em que o repórter conflitou com o ser humano foi no acidente de ônibus que matou mais de 20 pessoas em São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, no Carnaval de 2011. "Estava ao vivo e um menino, em uma maca, virou para mim e disse: 'Tio, chama meus pais'. Mas os pais dele tinham morrido. Aquilo acabou comigo. Impávido, devolvi ao apresentador e quando saí do ar desabei a chorar", relatou. Narrar, ao vivo, o tiroteio entre bandidos e policiais na região das Ilhas, em Porto Alegre, também é elencado como um momento marcante para si.

Entre as atuações mais recentes, ele cita o trabalho na tragédia de Petrópolis, no Rio de Janeiro, em fevereiro do último ano, quando subiu um morro e viu familiares chorando ao encontrar entes queridos em meio aos escombros. Também cobriu, direto do estúdio, junto dos colegas, os atos antidemocráticos ocorridos em Brasília em 8 de janeiro. "Foi a cobertura que mais fiquei no ar, ininterruptamente. Foram oito horas só com pausas para ir ao banheiro", contou.

No entanto, não são apenas as coberturas tristes e delicadas que Eduardo leva consigo nessa despedida. Ele considerou desafiadoras as entrevistas, algumas de forma exclusiva, que fez com presidentes da República. Também foi responsável pela cobertura dos 50 anos da Disney, em Orlando, nos Estados Unidos. "Tive a honra de poder contribuir com a equipe do esporte na cobertura de uma Copa do Mundo", contou.

Dedicação e empenho

Questionado sobre como avalia a atuação na rádio Gaúcha, Eduardo destacou: "Dedicação e empenho máximo em busca do bom Jornalismo". "Sempre fui obstinado por tentar fazer melhor. Mesmo quando achava que estava boa uma matéria, sempre fui o maior crítico do meu trabalho", justificou. O profissional ainda revelou que até hoje guarda os áudios das primeiras entradas. "Em coberturas grandes, recortava minhas participações para eventuais reportagens especiais, mas, sobretudo, para analisar, anotar erros e fazer melhor na próxima", contou.

"Faça sempre mais do que pedem para você": esse é o conselho que Eduardo dá para quem está começando agora na profissão. O jornalista também considera que ser crítico do próprio trabalho é fundamental para o crescimento. "Também seja organizado para que todo o rico material que você construiu possa ser aproveitado da melhor maneira ali na frente. Vá para uma cobertura já planejando o que você fará com esse conteúdo na volta dela. Mesmo que dê tudo errado nesse planejamento. Mas planeje", defendeu.

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